“Lembre-se que, algumas vezes, o jeito que você pensa sobre a pessoa não é o que ela realmente é” – John Green
Há poucos dias, alguns fan sites postaram uma foto de Shailene Woodley fumando no Instagram. Na legenda estava claramente escrito que a atriz estava gravando uma cena da nova série da HBO ‘Big Little Lies’, em que ela interpreta uma das personagens principais ao lado de Nicole Kidman e Reese Witherspoon.
Seria apenas mais uma fotografia, se não tivessem chovido centenas de comentários de pessoas que não leram a legenda e julgaram que pela foto Shai, que é tão saudável como algumas apontaram, estava fumando. “Como assim? Ela fuma? “, questionavam as pessoas de forma crítica.
Eu confesso que fiquei impressionada com a veemência dos comentários transtornados pelo fato da atriz estar tragando um cigarro. Ninguém aqui está incentivando a prática de fumar, meu ponto é claro, as pessoas julgam sem se dar ao trabalho de ao menos ler a legenda da fotografia. Isso acontece não só com os famosos, embora com eles a educação dos usuários das redes sociais tende a desaparecer completamente, mas no nosso dia a dia também. Entre amigos e com a nossa própria família.
As pessoas se importam cada vez menos com o caráter e com a história e cada vez mais com a imagem e isso e preocupante, pois além de prejudicar as nossas relações interpessoais, este tipo de crítica nos afasta de nós mesmos. É a prova que as pessoas estão focadas em questionar e resolver os problemas alheios e enlouquecem cada vez mais pois não tratam as suas próprias neuroses.
Eu amo e defendo sempre os fãs. Mas acho que há uma linha entre você admirar uma pessoa e dar uma opinião sobre um fato da vida do seu ídolo. Isso é inadmissível e não é problema do fã e nem de ninguém, se Shai fuma, por exemplo, não cabe a nós julgar.
Fiquei pasma, chocada e triste quando li no Instagram de Ian Somerhalder, há 2 anos, o post que ele fez em defesa de sua então namorada, hoje esposa, Nikki Reed. Pobre Ian, que tem coisas tão importantes para se preocupar, não aguentou mais os absurdos que um grupo de pessoas escreveram sobre Nikki, por conta de uma suposta relação dela com Nina Dobrev, ex-namorada do ator. É patético este tipo de comportamento para pessoas de qualquer idade, mesmo adolescentes, e eu acredito que um fã de verdade não agiria de forma tão imatura, e mal educada ao ponto de levar o próprio Ian a se manifestar. Isso é triste e inadmissível. Além do que ninguém sabe o que acontece entre quatro paredes, muitas vezes nós mesmos perdemos as rédeas do nosso próprio namoro ou casamento, quem somos nós para dar pitaco na relação alheia e desrespeitar um ser humano deliberadamente?
O que mais me choca é que a sociedade anda cada vez mais crítica e cada vez mais ignorante. Eu sou fã de carteirinha das redes sociais, mas creio que deu um poder exagerado às pessoas que criticam sem pesquisar, e muitas vezes sem entender o assunto que eles estão falando. Jogam pedras, porque simplesmente ouviram comentários e com preguiça de pensar, ou procurar se aprofundar no assunto, concordam e repetem os julgamentos que escutaram do vizinho, na escola, ou na mesa do bar. Isso é fato, especialmente quando falamos de “Cinquenta Tons de Cinza”.
No final dos anos 90, eu fiz uma viagem à cidade de Amsterdam, na Holanda e fui numa exposição num museu local que mostrava o estilo de vida “BDSM” (“Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo” ) lembro até hoje que me chocou sim, algumas fotos da exibição eram explícitas e eu no auge dos meus 25 anos, numa era pré-internet, nunca tinha tido a chance de ver nada parecido com aquilo e, como toda a primeira vez, foi uma mistura de curiosidade e desconforto. Mas não lembro em nenhum momento ter julgado quem vivia aquele estilo de vida. Da mesma forma que nunca malhei pois não curto academia e não critico meus amigos que são obcecados por exercício físico. Cada um sabe o que te satisfaz.
Mas 20 depois do meu primeiro contato com a prática BDSM, cá fico eu boquiaberta, quando fiz uma promoção para os fãs de “Cinquenta Tons de Cinza” e li as críticas que mais de 100 pessoas que participaram, nos contaram que receberam por curtirem a trilogia. As histórias são escabrosas, como vocês mesmos podem conferir no link abaixo:
O mais interessante, como já mencionei em um post anterior sobre Educação nas redes sociais, é que a maioria das pessoas que julgam a trilogia “Cinquenta Tons de Cinza”, não leram os livros, não assistiram ao filme e desconhecem completamente o estilo de vida “BDSM”, ainda assim se sentem confortáveis em criticar veementemente dizendo que é baixaria pois o “homem bate na mulher”. Na era do Google, onde as pessoas podem pesquisar e aprender gratuitamente sobre qualquer assunto, ser ignorante é uma opção, concordo que alguns assuntos podem não lhe interessar, e se for o caso, ótimo, não precisa mesmo se aprofundar neles, da mesma forma que não deve criticá-los.
O que eu mais amo sobre o século XXI é que as pessoas podem se manifestar livremente, eu cresci na ditadura militar no Brasil e desprezo qualquer tipo de censura. Mas não podemos esquecer que a liberdade traz um senso de responsabilidade gigantesco. Ao falar ou fazer um comentário sobre uma celebridade ou sobre o gosto pessoal de um amigo, familiar ou até desconhecido nas redes sociais, estamos expondo a nossa própria personalidade, estamos compartilhando com o mundo a nossa voz interior. Temos a chance de aprender muitas coisas, trocar e até discordar sim, o que é super saudável, mas conceitos pré-estabelecidos sobre um estilo de vida que você não conhece, opinião sobre um livro, filme que você não viu, ou sobre uma fotografia que você sequer leu a legenda e, pior, sobre o relacionamento amoroso de um casal que e celebridade, mas você não conhece intimamente, são dispensáveis. E lembre-se que comentários sem embasamento hoje em dia podem afetar até sua vida profissional, já que a maioria das empresas sérias antes de contratar andam fazendo pesquisas nos perfis dos candidatos nas redes sociais para conferir sua integridade moral. Ninguém quer trabalhar com uma pessoa sem educação e sem compostura.
Pense nisso antes de escrever seu próximo comentário. E se decidir seguir adiante, especialmente se for sobre a foto ou o perfil de um famoso, lembre-se de John Green, “o jeito que você pensa sobre a pessoa não é o que ela realmente é”.
Fica a dica!
Mais sobre o tema Educação nas Redes Sociais:
Muito bom o texto, muitas vezes a pessoas criticam sem ter base de nada nos casos como o de 50 tons de cinza, mas é uma obra literaria e esta pra ter criticas mesmo. Mas o ridiculo mesmo são fãs que insistem nessa coisa dr “shippar” vida real, as pessoas teimam em não entender que “shippar” alguma coisa é legal em livro/filme/ seriado, vida pessoal é da conta de cada um. Em relação a isso a atriz Ginnifer Goodwin que interpreta a Snow em OUAT deletou seu twitter e Instagram por causa de criticas a sua forma fisica.
Onde eu assino?
Muito digno o seu pobto de vista. Parabéns!
A-mei sei texto! Eu penso exatamente assim e digo mais as pessoas se expoem ao ridiculo quando fazem esses tipos de comentarios,pois além de mostrarem a sua clara falta de educação, também mostram tbm a sua pobreza de espirito…