Um dia contei para uma amiga que mamãe tinha me dito que teve que aprender a ser minha mãe, pois eu pensava e agia de uma forma muito diferente dela e da maioria das pessoas que faziam parte da minha família, até dos meus amigos.
Minha amiga ficou indignada e confessou que se sentiria ofendida se tivesse ouvido isso da mãe dela. Mas, durante a conversa, a gente concluiu que ela ficaria chateada porque os objetivos de vida dela eram semelhantes aos de sua mãe, casar, ter filhos, construir uma carreira de sucesso. Ela entendeu que os meus eram bem diferentes dos da minha mãe. Decidi não ter filhos em agosto de 2000. Sempre soube que não tinha nascido pra casamento tradicional e trabalho pra mim é importante pra pagar as contas, mas minha vocação é colecionar experiências pelo mundo afora. Além disso, embora eu seja muito sociável, eu preciso da solitude como preciso do ar, pra encontrar a minha paz.
Aprecio muito a mamãe ter se disposto a aprender a lidar com as nossas diferenças, ao invés de só me criticar ou exigir que eu fosse uma pessoa que eu não sou.
Tudo que mamãe não queria na vida era uma filha a milhas de distância, mas ela me apoiou, mesmo com o coração partido. E, pra mim isso é amor de fato.
Mas o que acho mais interessante sobre essa passagem da minha vida foi a reação inicial da minha amiga. Tendemos mesmo a criticar pessoas que tem opiniões que são contrárias às nossas. A resposta dela, antes de aprofundarmos nosso papo, foi um reflexo disso. Eu também costumo criticar severamente a opinião, o comportamento e atitudes alheias, muitas vezes, sem ter um contexto mais amplo da situação do próximo. Ainda estou trabalhando para escutar mais, aprender mais, e, por vezes, silenciar diante das diferenças profundas, lembrando que não mudamos ninguém. Confesso que, pra mim, esse não é um processo fácil. Foi isso que mamãe fez comigo e sou quem sou hoje por conta do seu aprendizado e da sua compreensão. Sigo inspirada em traçar assim minha caminhada.