Hoje faz 10 anos que cheguei nos EUA. Naquela época, eu não conhecia ainda a frase de François Rabelais, “Saio em busca de um Grande Talvez. É por isso que estou indo embora”, que resume bem o que vim buscar na terra estrangeira, meu “Grande Talvez”.
Fui apresentada ao poeta em 2014, quando li “Quem é Você, Alasca?” e conheci a obra de John Green, que se tornou um dos meus escritores favoritos. E conheci John graças ao Hollywood é Aqui que, por sinal, nasceu do meu “Grande Talvez”.
Como no livro de John, o personagem Miles deixa sua casa na Flórida e vai estudar em um colégio interno no estado do Alabama, onde conhece Alasca que vai mudar sua vida para sempre. Ao sair da sua zona de conforto, o protagonista vive os melhores, mais poéticos, revolucionários e desafiadores momentos da sua trajetória até então. O brilhante livro escrito antes e depois de seu clímax, mostra como o “Grande Talvez” é um divisor de águas na nossa história, que é pautada por momentos de felicidade, mas também por sofrimento, que é um fator imprescindível no processo de amadurecimento.
Creio que o livro de Green ilustra bem a minha jornada nos últimos 10 anos. Vivi todas as fases, o deslumbre de morar em Beverly Hills e realizar meu sonho de infância e os sonhos do meu coração de fã de entretenimento, enfrentei várias ondas de saudade, que bateram forte e me fizeram questionar, muitas vezes, porque eu tinha tomado a decisão de morar tão longe da minha família, dos meus amigos da vida e da minha Cidade Maravilhosa.
Tive a chance também de colocar em prática toda a minha criatividade, durante meus anos como estudante na UCLA, eu tive o tempo, que não tinha tido antes, de pensar e desenvolver meus projetos, foi assim que o HEA nasceu e com ele eu ganhei tantas oportunidades, que não só coloriram a minha vida no exterior como me trouxeram amigos com sonhos e interesses em comum, que me fazem companhia nas redes sociais até hoje, mesmo estando a milhas de distância.
Coloquei o pé na estrada e explorei vários cantos do país. Um privilégio ter tido a oportunidade de conhecer a “velha” Califórnia de cabo a rabo, desde Cabo San Lucas, passando por La Paz, San Diego, LA, Big Sir, San Francisco, Portland e Seattle e inúmeras, incontáveis cidades mágicas que habitam o mapa entre essas metrópoles. (Lembrando que um dia o estado da Califórnia pertencia ao México e começava na Baja California terminando na fronteira com o Canadá.)
Também estive em Vancouver e retornei a Toronto, para o festival de cinema. Minha paixão por “Dawson’s Creek” e “One Tree Hill” me levou a Wilmington, cidade que serviu de locação das séries, na Carolina do Norte e Christian Grey e Anastasia Steele me levaram a Savannah, na Geórgia. Já as convenções de “The Vampire Diaries” foram a minha razão de conhecer a bela Atlanta. E o ATX Television Festival e o SXSW me trouxeram a Austin, minha nova morada (por enquanto temporária) onde passo esse dia no meu novo trabalho, cercada de pessoas que amam cinema independente tanto quanto eu.
Além disso, me permiti fazer 2 coisas que eu jurava pra mim mesma que nunca faria: tatuagem (hoje tenho 3) e acampar (no deserto e na floresta). Deixei as frescuras e os conceitos préestabelecidos de lado, e não só resolvi sair mas viver, de fato, fora da minha zona de conforto.
Isso tudo, sem contar que estreitei relações com Nova York, minha cidade predileta nos EUA e uma das minhas favoritas no mundo. Estamos mais próximas que nunca e, ainda tenho a impressão, que passaremos muito tempo juntas.
Mas, verdade seja dita, minha última década não foi perfeita. Acredito que tenha vivido os dias mais difíceis da minha existência. Sem dúvidas, os mais introspectivos. Porque, de fato, eu vim pra cá em busca de realizar os sonhos da fã e profissional de entretenimento que eu sou, mas esse foi apenas o agente motivador, depois de alguns anos aqui, eu deixei meu consciente entender as verdadeiras razões que me fizeram mudar para a terra estrangeira. Todas sempre moraram no meu inconsciente e, ao encará-las, fiz uma viagem dentro de mim mesma e, num misto de dor e realização, encontrei a minha paz.
Mas eu não sou uma pessoa que gosta de viver na rotina e, por isso, resolvi chacoalhar a minha vida e vim parar em Austin, onde não conheço ninguém, ainda não tenho casa e estou com um carro alugado. Quem diria que estaria escrevendo o post em celebração aos meus 10 nos EUA, em um quarto em um Airbnb, na capital do Texas. Quando sai do Rio de Janeiro, em 2009, essa não era nem uma possibilidade remota, mas essa é a vantagem de sair em busca do “Grande Talvez”, as surpresas que encontramos no caminho. Foi o que Alasca representou na vida de Miles, e o que espero dos próximos 10 anos, aqui ou em qualquer lugar, que sejam pontuados de pessoas, oportunidades, momentos, filmes, séries, sonhos, surpreendentes e inesquecíveis, como foi a minha última década.