Foi um daqueles dias em que caiu um temporal de verão no Rio de Janeiro. Minha mãe foi me buscar no Holiday on Ice, no Maracanãzinho e, na volta para nosso apartamento, então na rua Professor Gabizo, na Tijuca, nós tivemos que enfrentar o mar que tinha se tornado o Largo da Segunda Feira. Quem conhece a região sabe que é famosa pelas suas enchentes desde os anos 80. Eu devia ter uns 10, 11 anos nesta época. Meu pai tinha ficado em casa com o Diogo, meu irmão, que tinha no máximo 3 aninhos.
Naqueles tempos não existia celular, em compensação, o perigo da violência não nos assombrava, como acontece hoje em dia. Mas a força da natureza sim. O interessante é que foi tudo muito de repente, estava chovendo, eu lembro, mas quando entramos na Rua São Francisco Xavier, nos deparamos com o oceano. Sem ter para onde fugir, mamãe teve que continuar dirigindo, até que a agua começou a entrar no carro e não tínhamos outra opção senão abandonarmos o veículo e seguirmos a pé pra casa.
Ainda lembro que mamãe conseguiu estacioná-lo na calcada. Se não me engano a agua batia na minha coxa. Deixamos o Monza cinza pra trás e mamãe e eu andamos uns 3 quarteirões, embaixo do temporal, olhando para o chão para desviar dos bueiros, rumo a nossa casa. Num dia normal, era uma caminhada rápida e agradável. Aquele dia demoramos o que parecia uma eternidade, mas chegamos em segurança. Encharcadas e sujas encontramos meu pai super preocupado, na janela, contamos aliviadas a nossa aventura e celebramos o final, sem o carro, mas feliz. Para completar a alegria, quando ela e papai voltaram ao local da enchente no dia seguinte, o carro estava lá. Sujo, mas inteiro, prova de um Rio de Janeiro que um dia foi uma cidade tranquila para se viver.
Eu lembro até hoje a tensão que mamãe e eu vivemos naquela noite de verão. Mas eu também lembro que em nenhum momento a minha mãe se desesperou. Eu só posso imaginar o pânico que ela deveria estar sentindo mas, para mim, ela estava preocupada mas tomando todas as atitudes pertinentes para resolver o problema. Foco e fé são palavras que definem muito bem a mamãe que hoje completa 70 anos de vida.
Minha mãe já enfrentou inúmeros desafios em suas décadas de vida, mas sem desespero, graças a sua fé, que transcende as dificuldades. Depois de resolvido o problema, ela sempre lembra das lições aprendidas e do privilégio que temos de ter saúde e capacidade de vencer qualquer batalha quando estamos determinados para tal. Foi assim que ela nos criou, como uma verdadeira heroína, que, como nos filmes, não tem medo de errar, afinal ninguém é perfeito, mas não cansa nunca em fazer o possível para acertar.
Feliz Aniversário, mamãe. Você é nossa SUPER MÃE. Obrigada por ter agido rápido para nos salvar do perrengue que passamos no Largo da Segunda Feira e por nunca cansar de me salvar das furadas que me meti e até das paranoias sem importância. Mais do que tudo, obrigada por nunca desistir de mim, e por me lembrar sempre das bençãos que tenho na vida, sendo a maior delas, ser sua filha!
Que seu novo ano seja repleto de momentos inesquecíveis e cheios de amor, como alguns registrados nesta singela homenagem.
Com muito amor e saudades,
Sua filha.
Manda um abração de feliz aniversário pra sua super mãe!