Por: Carl
Jojo MOYES
Editora INTRÍNSECA
2015
320 páginas
SINOPSE: Há dez anos, Jess Thomas ficou grávida e largou a escola para se casar com Marty. Dois anos atrás, Marty saiu de casa e nunca mais voltou. Fazendo faxinas de manhã e trabalhando como garçonete em um pub à noite, Jess mal ganha o suficiente para sustentar a filha Tanzie e o enteado Nicky, que ela cria há oito anos. Jess está muito preocupada com o sensível Nicky, um adolescente gótico e mal-humorado que vive apanhando dos colegas. Já Tanzie, o pequeno prodígio da matemática, tem outro problema: ela acabou de receber uma generosa bolsa de estudos em uma escola particular, mas Jess não tem condições de pagar a diferença. Sua única esperança é que a menina vença uma Olimpíada de Matemática que será disputada na Escócia. Mas como eles farão para chegar lá? Enquanto isso, um dos clientes de faxina de Jess, o gênio da computação Ed Nicholls, decide se refugiar em sua casa de veraneio por causa de uma denúncia de práticas ilegais envolvendo sua empresa. Entre ele e Jess ocorre o que pode ser chamado de ódio à primeira vista. Mas quando Ed fica bêbado no pub em que Jess trabalha, ela faz questão de deixá-lo em casa, em segurança. Em parte agradecido, mas principalmente para escapar da pressão dos advogados, da ex-mulher e da irmã — que insiste em que ele vá visitar o pai doente —, Ed oferece uma carona a Jess, os filhos e o enorme cão da família até a cidade onde acontecerá o torneio. Começa então uma viagem repleta de enjoos, comida ruim e engarrafamentos. A situação perfeita para o início de uma história de amor entre uma mãe solteira falida e um geek milionário.
Jess tem dois empregos: diarista e balconista em um bar. Tem dois filhos e um cachorro: Tanzie, uma garotinha que é um prodígio em matemática; Nicky, um adolescente que pinta o cabelo de preto, passa rímel no olhos e que, na verdade, nem é seu filho, mas da antiga namorada de seu ex-marido, Marty; e Norman, um cão preto gigantesco que é a criatura mais dócil e porca que eles conhecem.
Ed era um geek na escola que deu certo quando virou adulto. Criou com seu melhor amigo, Ronan, uma empresa de software, que foi parcialmente comprada por um grupo financeiro maior, e que está prestes a ter o valor de suas ações aumentado, devido ao lançamento de um importante software. Mas Ed cometeu um erro ingênuo e acabou passando informações privilegiadas, um crime pelo qual será julgado. Enquanto espera, precisa ficar afastado de sua empresa e de seu apartamento. Fica então em sua casa de praia, na cidade onde Jess vive.
Jess é diarista na casa de Ed. Nunca conversaram. E ela o considera um rico arrogante. De forma casual, os dois, junto com Nicky, Tanzie e Norman, começam uma viagem que poderá colocar a vida dos dois de volta nos trilhos.
Na parte final de UM MAIS UM, existe a seguinte afirmação: “A emergência forte diz que a soma de um número pode ser mais do que suas partes constitutivas.”. A obra de Jojo se enquadra perfeitamente nessa situação, porque você pode encarar o livro de duas formas diferentes: a primeira, o resultado será igual à soma; a segunda, você conseguirá identificar que o resultado é muito mais do que a soma.
Vou tentar explicar.
Um grupo de pessoas com problemas se reúne para fazer uma viagem com o propósito de ajudar uma menina prodígio. No meu caso, a primeira lembrança que surgiu foi do filme Pequena Miss Sunshine. E é incrível como, ao mesmo tempo que é impossível não lembrar desse filme, também é impossível encontrar qualquer semelhança, com exceção para o fato da história ocorrer durante uma viagem. Por esse motivo, você pode considerar que o livro não tem qualquer diferencial, que trata de um tema que já existe, não apenas no filme citado, mas em muitos outros.
Agora, você pode encarar a história de Jess, Ed, Nicky, Tandie e Norman de outra forma. E a primeira coisa para isso ocorrer, é o reconhecimento de como os personagens são bem construídos, tornando-os críveis e apaixonantes. Até Norman, o cachorro.
Jess está no limite. Mal tem dinheiro para viver o dia-a-dia, não tem como matricular Tandie na escola especial, não recebe ajuda do ex-marido, Nicky vive apanhando na escola e ela não consegue fazer isso parar. Ficou grávida aos 16 anos e dedicou os anos seguinte a amar sua filha legítiva e Nicky.
Ed está para perder tudo o que construiu. Seu pai está doente e ele não sabe como dar a notícia de que pode ser preso a qualquer momento. A ex-esposa suga dele tudo o que pode, e sua irmã cobra uma presença perto da família que ele simplesmente não consegue dar agora. Ele está desorientado.
Todos se juntam devido ao acaso e fazem uma viagem para Tandie participar de uma Olimpíada de Matemática, cujo primeiro prêmio pode sanar as dívidas de Jess.
Como todo filme de estrada, situações acontecem, e delas surge a solução para os problemas. Mas é justamente na forma de contar essas situações, nos detalhes de cada uma e nas ações e reações dos personagens, que reside o diferencial de UM MAIS UM para as demais obras de mesmo tema.
Tem uma certa parte do livro que Jess toma uma decisão quanto a Ed. Não tem como ser mais explícito para não estragar o prazer de ler esse trecho, mas o momento é carregado de uma sensualidade tão… tão simples, tão verdadeira, tão real, que emociona. E é dessa mesma forma que quase todas as outras situações são descritas. E eu me vi acreditando que aqueles personagens podiam realmente serem pessoas. E me vi torcendo verdadeiramente por um final feliz.
O livro não é grande, mas nem por isso Jojo deixa de descrever o que importa para o entendimento da história. Ela consegue traduzir com poucas palavras a essência de cada personagem principal. Em duas folhas, após uma conversa, eu já sabia do que Jess era capaz. O mesmo com Ed, Tandie e Nicky. O único que surpreende, é Norman. No fim do livro, ele se mostra e demonstra porque o cão é o melhor amigo de uma pessoa.
Os capítulos são alternados entre os quatro personagens principais: Jess, Ed, Tandie e Nicky. A narrativa não é em primeira pessoa, mas o foco cai em cima de um deles. Eu gosto muito dessa forma de contar uma história. É a minha preferida na verdade. Você não se cansa, porque a todo momento um dos personagens fica em evidência. A importância é dividida por todos.
Por fim, UM MAIS UM não é um livro que marcará a vida de ninguém, nem deixa uma mensagem profunda, ou tem uma história que fará você chorar. E aí você me pergunta: então por quê vou ler? Por que você gostou? É simples como uma conta de um mais um: o que move uma história nem sempre é seu tema ou enredo, e sim seus personagens. São eles quem fazem as coisas acontecerem, que cativam o leitor e pelos quais torcemos. Os quatro protagonistas, e o cachorro, são tão bem construídos que todo o resto passa a ser insignificante. E a capa do livro reflete com perfeição esse meu sentimento.
Olhe para ela.
Não tem nada, a não ser aquilo que importa: Jess, Tandie, Norman, Nicky e Ed.