“Vocé acha que eu queria ser gay? É muito mais fácil ser heterossexual, e ser a pessoa que a sociedade e a sua família esperam que você seja.”
Nunca me esqueci da declaração do meu ex-namorado quando ele saiu do armário e assumiu para o mundo sua homossexualidade há mais de duas décadas.
Acho que por ter passado por esta experiência com ele na juventude, pela maioria dos meus melhores amigos serem gays, por ter amigas fantásticas lésbicas, por ter um outro ex-namorado bissexual, e conhecer intimamente todos as dores e as delícias do universo LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) é que fiquei chocada e com o coração partido quando vi a reação das pessoas à campanha do Dia dos Namorados da marca “O Boticário”.
O mais tenebroso é ler nas redes sociais a argumentação dos críticos, sem nenhum embasamento: “não sou homofóbico, mas não quero que um comercial que dê ideias aos meus filhos.” Como se ser gay, lésbica, bissexual, transgênero fosse moda. Eu sou totalmente a favor da premissa de Mario Quintana que “Cada um Pensa Como Pode”, mas a partir do momento que um ser humano se dispõe a ir para a rua, queimar perfumes, causar uma explosão que quase acaba em tragédia nas ruas de São Paulo, por pura desinformação e preconceito, não consegui me conter se não compartilhar a minha indignação com a situação. Acho que o mínimo que uma pessoa que participa de uma passeata dessas tem que fazer é uma pesquisa antes de sair por aí tomando atitudes baseadas em sua própria ignorância ou ainda pior, na ignorância dos seus líderes religiosos.
Em tempo, sou católica, devotíssima de São Judas Tadeu e frequento uma igreja em Santa Monica (Los Angeles, CA), que fica dentro de uma escola particular, onde a comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) não só é bem-vinda como tem um papel importantíssimo de ajudar os jovens gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros a serem quem são e aos demais jovens heterossexuais a agirem sem preconceito.
Por isso, acho que todo este auê não tem nada haver com a religião em si, porque se você é cristão e já leu a Bíblia pelo menos 1 vez na vida, o mandamento diz: “Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei” não tem NENHUMA restrição de raça, credo, classe social, opção sexual.
Acho sim que todo este movimento serve para distrair as pessoas de seus próprios problemas ou questionamentos porque vamos combinar que é mais fácil criticar a vida alheia do que olhar para dentro de si mesmo e julgar suas próprias atitudes.
Eu não vou dizer para vocês que foi fácil saber que o meu ex-namorado era gay, como também não foi nada divertido lidar com a bissexualidade do meu outro ex. Mas eu agradeço a Deus por ter vivido esta realidade aos 20 anos de idade, eu aprendi na marra sim e se foi difícil pra mim, foi muito mais para eles, que por sinal são pessoas incríveis, que até hoje são amigos próximos e muito queridos.
Alias, graças a eles e que eu saí do “box” e passei a enxergar o mundo e as pessoas de uma forma totalmente diferente, foi nesta época da minha vida que eu aprendi que nem todo mundo pensava e sentia igual, que a realidade não era da família que aparece em um comercial da Doriana, mas muito mais do O Boticário.
Sinceramente, amo a Torre de Babel que é a minha vida. Tenho amigos muçulmanos, que comemoram comigo a Páscoa, assim como eu já estive em seu país na época do Ramadã. Já comemorei meu aniversário num bar de drag queens, adoro bar mitzvah e me emociono em casamentos em qualquer religião entre parceiros de todos os sexos porque é uma celebração do amor entre dois seres humanos.
Conheço celebridades e gente que mora em mansões, ja tomei muito champanhe em restaurante 5 estrelas e muita cerveja de garrafa em botequim. O relacionamento de mais de 1 década que vivi foi com um homem bárbaro, que mora numa comunidade no Rio de Janeiro, de presente de dia dos namorados nunca ganhei joias, mas muitas palavras de incentivo que me tornaram uma pessoa mais segura de mim mesma. Só guardo boas lembranças dos anos que vivemos juntos, e um quadro desenhado por um artista de rua com a minha foto, presente que ele me deu num dia qualquer, porque queria, sem motivo, intempestivamente, como ele, com quem aprendi também a viver intensamente o momento.
Na minha Torre de Babel, tem minha sobrinha linda, e os filhos dos amigos casados, separados, que fizeram produção independente, as crianças que nos forçam com a sua magia e sinceridade a ser uma pessoa melhor. Tenho amigas budistas que enchem meu dia a dia com lindas mensagens do seu mestre. Tenho amigos que são Dominantes e Submissos e têm o estilo de vida BDSM. E como nasci nos anos 70, quando as mulheres queimaram sutiãs para terem o direito de fazer o que quisessem com seu próprio corpo, fiquei bem passada quando ouvi as próprias mulheres do século XXI dizerem que o BDSM é violência doméstica e não é coisa de Deus. Quando na minha opinião não é coisa de Deus julgar o próximo, ainda mais sem procurar se informar antes sobre o tema que você está criticando.
Ainda não tenho amigos transgêneros, mas confesso que sonho em ser BFF de Caitlyn Jenner, que por sinal acho muito mais interessante que Bruce. Ela como muitos transgêneros pensaram, tentaram ou cometeram suicídio. Fico feliz que Caitlyn é uma pessoa pública e que seu exemplo vai direta ou indiretamente salvar muita gente, da mesma forma que Angelina Jolie e Brad Pitt, falando abertamente e sem preconceito que sua filha nascida Shiloh Jolie-Pitt pediu para ser chamada de John, vão ajudar outros pais que passam pela mesma situação. E até onde eu aprendi, na Bíblia ajudar o próximo é sim coisa de Deus.
Não sou perfeita e já julguei e critiquei muita gente na minha vida, aliás, faço isso até hoje, às vezes me perdoo, mas as vezes acho que vou longe demais, faço minha autocrítica, e tento, pelo menos tento, mudar. É um exercício diário, que com a maturidade se torna uma necessidade pois aprendemos a focar em nós mesmos ao invés de crucificar quem esta ao nosso redor.
Na época que meu ex-namorado me disse que era gay, não tinha internet e este assunto ainda era um tabu. Não se falava disso em comerciais, novelas, filmes nem seriados. Aos poucos comecei a ver o mundo mudar pra melhor e abraçar a causa LGTB (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros), mas não sei o que aconteceu nos últimos 5 anos, que contradizendo Cazuza, o tempo parou e a sociedade embarcou num túnel do tempo, retrocedendo décadas. Logo agora que a informação está à disposição de todos gratuitamente, a ignorância passou a tomar conta da massa como nunca aconteceu antes. Acho mesmo é que preciso fazer uma pesquisa mais detalhada para descobrir o que está realmente acontecendo com a raça humana, afinal só assim terei embasamento para escrever um outro post com as minhas conclusões pautadas em fatos não idealismos e achismos.
Mas como hoje é Dia dos Namorados eu quis fazer esta homenagem a estes homens sensacionais que eu tive a felicidade de ter em minha jornada e que me transformam numa pessoa melhor. Eu certamente não teria deixado o meu porto seguro no Brasil e arriscado uma vida no exterior sem tudo que eles me ensinaram sobre o mundo, sobre eles e sobre eu mesma.
Para M,R e D, com todo o meu amor. <3
Feliz Dia dos Namorados com O Boticário:
