The Safe Man: Entrevista com Jack Quaid e o autor Michael Connelly

Por: Raquel Zambon

Quem é fã de audiobooks já deve ter ouvido falar na Audible, plataforma da Amazon que concentra mais de 150 mil títulos e que, agora, está criando projetos originais incríveis!

Na SDCC deste ano, a Audible levou “The Safe Man” para divulgação. Baseada em um conto de terror escrito pelo autor Michael Connelly em 2012, a história segue Brian Holloway, que é contratado pelo escritor Paul Robinette para abrir um antigo cofre em sua casa. O que Brian não sabe é que esse trabalho o levará a algo muito sinistro, que vai impactar o futuro da sua família.

 

 

Ainda que mistérios com toque sobrenatural não sejam a sua preferência, tenho mais um argumento pra te convencer: a leitura de Brian é feita por nosso querido Jack Quaid, que interpreta Hughie em “The Boys”.

 

 

Antes de embarcar nesse original maravilhoso da Audible, confira a íntegra da entrevista que o HEA fez com o próprio Jack e o autor Michael Connelly na SDCC 2024!

 

JACK QUAID

 

Entrevista na íntegra com o ator Jack Quaid

 

Você está tão ocupado. Como decide os projetos que quer?

JQ: Tem que ser um bom projeto, fazer você sentir algo. Tem que ser uma história que eu gostaria de ouvir, ou assistir. Eu acho que tento escolher coisas das quais seria fã.

 

Quais foram alguns dos desafios em gravar para um podcast, para um original Audible, que não temos em “The Boys”?

JQ: É até diferente de animação, quando você tem um personagem que está na tela e a boca dele se mexe quando ele fala. Ali, você tem um personagem representando a sua voz.

Em um audiodrama, você só tem a sua voz, e tudo tem que estar ali. Isso vai parecer estranho, mas eu tenho um pouco de experiência nesse âmbito porque eu produzo esse podcast de “Dungeons & Dragons” que os meus amigos fazem. Da forma com que eles fazem, as conversas não se cruzam, você não ouve as pessoas falando sobre o que vão fazer. Se chama Hero Club e eles meio que empacotam ele como uma peça de rádio. Então, eu também fiz isso fora do âmbito da animação.

Mas esse aqui foi tão legal. Foi muito legal trabalhar com o Michael, com o Titus Welliver. Eu achei que a história era incrível e quis fazer parte dela.

 

 

Sua voz sempre passa uma sensação de conforto, mesmo em situações assustadoras ou especiais. Isso é uma construção dos seus papéis ou é só a forma como você fala?

JQ: Acho que pode ser como eu falo, não sei! É engraçado, porque acho que nunca ouvi alguém descrever minha voz como reconfortante, então, obrigado! Na minha cabeça, eu só sou um cara muito ansioso, então, eu pensava que a minha voz não poderia trazer conforto.

Eu acho que os papéis meio que te encontram… Mas, quando você tem o privilégio de alguém te oferecer alguma coisa, e você acha que não vai combinar com você, eu geralmente recuso. Mas disso eu simplesmente tinha que fazer parte, porque era incrível.

 

Por que você acha que o Brian faz esse tipo de trabalho, ainda que este tipo de habilidade seja o que mandou seu pai embora por todos esses anos?

JQ: Acho que abrir cofres é meio que a maneira dele de fazer dinheiro. Obviamente, ele tem um histórico familiar de crime, mas está tentando se afastar disso. Eu achei que esse era um caminho bem atraente, o fato de que ele balança na direção de dois mundos diferentes. Eu acho que é isso que faz dele um grande personagem, e isso se deve à escrita do Michael.

 

Jack, você parece ter um fraco por personagens que fazem um pouco de bagunça e, depois, tentam consertar tudo.

JQ: É. Às vezes, a bagunça é culpa minha, e às vezes não é!

 

 

Você acha que isso é algo que te atraiu ao Brian?

JQ: Foi isso. Eu gosto do fato de que ele é um cara que está entre dois mundos. Desculpa por continuar me repetindo, mas a história simplesmente era muito boa! Michael é um autor conhecido por suas histórias de crime e eu gostei muito do fato de que essa tinha um lado sobrenatural.

Eu gosto que ele é filho de um ladrão, que está tentando levar uma vida honesta, e ele tem uma namorada… Gosto que está tentando ficar longe disso (seu histórico familiar). Ele vem do crime, e eu amo que o crime está em contraste com uma história de fantasmas.

 

O que mais te conectou a esse projeto, e o que você espera que conecte os ouvintes?

JQ: Acho que eu simplesmente amo uma boa história de fantasmas. Eu já fiz terror, mas nunca fiz terror sobrenatural. Acho que essas histórias são muito eficazes, e eu vi um roteiro incrível ali. Então, eu só espero que a audiência aceite ser levada para essa jornada, com tantas reviravoltas legais.

 

MICHAEL CONNELLY

 

Entrevista na íntegra com autor Michael Connelly

 

MC: Eu nunca fiz algo assim e, por isso, fui com tudo. Eu sou consumidor desse tipo de coisa, sou um cara que ama audiobooks e como esse gênero cresceu para essas adaptações dramáticas

Fiquei muito empolgado com a possibilidade de fazer isso. Então, eu fui com tudo, ainda que esse processo decisório seja muito novo para mim.

Me sinto muito sortudo. Acho estranho comentar, mas eu tive um show de TV que durou por dez anos e eu estava totalmente investido no começo, mas, nos últimos anos, diminuí meu envolvimento porque eu confiava nas pessoas que estavam fazendo aquilo, e sabia que elas fariam um bom trabalho. Eu podia achar algo novo para fazer, como esse projeto.

 

Você tem uma abordagem diferente quando está escrevendo para áudio versus algo que é realmente tangível, quando como alguém segura o livro em suas mãos?

MC: Sabe, eu confio nos leitores e nos ouvintes, seja qual for o consumidor. Então, nos meus livros, eu não faço muita descrição dos personagens. Eu escrevo como eu leio, e eu gosto de criar na minha cabeça a aparência dessa pessoa, ou como é a voz dela.

 

 

Eu fiz isso por 20 anos e, nos últimos 10, tive muita sorte com Hollywood. Eu não precisei dizer como o Harry Bosch se parece porque, agora, tem um show que mostra exatamente como ele é.

E eu percebi que isso é uma coisa arriscada, porque ler e ouvir são processos seguros, mas que demandam que sua imaginação esteja no centro. Uma série de TV ou um filme não exigem isso, tudo está ali para você. Então, eu amo voltar para algo assim e escrever algo em que você confia no leitor, no ouvinte para desafiar a imaginação.

Isso afeta a escrita. Eu sabia, quando estava escrevendo os roteiros, que eu tinha que juntar frases que abrissem uma janela para a imaginação, para que as pessoas pudessem ver.

Você recebe muita ajuda do design de som, que foi fantástico nesse projeto. Isso ajudou muito. Eu escrevi os roteiros, nós achamos os atores e, depois, com a edição, com as camadas e os sons, chegou a dar arrepio em alguns momentos. E eu não estou falando sobre coisas assustadoras… Por exemplo, eu tenho uma filha e o escritor da história tem uma filha. Ela fica frustrada, e a forma como diz “Pai!” é tão parecida com a minha própria experiência. Eu fiquei empolgado em ouvir aquela única palavra da forma com que ela foi entregue. Me sinto muito realizado com esse tipo de storytelling.

 

(spoiler) Falando da história em si, por que Paul enviou a camiseta? Ele queria que a profecia se concretizasse?

MC: Eu não sei se ele queria que a profecia se concretizasse. Do jeito que é construído ali, ele imaginou que nada mais poderia acontecer. Ele não sabia tão claramente quanto o Brian que tínhamos que chegar perto da meia-noite. Eu não acho que ele quis fazer mal a alguém, mas ele cometeu um grande erro.

 

Você mencionou que constrói seus personagens esperando que a audiência preencha as lacunas. Mas, em um original da Audible, você conta com alguém como o Jack Quaid, e muita gente já sabe qual é a aparência dele. Isso alterou algo na adaptação do conto anterior para agora?

MC: Não, acho que não. Eu não sabia quem ele era, mas o Titus trabalhou com ele antes e ele nos ajudou a trazer o Jack para o projeto.

 

 

O fato de que as pessoas sabem quem ele é prejudica o processo, ou conseguir alguém como o Jack Quaid é mais forte do que isso? Eu acho que é.

Eu acho que ele é bem parecido com seu personagem de The Boys, com sua energia frenética. Eu lembro do primeiro dia em que o ouvi na gravação e não pensei que muitas pessoas o conheciam, mas que aquilo era ótimo! Eu achei que isso levaria mais pessoas a ouvirem.

 

Evoluir esses personagens foi algo que você sempre teve em mente? Imaginar novos caminhos para eles?

MC: Sim, acho que sim. Eu sabia que tinha que expandir a história de várias maneiras e, para mim, não havia risco envolvido. Eu escrevi tudo antes de fazermos o processo de seleção do elenco, então, eu tive muita liberdade em escrever.

A história se passa em Tampa, na Flórida, porque a minha esposa é dali. O policial é inspirado em alguém dali. Eu usei como base muitas coisas que conhecia.

A história original surgiu para apoiar um projeto de caridade. Não lembro o nome da instituição, mas eles procuraram vários escritores e pediram para que escrevêssemos algo de um gênero desconhecido para a gente. Eu sou conhecido por histórias de detetive, de legislação e, então, fui para o terror. Também sou conhecido por escrever sobre LA, então, escrevi sobre esse autor da Flórida, onde eu cresci. Usei coisas que conhecia e pessoas que conhecia.

Eu estava tentando destacar os pontos positivos de Tampa e da Flórida. Toda a parte da comunidade espiritual, aquele é um lugar real, no qual estive várias vezes. No meu primeiro emprego em um jornal em 1980, logo que saí da escola, eu fiz uma reportagem sobre essa comunidade. É um lugar que me marcou e que eu sempre quis colocar em uma história. Essa foi a minha oportunidade!

 

Raquel Gonçalves Zambon:
É jornalista de Entretenimento e especialista em Comunicação Interna. Divide seu tempo livre entre o vício incurável por filmes, televisão, livros e as gatas Mia e Mel.

 

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