Sugarcane: Documentário expõe atrocidades cometidas pela igreja católica contra indígenas no Canadá

Em torno de 1800, quando os europeus iniciaram o processo de colonização na América do Norte (EUA e Canadá) juntamente com as missões lideradas pela igreja católica, com o objetivo de catequizar os povos indígenas, os nativos da terra que estavam invadindo, começaram a fundar escolas indígenas em diversas regiões remotas no Canadá e nos EUA, para onde onde crianças e adolescentes eram obrigados a ir. Ao invés de educação escolar, essas crianças e jovens eram escravizadas, violentadas e abusadas sexualmente por padres. Muitas foram mortas também, além de terem sido obrigadas a deixarem suas famílias, seu idioma, sua cultura, foram enclausuradas em uma internato que estava disfarçada de escola, mas era um

 

 

O mais absurdo é que a última dessas escolas fechou apenas em 1997, foram séculos de massacre e extermínio de crianças e adolescentes indígenas. O pior, desse genocídio poucos falam, com esse genocídio poucos se preocupam.

Por isso, “Sugarcane”, que traz depoimentos dos poucos sobreviventes de uma escola indígena na cidade de mesmo nome no Canadá, é um documentário tão importante, relevante e necessário. “Sugarcane” também é um dos favoritos para receber uma indicação ao Oscar e é um dos mais badalados nessa temporada de premiações.

 

 

Pouquíssimas pessoas sobreviveram ao inferno das escolas indígenas. Muitas foram mortas dentro da escola por padres e freiras, outras tiraram a própria vida dentro ou fora da instituição pela dor imensa que sentiam com seus traumas nunca tratados por falta de recursos.

Eu chorei muito quando assisti a esse documentário. Mas, esse é o tipo de projeto que não adianta só a gente se emocionar e se compadecer com o sofrimento do outro. Esse é o tipo de história que precisamos tomar conhecimento, divulgar, conversar com os amigos. Precisamos votar em representantes no governo que criem leis que impeçam que esse massacre se repita e que punam os culpados, mesmo aqueles que já partiram, além de políticas públicas que ajudem na prática aos sobreviventes e suas famílias.

 

 

Eu sou católica e devotíssima de São Judas Tadeu. Estudei em um colégio e uma faculdade católicos, mas isso não me faz aceitar as atrocidades que membros da igreja católica cometeram ao longo dos séculos. Escrever sobre isso e pedir as autoridades no Vaticano que tomem providências severas em relação as culpados é um dever meu, como ser humano e, especialmente, como católica.

O Papa convidou uma das vítimas para participar de uma celebração onde ele, em nome da igreja, se desculpou e se retratou dando a vítima uma medalha em um evento coletivo. O documentário mostra essa cena. Mas, vamos combinar, que isso não é suficiente.

 

 

Em uma das cenas mais tristes do documentário, o senhor indígena que esteve no Vaticano, conta sobre o ciclo de abuso que sua avó, sua mãe e ele sofreram dentro das escolas. Ele é filho de um estupro. O padre violentou a sua mãe, um exame de DNA que ele fez recentemente prova a sua origem indígena e europeia. Mas, ele deu sorte, porque como vimos no doc, muitas crianças frutos de estupro foram mortas pelas freiras e padres que administravam as escolas. Ele sobreviveu e paga o alto preço de seus traumas, inclusive da violência sexual que ele mesmo sofreu de um padre dentro do internato. Um pedido de desculpas, uma homenagem, uma medalha, não bastam. A igreja precisa admitir publicamente e assumir, como instituição, a responsabilidade por deixar essa violência acontecer. O Vaticano precisa recompensar financeiramente suas vítimas. Atitudes assim não vão resolver o problema, mas vão chamar a atenção da imprensa mundial, pois é uma forma de educar a população, para que as pessoas saibam do ocorrido e para que os governos criem leis que protejam os povos indígenas, além de punir os culpados. Sabemos que, desde o início dos tempos, os governos no Canadá e nos EUA, também incentivaram e financiaram a violência contra os povos indígenas. Esse genocídio precisa ser reparado.

 

 

Assista “Sugarcane”, uma produção da National Geographic, que está disponível na Disney + e no Hulu, nos EUA, mas divulgue, promova como puder, indique para os amigos, fale sobre o assunto nas redes sociais. E, se você é católico, questione a igreja e as atitudes desses monstros que cometeram essas atrocidades com crianças e adolescentes só porque eles eram indígenas. A instituição tem que se retratar de verdade para ser coerente ao que prega a própria Bíblia. Muitos culpados já se foram, mas quem ficou tem assumir a responsabilidade. As vítimas precisam disso. Eu, como católica, preciso disso.

Chega de lavagem cerebral. O Vaticano tem o dever moral com os sobreviventes, que vai além de medalhas e um pedido de desculpa. Queremos atitudes, punição para os culpados, retratação financeira para as vítimas cuidarem de sua saúde mental, que está abalada para sempre, mas a dor pode ser aliviada.

 

 

Eu estou aqui para engrossar o coro de aliados aos povos indígenas fazendo o que sei, que é divulgar esse documentário e promover a discussão desse assunto, especialmente porque sou católica, deixo aqui também a minha crítica ao Vaticano e à forma como as autoridades católicas lidam com esse tema até hoje.

Convido vocês para assistir “Sugarcane” e entrar para o time de aliados, independente da sua religião.

 

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Um documentário que revela uma história repleta de traumas e violências coloniais e intergeracionais. Sugarcane conta os pormenores de uma investigação que começou em 2021, após túmulos sem identificação serem descobertos no terreno de uma antiga escola residencial indígena canadense controlada por uma igreja católica perto da reserva de Sugarcane. Por trás dessas sepulturas, um histórico doloroso de abusos, desaparecimentos e apagamento cultural é revelado. As crianças indígenas que sobreviveram, agora idosos, buscam reparações e um espaço para contar suas histórias, dando luz às consequências psicológicas e emocionais que persistiram por gerações a fio. Sugarcane acompanha um relato forte e poderoso de uma comunidade tradicional que resolve enfrentar sua dor e seu silêncio, reclamando sua verdade e humanidade de volta e exigindo que os culpados dos mais altos escalões do catolicismo sejam responsabilizados. Fonte: https://www.adorocinema.com/filmes/filme-325397/

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Trailer:

 

Para quem busca uma série excepciona escrita, dirigida, produzida por indígenas, corre pra conferir Reservation Dogs. Foi eleita pelos críticos uma das melhores séries do seculo até agora. Na terceira temporada, tem um episódio dedicado às escolas indígenas que é imperdível:

 

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