Sing Sing retrata projeto real de artes que transforma vidas no sistema carcerário americano

Depois de 10 dias de férias no Brasil e longe das redes sociais, eu aterrizo em LA e vou do aeroporto praticamente direto para uma sessão privada do filme “Sing Sing”, estrelado por um elenco sensacional, liderado pelo meu favorito Colman Domingo. Um baita presente de boas-vindas à Cidade dos Anjos. Grata ao Film Independent e a produtora A24 pelo convite para conferir em primeira mão essa obra fantástica.

 

 

Em Sing Sing, Divine G (Colman Domingo) está preso por um crime que não cometeu, e encontra propósito atuando em um grupo de teatro com outros homens encarcerados. Quando um estranho cauteloso se junta ao grupo, os homens decidem encenar a sua primeira comédia original, nesta comovente história real de resiliência, humanidade e o poder transformador da arte, estrelada por um elenco inesquecível de atores que estiveram encarcerados.

 

 

Sou muito fã do Colman, mas devo dizer que esse foi o trabalho dele que mais me emocionou. Sua atuação, assim como a performance de todos os atores, deu a um roteiro, já espetacular, uma profundidade mágica. Esse filme é um daqueles que deixa uma marca especial na vida dos cinéfilos.

 

 

Eu, que já fiz teatro, sempre achei o processo terapêutico, mas, dentro das circunstâncias apresentadas no filme, é também libertador. Experimentar a liberdade da alma através da arte, em uma prisão, é a proposta desse projeto. Os exercícios onde os atores (alguns interpretando eles mesmos) compartilham momentos marcantes de seu trajetória me levaram a pensar nos momentos marcantes da minha jornada. Cai em prantos assistindo algumas cenas e me identifiquei tanto com os personagens que até senti saudades das minhas aulas de teatro. Eu nunca tive a intenção de trabalhar como atriz, não é a minha vocação, mas os exercícios eram, de fato, libertadores e o palco funcionou como uma terapia pra mim em um momento em que minha saúde mental estava abalada.

 

 

Outro ponto marcante, que também é uma das características do teatro, é a importância do trabalho coletivo. O grupo se reúne e escreve o roteiro junto, ensaia, atua e toma as decisões de produção coletivamente, sob o comando de um diretor comprometido a trazer o melhor de cada um. E, nessa jornada, o vilão não é uma pessoa, mas o sistema judicial.

Nos EUA, a cada 20 condenações, 1 pessoa inocente é encarcerada, resultando em centenas de encarcerados(a) inocentes, sendo a maioria homens pretos, latinos, muçulmanos e membros da comunidade LGBTQIA+. A forma como esse tema é abordado no filme é uma aula de como o cinema pode educar a população, especialmente quando mostra o impacto positivo e transformador do projeto “Reabilitação Através das Artes”, na trajetória dos encarcerados. Esse projeto existe e eu conheci graças ao filme. Daí outra grande função do entretenimento, nos informar sobre as políticas públicas, cada vez mais raras e mais importantes em nossa sociedade.

 

 

“Sing Sing” é baseado em histórias reais e a gente sente a verdade ao ver o filme. Um fato interessante sobre esse projeto é modelo de produção do filme, que promete ser uma nova tendência na indústria do cinema independente em Hollywood. Todos os membros do elenco e equipe ganharam o mesmo salário fixo, desde o protagonista, passando pelo diretor, todos os atores e integrantes das equipes, até os assistentes de produção. E todos também receberam equity, ou seja, um bônus cujo valor varia de acordo com a sua função no projeto. A grande vantagem desse modelo é que o trabalho no set se torna mais colaborativo, democrático e inclusivo. Destrói a hierarquia do set, onde os produtores, o elenco principal e o diretor geralmente ditam todas as decisões, e todos passam a ter voz ativa no dia a dia da produção.

 

 

Talvez, não por coincidência, esse modelo seja uma reprodução do que acontece no próprio filme, com a criação coletiva do espetáculo de teatro no presídio.

Eu vou guardar “Sing Sing” no coração por muitas razões, especialmente por ressignificar a maneira como são retratados os encarcerados e o ambiente penitenciário.

Na telona eu vi seres humanos lidando com seus erros, vi um grupo de amigos, vi arte, vi talento, senti emoção e entendi o real significado da palavra liberdade.

Minha chegada a LA, praticamente direto pra screening, me lembrou o que mais amo em Hollywood, a possibilidade de assistir aos filmes independentes na telona. E esse filme é belíssimo! Imperdível!

 

Trailer:

 

Saiba mais sobre o projeto
Reabilitação Através das Artes:

 

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