Alguns amigos viciados em séries como eu costumam me dizer que preferem seriados leves, comédia, drama, romance, policial, médico, programas que emocionam, fazem gargalhar, até refletem a realidade aqui e ali, às vezes provocando lágrimas, mas shows que não exigem muita reflexão, afinal depois de um dia estressante de trabalho ou estudo, tudo que eles querem é sentar em frente à TV e relaxar.
Já eu intercalo os dois momentos. Sim, tem dias que tudo que preciso é ver uma série que me faça esquecer da correria da rotina e viajar no mundo da imaginação, mas tem horas que preciso aprender algo mais profundo com o que assisto e aí entram os seriados pra pensar como “Black Mirror”, “Sense8” e “The Fall”. Coincidência ou não, três projetos exibidos pelo Netflix.
Pra mim, é impossível terminar de assistir aos episódios dessas séries, e desligar completamente. No melhor sentido, esses shows me ajudam a repensar a minha própria realidade.
BLACK MIRROR
“Black Mirror”, série britânica lançada em 2011, que passou a fazer parte do catálogo do Netflix ano passado, mexeu comigo profundamente, já que aborda um tema que nós todos conhecemos muito bem: as redes sociais, ou melhor a nossa relação com a tecnologia. A sociedade do século XXI que é marcada pela superexposição e as consequências que isso traz para o nosso dia a dia.
Assisti as três temporadas de Black Mirror em apenas um dia. Estou estarrecida até agora. Acho válido os ávidos usuários das redes sociais conferirem este seriado. Com toda a licença poética do roteiro, acho que aprendemos boas lições, especialmente em relação ao excesso de postagens sobre a nossa rotina, onde estamos, como estamos, com quem estamos, o que nos torna quase um escravo de curtidas, dos comentários e da aceitação dos outros, afetando até mesmo nossa auto estima. A forma como “Black Mirror” aborda essas questões é genial. Cada episódio é uma história diferente, num futuro diferente, mas o que todos eles têm em comum é que parecem assustadoramente próximos, quase um reflexo da nossa realidade.
SENSE8
“Sense8” é outra série que me fez pensar sobre o rumo careta que o mundo está tomando, sobre os preconceitos raciais, e em relação à sexualidade, sobre a culpa que carregamos muitas vezes sem necessidade, sobre como nós, seres humanos, somos mesmo todos iguais, independente do idioma que falamos, da cor da nossa pele e até do fato de sermos homens, mulheres, transgêneros, gays ou heteros, ricos ou pobres. A série, original do Netflix, tem uma produção caprichada, rodada em várias partes diferentes do mundo, transgrediu vários padrões, tanto na primeira temporada, como no episódio especial de Natal, com 2 horas de duração, lançado há 2 semanas. A série mostra cenas de uma orgia poly sexual, nunca antes mostrada num projeto semelhante.
Cada episódio de “Sense8” se parece com um filme. O roteiro é complexo, são 8 protagonistas em diferentes partes do mundo, que num instante têm suas mentes conectadas, mesclando suas vidas, revelando seus segredos e o perigo que o grupo corre. É uma daquelas séries que você tem que sentar e prestar atenção em cada detalhe, como no cinema mesmo. Mas cada segundo vale a pena.
O episódio de Natal é uma obra-prima, assim como a primeira temporada. Vale ver e rever, enquanto espera pela estreia dos 10 novos episódios, dia 5 de maio. Vai por mim, é inesquecível.
THE FALL
Não sei explicar o porquê, mas a mente de um psicopata me intriga profundamente. Tanto que um dos meus livros prediletos foi “Precisamos Falar Sobre Kevin”, se você é do meu time, e ainda não leu, vale a pena. Mas, confesso que comecei a assistir “The Fall” por conta de Mr. Grey. Explico, Jamie Dornan, interprete de Christian Grey, em “Cinquenta Tons De Cinza”, é o protagonista desta série, produção irlandesa (terra natal de Jamie) original do Netflix, e foi por conta disso que fiquei curiosa para assistir ao seriado.
Eu não tinha nenhuma dúvida que Jamie era bom ator, mas realmente depois de vê-lo como Paul Spector, percebi a capacidade que Dornan tem de conquistar uma audiência não só pela sua sensualidade, mas pelo seu puro talento. Na série Paul e um pai de família, classe média, que na calada da noite estupra e mata jovens mulheres. As cenas são intensas e as ações de Paul são repugnantes, mas de alguma forma, este psicopata seduz não só ao público, como a a Detetive Superintendente Stella Gibson (Gillian Anderson). Ela é trazida para auxiliar a Polícia Metropolitana de Londres, quando um assassinato em Belfast torna-se arquivo morto. E durante esta investigação os caminhos de Stella e Paul vão se cruzar.
Lembro de ter assistido as duas primeiras temporadas de “The Fall” em dois dias, e a terceira também me prendeu em casa 24 horas. A série chegou ao fim, e não decepcionou em nenhum momento. Vale conferir pelo brilhantismo das performances, o realismo do roteiro e o lado humano que até um psicopata assassino tem e que revela muito de sua intrigante e, até interessante, personalidade. Tudo isso, pontuado pelos olhos belos (e neste caso) assustadores de Christian Grey. Imperdível.