Eu tinha um “squad” quando era mais jovem. Chamava-se “Mulheres De Quinta” e as integrantes são minhas melhores amigas até hoje. Nos conhecemos na faculdade e, durante muitos meses nos anos de 2003 a 2005, nos reuníamos às quintas no Braseiro, um bar badalado no Rio de Janeiro onde morávamos.
Não éramos perfeitas, nem milionárias e muito menos famosas. Mas nossa amizade nos permitia compartilhar lágrimas, sorrisos, problemas no trabalho, com namorado e com a família. Chopes, maços de cigarros, fofoquinhas divertidas do dia a dias, alegrias na vida pessoal e profissional, conquistas, perrengues, viagens, sonhos. Temos personalidades bem diferentes, e com isso brigamos e discordamos muitas, inúmeras vezes, mas nada que ferisse o respeito e o carinho que temos umas pelas outras. Com a vida agitada, os encontros regulares pararam de acontecer, mas ainda somos parceiras e próximas, mesmo eu morando milhas e milhas de distância delas hoje em dia.
Nós nunca levantamos bandeira de nada, nem em prol do feminismo, até porque todas nós nascemos na “pós revolução sexual”, fomos educadas por Madonna e as nossas próprias atitudes em relação a nós mesmas, aos homens, ao mundo, já mostravam o quê e como pensávamos a vida. Criadas por mães conservadoras, creio que posso falar pelas meninas, que quebramos muitos tabus, nem todos os quais gostaríamos, mas o Rio de Janeiro era pequeno pra gente e pra tudo que vivemos na Cidade Maravilhosa. A gente nunca falou muito, a gente fez. Numa era pré redes sociais, todas as aventuras estão guardadas na nossa memória (graças a Deus!), alguns registros certamente seriam escandalosos. Mas obviamente, uma coisa a gente tinha em comum, apesar de discordarmos e quebrarmos o pau nos bares da cidade, a gente sempre foi honesta e respeitou as nossas diferentes opiniões. Se não fosse por isso, nossa amizade não teria sobrevivido até hoje.
Claro que tínhamos (e temos) outras várias incríveis amigas que tinham um estilo de vida diferente da gente, e tinha gente também que não gostava da gente, mas de novo, cada um pensa como pode, e isso não era motivo para odiarmos ou desrespeitarmos ninguém. Quem não combinava com a gente estava fora, sem ressentimentos de nenhuma das partes, e quem não compartilhava com nossas ideias e madrugadas, seguia a sua vida, junto com seus iguais.
O que me assusta na era digital é o ódio que um comentário pode desencadear em uma legião de pessoas que não se intimidam em partir com tudo para as redes sociais e esculhambar um ser humano por algo que ele tenha dito publicamente e que desagrada aquela fatia da população.
Lógico que nunca vou comparar meu “squad” com o da Taylor Swift, primeiro porque não éramos celebridades, segundo porque eu não faria parte do “squad” da Taylor, não é o meu numero (e nem seria convidada também, por conta da minha idade e também porque não me encaixo com a ideologia), mas isso não tem problema nenhum, cada um tem o squad que quiser e faz dele o que bem entender.
Agora o que não pode é uma outra pessoa famosa, como a Demi Lovato, quando perguntada em uma entrevista (ela não saiu falando aleatoriamente mal do “squad” dos outros) sobre o que achava especificamente do grupo de amigas da Taylor, e dar a opinião sincera dela, sem melindres (o que é comum entre os famosos, vamos ter cuidado com o que falamos, melhor mentir do que dar a cara a tapa….) e ser detonada nas redes sociais com uma energia pesada de dar medo. No momento que a matéria saiu no mundo digital, o ódio pela Demi tomou conta do twitter, facebook, instagram, dos blogs, sites, e as brigas entre a acusação e a defesa começaram como num ringue, as pessoas ferindo a moral uma das outras sem o menor escrúpulo. Fiquei aterrorizada com as coisas que vi!
Por isso, se você chegou até aqui, por favor, veja bem que o objetivo deste post não é acusar ou defender ninguém. Mas sim questionar o comportamento dos usuários das redes sociais. Muitos, por serem fãs, acham que têm o direito de falar o que quiserem sem levar em consideração que são seres humanos que estão lendo o que ele raivosamente escreveu. Discordar sim, sempre, eu que nasci na ditadura militar no Brasil, sou super fã da liberdade de expressão e encorajo todos a se expressarem. Não concorda com o que a Demi disse sobre o “squad” da Taylor, beleza, demonstre sim a sua opinião, mas por favor com educação, né?! Até porque tudo tem um limite, pois se você faz um comentário pesado, mal educado, você perde a razão e o direito de argumentar.
Eu sei que pareço uma coroa chata, que fica dando lição de moral e escrevendo volta e meia sobre educação nas redes sociais, mas é que eu fico muito passada com os absurdos que leio. Não só escritos por jovens e adolescentes não, e não só sobre entretenimento, em relação à política, religião, até a própria família e a cidade onde moram. As redes sociais viraram o muro das lamentações, sem filtro, sem classe, virou um esgoto aberto onde milhões de pessoas passaram a depositar ali o seu pior. Isso é triste, pois são ferramentas tão importantes e poderosas. Sem contar que são super úteis quando bem utilizadas.
Mas, sinceramente eu acredito que conhecemos uma pessoa, o seu caráter e seu potencial, quando lidamos nas nossas diferenças, porque quando todo mundo concorda é fácil, né!? Vamos combinar. Na discordância é que vemos se aquela pessoa tem potencial profissional de lidar com os desafios do dia a dia de um ambiente de trabalho estressante e, mais importante, é discordando que sabemos se uma amizade vai ou não durar.
Meu “squad” está firme e forte, apesar de todas as diferenças, há 25 anos. Acho que isso diz muito da educação que recebemos e da nossa trajetória neste planeta. E não é à toa que as empresas estão verificando as redes sociais dos candidatos a uma vaga de emprego, antes da contratação, no Brasil e, especialmente, nos EUA.
Pense nisso, antes de ofender alguém nas redes sociais, seu comentário estará registrado pra sempre nos servidores do Twitter, facebook, instagram e podem impactar na sua vida profissional, mas pior é deixar uma marca negativa na vida de alguém que você nem conhece. A energia que você dá é aquela que você vai receber de voltar. Se cuide e se proteja melhor. Se não pela outra pessoa, por você mesmo. Fica a dica!