Produzido pelos Obama, o longa Rustin busca corrigir apagamento histórico de ativista americano

Colman Domingo não é só um super talentoso ator, mas uma pessoa sensacional. Posso atestar isso pois eu entrevistei Colman tantas vezes para o Fear The Walking Dead Brasil, que ele chegou a dizer que parecia que estávamos namorando, de tanto que nos encontráva-mos. Ele é divertido e super querido, atencioso.

Tive o prazer de revê-lo no painel de seu novo filme “Rustin,” no evento Deadline Contenders, em LA.

Parece mentira mas em “Rustin”, Colman interpreta pela primeira vez um protagonista em mais de 30 anos de carreira, “pois é, foi uma longa jornada até aqui, mas me sinto muito honrado em interpretar um personagem tão importante que foi apagado da história estadunidense por ser gay”, disse o ator, que no filme é Bayard Rustin, um carismático ativista do movimento dos direitos civis, que superou uma série de obstáculos e alterou o curso da história dos EUA ao organizar a Marcha de 1963, em Washington, que reuniu 250.000 pessoas em um protesto pacífico na luta pela igualdade dos cidadãos pretos no país. Foi a passeata com o maior número de participantes até hoje.

 

 

O filme foi produzido por Barack e Michelle Obama e Colman compartilhou como foi sua primeira reunião via Zoom com o ex presidente e a ex primeira dama dos EUA, “o elenco estava todo reunido, a direção, e os cabeças da equipe. Foi durante a pandemia e, admito, estávamos todos ansiosos e meio tensos, porque além de serem nossos chefes na produção, a gente estava diante de uma autoridade, mas ele foi super tranquilo – imitando a voz do Obama – Eu quero que vocês cuidem da saúde acima de tudo. Quero que vocês cuidem uns dos outros também. Sabemos porque estamos fazendo esse filme – e eu só respondi, com certeza senhor presidente (risos)“.

Durante seu governo, Barack Obama prestou uma homenagem póstuma a Bayard Rustin, que faleceu em 1987, honrando o ativista com a medalha presidencial da liberdade pra corrigir a gafe preconceituosa do governo Kennedy, que convidou todos os líderes do movimento de Direitos Civis, liderados por Martin Luther King, para uma reunião na Casa Branca, com exceção de Rustin (porque eles não aceitavam homossexuais revolucionários), que foi o ativista que teve a ideia e organizou a passeata.

Colman comentou sobre a ausência de Rustin nos livros de história, “eu questionei toda a minha formação porque não sabia nada sobre ele. Isso me fez perceber que preciso questionar o tempo todo, a história que nos é contada. Por isso, acho tão importante apresentar ao grande público não só o Rustin, mas pessoas como Ella Baker e A. Philip Randolph, que foram importantíssimos no movimento, e também não aparecem na história, eu só conheci graças a esse trabalho.”

O compositor do filme, Branford Marsalis, também participou do painel e falou sobre a escolha da trilha sonora que, por sinal, é incrível, uma combinação de bandas famosas, pequenos grupos, orquestra e uma canção elisabetana (com letra de Sting) para a trilha sonora da peça de época do filme. “Para mim, não é uma história preta. É uma história humana onde os pretos estão presentes. Não é um daqueles filmes que vira um documentário pesado. É uma história edificante. As pessoas vão aprender sobre Bayard da mesma forma que aprendemos muitas coisas através dos filmes”.

Colman concorda e reflete sobre esse trabalho marcante em sua carreira, “é uma oportunidade de inspirar as pessoas a sentirem que nem tudo está perdido. Assistimos ao noticiário todos os dias. Estamos vivendo tempos muito sombrios e dolorosos. Rustin é um toque de esperança. Mostra que pessoas comuns podem fazer coisas extraordinárias. Seja gentil, generoso, forme coalizões. As pessoas que organizaram a Marcha em Washington tinham 19 anos. Eles não eram homens velhos e enfadonhos. Foi isso que Rustin fez. Esse é o espírito com que conduzi este filme”.

Particularmente, eu acho que Colman Domingo deve ser indicado e levar o Oscar por sua atuação, que é emocionante, sincera, divertida e humana. A história de Rustin é de fato inspiradora, mas Domingo está melhor que o filme em si. Ele deu um show na tela tão grande como ele é um show de ser humano.

Imperdível conferir “Rustin,” que conta com um um elenco de estrelas, incluindo Chris Rock, Glynn Turman, Jeffrey Wright e Audra McDonald e já está disponível na Netflix pelo mundo afora.

 

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