Por: Claudia Ciuffo
Quando eu li a carta assinada pelas mulheres do elenco e equipe de “One Tree Hill”, uma das minhas séries do coração, acusando o produtor e criador Mark Schawn de abuso sexual, a primeira coisa que me veio à cabeça foi aquele ditado popular: “coração dos outros é terra que ninguém pisa”. E fiquei refletindo algumas horas como é possível a mesma mente que durante 9 anos escrevia mensagens positivas encorajando os fãs de OTH a “nunca desistirem dos seus sonhos”, e afirmando que “alguém me disse que este é o lugar onde tudo é melhor e mais seguro” fosse capaz de causar um terror entre as jovens atrizes, roteiristas e membros da equipe do seriado.
Porém, em nenhuma fração de segundos eu duvidei da veracidade do depoimento das meninas. Não só por este comportamento abusivo ser comum entre os “poderosos” em Hollywood, mas é um comportamento comum desde os primórdios da sociedade machista em qualquer indústria, em qualquer lugar do mundo.
Agora ainda mais asquerosa que a descrição da realidade vivida pelas meninas em OTH, e corroborada por Alex Park e todo o elenco de “The Royals”, série criada e produzida por Schawn, que continuou aproveitando da sua posição do poder para abusar das jovens em seu novo show, são os comentários de alguns que li na internet sobre o assunto.
Coisas do tipo, “por que não falaram antes? Elas querem dar um impulso em suas carreiras, chamar atenção”, ou mesmo, “essa geração de mulheres é muito sensível, se aborrece por qualquer besteira” Verdade seja dita, uma das vítimas de estupro do produtor Harvey Weinstein foi à polícia e fez um boletim de ocorrência sobre a situação, e sabe o que aconteceu há 10 anos? NADA! O caso foi arquivado.
O que você acha que aconteceria com um grupo de jovens atrizes escrevendo este relato em 2006? Seriam ignoradas e provavelmente demitidas e não iam trabalhar nunca mais no entretenimento. Então, não é que elas não falaram isso antes, até porque TODO mundo sabia, mas ninguém fez ou faria nada sobre o assunto. O “Deus” dono do seriado estava acima do bem e do mal.
Outra questão é que uma pessoa pode até ser mais sensível, ou como alguns dizem “cheia de frescura”, mas como me disse uma amiga ontem, quando alguém faz uma piada sobre você e todo mundo ri, inclusive você, não é bullying, nem abuso, se está todo mundo no mesmo barco, tudo bem. Mas se todo mundo ri, MENOS você, aí o negócio muda de figura. Um comportamento passa a ser abusivo, seja ele qual for, quando uma das pessoas está desconfortável. Isso não é uma questão de geração, nem de mulher ou homem, é uma questão de humanidade.
Como já disse várias vezes, a internet deu a oportunidade das pessoas manifestarem suas opiniões democraticamente. Eu acho isso sensacional, mas acho também que antes de abrir a boca (ou digitar no teclado) seus comentários, você tem que lembrar que sabe muito pouco, ou quase nada, do assunto pois não esta na pele da pessoa. Se vai julgá-la, tem que, no mínimo, se colocar no lugar dela e ainda assim é perigoso dizer qualquer coisa sem um argumento fundamentado. Por isso cuidado, pois a maioria das vezes, como diz minha tia, calados já estamos errados.
Agora voltando ao ponto principal, eu lamento profundamente que as meninas da equipe e do elenco de “One Tree Hill” e “The Royals” tenham vivido durante anos essa situação abusiva, mas não foram só elas, uma das melhores descrições da situação foi postada por David Hadelman, que trabalhou como roteirista de OTH na sexta temporada. No link abaixo ele descreve a dificuldade de trabalhar com Mark Schawn, que era centralizador e egocêntrico.
E para aqueles que gostam de continuar culpando as meninas pelo exagero de seus desabafos, melhor pensar direitinho antes de abrir a boca, porque você pode descobrir que tem mais coisas em comum com Mark Schawn que imagina:
Seguem a carta publicada pelo elenco de “One Tree Hill” e “The Royals” na Variety e o depoimento de Alexandra Park, no Twitter.
http://variety.com/2017/tv/news/one-tree-hill-3-1202614198/
http://variety.com/2017/tv/news/the-royals-mark-schwahn-3-1202616714/