Muitos cientistas afirmam que comer é uma experiência multissensorial. Não só nosso paladar fica aguçado ao saborearmos um alimento como a sua aparência (visão), a sua textura (tato), seu cheiro (olfato) e o som do ambiente (audição) influenciam na forma como vivenciamos o momento da nossa refeição.
Se valendo dessa sabedoria, o restaurante Ichiran, em Nova York, proporciona ao clientes um almoço ou jantar inesquecível.
Sua especialidade é o Tonkotsu Ramen, uma das comidas típicas da região de Hakata, no Japão, onde o movimento nasceu.
O prato é uma sopa de noodles, que pode ser servido com caldo de porco, legumes ou peixe. Mas o restaurante, que oferece apenas este prato que pode ser customizado pelo cliente, inovou em 5 categorias, levando em consideração a experiência multissensorial de seus clientes:
1 – O molho apimentado:
Eles usam várias especiarias como base para prepará-lo e o colocam concentrado no centro do prato. Nas dicas, que você encontra quando senta na cabine, eles sugerem que você misture o tempero aos poucos, enquanto saboreia o caldo. Eu que não sou muito fã de pimenta, estava apreensiva. Mas segui à risca as instruções e me surpreendi positivamente. Realmente adiciona um gostinho ainda mais especial à deliciosa sopa.
2 – O odor:
A sopa tradicional do Ramen é feita do osso do porco (você pode escolher outro caldo, caso não coma carne), o que, geralmente, tem um odor fortíssimo, não agradável. Mas no local, eles se valeram da tecnologia para preparar o prato com um aroma super agradável. Só de sentir o cheirinho já abre o apetite.
3 – A cabine individual:
Confesso que essa foi a minha parte predileta. Os cientistas já afirmam que fazer as refeições em lugares barulhentos influencia negativamente no nosso prazer em degusta-las. Se valendo deste fato, o restaurante criou cabines individuais, onde você pode curtir seu prato em silêncio e com a paz que a experiência merece. Há um aviso pedindo para não desligar o celular e evitar qualquer tipo de barulho. O seu Tonkotsu Ramen e você merecem um momento só de vocês. Eu, que tenho problemas com barulho especialmente aqueles que algumas pessoas fazem comendo, surtei de felicidade e curti cada segundo dessa magnífica refeição sozinha, calada, e sem ser incomodada por pessoas berrando ou assobiando ao tomarem sopa. Uma verdadeira benção.
4 – O formulário de customização:
Eu pedi o prato da casa, à base de porco, sugerido pelo restaurante, pois queria aproveitar a experiência completa. Mas a opção de criar o seu próprio prato deixa o cliente, especialmente aqueles que não comem certos ingredientes, à vontade para experimentarem o Ramen dos seus sonhos.
5 – O sistema de atendimento:
Se você não quiser falar com o garçom, que vai lhe atender atrás da janela na sua cabine, você pode solicitar mudanças no seu pedido, assim como a sua conta, com o “Kae-Dama”, um recipiente disponível na mesa, que tem um chip. Você o coloca em cima do sensor e uma música vai tocar do outro lado da parede para avisar ao garçom, que virá lhe atender prontamente.
O mais interessante é que nós não vemos o rosto da pessoa que nos atente e, se quisermos, também não vamos ouvir a sua voz. Tudo isso foi feito pra que o cliente tenha uma experiência única apenas com a degustação de seu prato.
Uma outra prática que me chamou a atenção é que seu prato não leva mais de 15 segundos para ser servido. Mais uma regra do estabelecimento, que quer que o cliente experimente o Tonkotsu Ramen sem nenhuma alteração no seu sabor e este é o tempo máximo de preservá-la entre o “fogão “ e a primeira colherada.
Eu fui parar no Ichiran completamente sem querer. Estava chovendo e eu tinha que fazer uma hora para ir a uma reunião. Como era horário de almoço, eu olhei pro lado e vi o restaurante que foi eleito, tanto nos EUA, como no Japão, o melhor do mundo na sua especialidade. Fiquei curiosa quando vi a vitrine que exibia seus prêmios, não titubeei e entrei. Ali, de surpresa, numa sexta-feira cinzenta, vivi uma das melhores experiências gastronômicas da minha vida.
Eu adoro carne de porco, por isso o prato original foi o ideal. Para acompanhar pedi uma cerveja de chá verde, outra especialidade da casa. Mas o que achei mais interessante foi que de entrada, eles nos oferecem um ovo cozinho ainda com casca. Ele vem com instruções de como devemos descascá-lo e ainda um lenço umedecido para limparmos a mão. Segundo o chef, o ovo cozido prepara nosso paladar para receber o Tonkotsu Ramen. A água é gratuita, o copo está na mesa e o filtro atrás da sua cabine, ao lado dos cabides para pendurar bolsas e casacos.
Outro diferencial do local é que não precisamos dar gorjeta, como anuncia um aviso na cabine. Os pratos não são baratos, mas quem trabalha no local ganha um salário acima do mercado, o que justifica a ação.
A minha experiência no Ichiran foi multissensorial. Se a gente come com os olhos, a apresentação do prato não poderia ser mais bela. O aroma é um perfume, o gosto, um verdadeiro espetáculo, a textura do noodle, feito no local, é perfeita e, o melhor de tudo, o ambiente silencioso transformou este meu almoço em um sonho, que foi realizado antes mesmo de existir.
Indico mil vezes e afirmo que o Ichiran não patrocinou este post, mas faça um favor a si mesmo e faça uma visita ao local, se estiver por NY. A sua percepção sobre como fazer as suas refeições vai mudar pra sempre.
Para mais informações sobre o Ichiran, especializado em Tonkotsu Ramen, confira: