“Por Isso a Gente Acabou” traz emoções através de simples palavras

Por: Carl

Daniel HANDLER
Editora SEGUINTE
2012
368 páginas

SINOPSE: Por isso a gente acabou trata, com a comicidade típica do autor, de uma situação difícil pela qual todos um dia irão passar: o fim de uma relação amorosa e toda a angústia, tristeza e incerteza que essa vivência pode gerar. Min Green e Ed Slarteron estudam na mesma escola e, depois de apenas algumas semanas de convívio intenso e apaixonado, acabam o namoro. Depois de sofrer muito, Min resolve, como marco da ruptura definitiva, entregar ao garoto uma caixa repleta de objetos significativos para o casal junto com uma carta falando sobre cada um desses objetos e do episódio que ele representou, sempre acrescentando, ao final, uma nova razão para o rompimento. Essa carta é o texto de “Por isso a gente acabou”, que é, assim, carregado de um tom informal e tragicômico – características da personagem – e traduz com um misto de simplicidade e profundidade a história de uma separação.

Eu fiquei um tempo tentando decidir como seria o tom desta resenha. Continuo dividido. Tem coisas em POR ISSO A GENTE ACABOU que são muito boas, mas tem outras que são muito decepcionantes. Vou tentar explicar as duas e deixo para você decidir o que acha.

Vamos começar pelo que não gostei, porque, assim, você fica com a parte boa no final e com uma opinião um pouco melhor do livro 😉

Ed é o cara mais popular do colégio, o melhor atleta, o mais bonito e falastrão, o cara que quase todas as garotas querem namorar. Min é mais intelectual, estuda cinema, gosta de conversas com conteúdo, procura significado nos pequenos gestos e é sensível, muito sensível. Ela se apaixona por Ed. Por um acaso, os dois começam a namorar.

Óbvio que não vai dar certo. Não apenas pelo título do livro, que deixa isso claro, mas por causa da total incompatibilidade de pensamentos, comportamentos, sentimentos e ações entre Min e Ed.

E obviedade é o grande problema de POR ISSO A GENTE ACABOU. Não há nenhuma surpresa na história ou nos personagens. Nada. Nada mesmo. É um total clichê em todas as suas situações: o cara popular que fica com as garotas mais bonitas do colégio a cada período escolar; a garota bonita, mas que é intelectual e ignorada pelos populares; o melhor amigo da garota que é apaixonado por ela, mas a garota não sabe disso, apesar de ser visível até para um cego; os bailes de fim de não; a festa da fogueira que não dá certo; a ex-namorada do garoto popular que não larga o pé; a amiga falsa; e por aí vai.

Quando comecei a ler, pensei: tudo bem, eles terminam, mas por qual motivo?

É por isso mesmo que você está pensando. Até nisso não existe surpresa. E quando isso acontece? Também não existe surpresa. É logo depois que Ed consegue o que cada garoto quer de uma garota, ainda mais quando ela é virgem. Na verdade, Min, apesar de ser inteligente e sensível, é totalmente burra no quesito Ed. Tanto, que cheguei a pensar que ela merecia tudo o que estava sentindo, que ela procurou o que encontrou, e que mereceu.

Fora a falta de qualquer surpresa, existe outro ponto que quase me fez largar a leitura. Por Min adorar cinema, cada capítulo possui parágrafos e mais parágrafos de referência a filmes antigos (que ninguém conhece, porque são inventados pelo autor), com o que ela está vivendo. Lá pela metade do livro, tive que decidir se abandonava a leitura ou, simplesmente, pulava os trechos com essas referências, que, de certa forma, não acrescentaram absolutamente nada para a história dos dois. Porque, para que isso ocorresse, seria necessário o leitor conhecer o teor da comparação. Não existe essa relação. Então, a coisa fica maçante, chata, insuportável. Teve capítulo que pulei duas ou três páginas de puro nada.

Mas então, vamos falar do que é bom, neh?

A narrativa, apesar das partes arrastadas e maçantes dos filmes, é extremamente bem escrita. A transmissão ao leitor do que Min sente é tão bem feita, que é perfeitamente possível o leitor sentir um peso no coração, uma angústia, uma compaixão verdadeira pela personagem, como se ela realmente existisse.

Vale um destaque para um trecho onde Min, após uma decepção com Ed em uma festa, dança com o ex-namorado. Os pensamentos, as coisas que ela faz, são descritas em uma velocidade e com uma troca de palavras que consegue transmitir perfeitamente toda a confusão da personagem, bem como o que ela está sentindo no momento. Eu li esse pedaço duas vezes, de tão perfeito que ficou.

Isso é suficiente para considerar POR ISSO A GENTE ACABOU como um bom livro? Ou como um mau livro? Não sei dizer. Poderia colocá-lo como mediano. Mas não sei se seria o correto. Acho que a resposta depende muito da sensibilidade de quem vai ler. E do que a pessoa espera encontrar na história de Min e Ed.

Eu esperava encontrar mais. Uma pequena surpresa que fosse. Mas encontrei apenas a apaixonante habilidade do autor em usar as palavras para transmitir sentimentos, mas sem qualquer criatividade para criar situações com os personagens que completassem esses sentimentos.

Não posso terminar sem mencionar as ilustrações dos objetos que Min devolve para Ed. São simples, mas belíssimas. Inclusive, a edição é perfeita. E antes que alguém reclame das páginas em branco, isso é necessário para criar contraste com as imagens. E fica excelente!

Mesmo não sabendo responder se gostei ou não de POR ISSO A GENTE ACABOU, e apesar de todos os defeitos que apontei, bem como das poucas qualidades, recomendo a leitura, nem que seja pelo aprendizado de como se consegue criar emoções através de simples palavras.

Ah, e a nível de curiosidade, Daniel Handler é mais conhecido por seu pseudônimo, Lemony Snicket, autor de DESVENTURAS EM SÉRIE 🙂

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