As controvérsias em relação à série “13 Reasons Why”, da Netflix, me lembraram um episódio da minha juventude.
Enquanto pais, mães e críticos de todas as idades e nacionalidades fazem campanhas nas redes sociais para tirar a série do ar, alegando que é uma influência negativa aos jovens do século XXI, pois, segundo eles, a série romantiza o suicídio e apresenta cenas fortes como o estudante que é estuprado no banheiro da escola, e outro personagem que usa heroína, a minha mãe, quando eu tinha 14 anos, me colocou para assistir ao filme “Christiane F, Drogada e Prostituída”.
Baseado em um livro homônimo, que é, na verdade, a biografia da jovem alemã viciada em heroína, que aos 13 anos, passou a se prostituir para comprar drogas, mamãe achou importante e educativo sentar comigo e me apresentar as consequências do uso de drogas na vida de uma adolescente, que tinha todas as oportunidades para traçar uma trajetória diferente e, que por ter feito a escolha errada, sofreu sérias consequências na sua vida adulta.
O impacto de ver uma menina praticamente da minha idade se entregar ao vício e à prostituição da forma como aconteceu com Christiane, no filme e na vida real, foi tão grande que nunca, jamais, apesar de ter tido várias oportunidades, até hoje, aos 45 anos de idade, usei nenhum tipo de droga.
Olhando pra trás, o que admiro na atitude da mamãe foi que ela de fato me expôs à realidade, por mais dura e cruel que fosse, e me deu toda a orientação necessária. Ela usou a mídia como ilustração educativa para um problema real, que eventualmente iria cruzar meu caminho. Foi uma medida preventiva inteligente e necessária na educação de uma adolescente.
Agora, considerando toda a energia que tanta gente tem gasto para boicotar “13 Reasons Why”, eu penso, por que a serie é tão nociva? Por que os pais, ao invés de focarem em exterminá-la, não a usam como um meio de esclarecimento sobre todos os assuntos abordados pela mesma?
Diferente de “Christiane F.”, “13 Reasons Why” é baseado em um livro de ficção. E, eu estudei cinema e sei muito bem que não é um retrato da realidade, pois se fosse, seria um documentário, não um seriado. Por outro lado, a série toca em pontos sensíveis, que realmente acontecem em muitas escolas e em muitos lares, em vários lugares do mundo, e o que mostra pode ser usado pelos pais, educadores e pelos críticos como um exemplo do que não deve ser feito.
O que tenho tido dificuldade de entender é porque as pessoas insistem em focar em mascarar problemas que existem, ao invés de conversar abertamente sobre eles. Eu li um texto que dizia que era uma absurdo a série mostrar o personagem usando heroína, que ensinava aos jovens a fazer o mesmo… Como se fosse um mistério que nunca fosse ser descoberto, como se os jovens de hoje fossem tão frágeis a ponto de saírem da frente da tv e irem correndo experimentar a droga porque aprenderam como usá-la na série da Netflix. Jura, gente? Primeiro que quem quer usar vai saber usar com ou sem seriado, segundo, cadê os pais para orientarem os filhos e alertarem sobre os perigos da droga?
Eu vou ser muito sincera, dramaturgicamente eu curti a série, mas gostei mais da primeira temporada do que da segunda, especialmente porque gosto muito da Katherine que interpreta a Hannah e foi a suaatuação, como protagonista da primeira temporada, que captou a minha atenção, mais que o roteiro da a série em si.
Mas, de toda forma, achei importante os temas abordados na segunda temporada. A Netflix colocou os avisos das cenas fortes antes dos episódios e no final de cada um deles. Produziu uma série de videos, com a participação do elenco e de especialistas discutindo os assuntos mostrados nos episódios.
O que me faz questionar, novamente, porque tanto bafafá, porque os pais e educadores não usam essa plataforma para abrir o diálogo sobre suicídio, bullying nas escolas, armas, porque as autoridades responsáveis pelo sistema educacional, em países como os EUA e o Brasil, não se inspiram na série para tomar providências concretas e investir mais verba em educação, pagando melhor os professores, aumentando a segurança nas escolas, contratando mais especialistas para acompanharem e apoiarem os estudantes, tomando medidas preventivas contra os absurdos que acontecem no ambiente escolar, contra o uso de drogas, e no combate à depressão.
Eu acredito que são atitudes focadas em solucionar os problemas, que transformam a sociedade, não campanhas contra um seriado. O tempo e o espaço nas redes sociais e na mídia que as pessoas gastam falando atrocidades contra “13 Reasons Why” deveriam ser usados pelas mesmas para combater os problemas que acontecem diariamente com os membros de suas próprias nossas famílias, dentro de suas casas, com seus filhos, sobrinhos, amigos e vizinhos.
Ao deixarmos as nossas vaidades de lado e prestarmos mais atenção no que acontece ao nosso redor, nós ajudamos muito mais a humanidade do que quando partimos pras redes sociais para detonar uma série, só porque está na moda falar mal dela.
A Netflix não me pagou nenhum tostão para escrever este post, que e baseado na forma com que fui educada. Na minha casa, transparência sempre foi essencial. Melhor falar dos assuntos delicados do que jogar a poeira pra baixo do tapete, tentando disfarçar e proteger, quando na verdade a sujeira continua ali.
Agradeço à mamãe por me mostrar a vida como ela e. Numa boa, não acho “13 Reasons Why” nenhuma obra-prima não. Mas, tenho preguiça de toda a crítica negativa, sem fundamento. Pais participativos e professores bem pagos e bem preparados vão fazer muito mais diferença na vida dos adolescentes e jovens do que as críticas fazem à Netflix.
Melhor acordar enquanto é tempo e focar a sua atenção no comportamento e nas emoções dos seus filhos, afinal isso não vai te dar nenhuma popularidade nas redes sociais mas orientando seus filhos, vocês podem salvá-los dos perigosos que certamente vão cruzar seu caminho.
Que felicidade ler um post sincero como este. Eu não consigo entender essa mentalidade que acredita que esconder um problema é o suficiente para que ele deixe de ser um problema. Na minha adolescência eu fui “exposta” a ambientes que dispunham de drogas, álcool e até mesmo prostituição. Eu morava em um bairro bom e mesmo assim, na esquina de casa lá estava. Muito do que aprendi foi ouvindo os conselhos da minha mãe e assistindo a filmes e séries desde pequena (amo filmes e novelas desde muito nova). Malhação era uma aula em muitos momentos. É uma questão de entender que uma série ou filme não são responsáveis pelas escolhas que você faz na vida. A série é uma obra de ficção com um importante alerta, nada mais que isso.