Quantos dos nossos leitores sofrem de transtorno alimentar? Quando não a gente mesmo, temos um amigo ou membro da família passando por este problema.
Hollywood é Aqui bateu um papo com a Dra. Nina Savelle-Rocklin, Psy.D. que é psicanalista, escritora, apresentadora de um programa rádio e TV e especialista em transtorno alimentar.
A Dra. Nina sofreu de transtorno alimentar e hoje ajuda um exército de homens e mulheres de todas as idades e vários países do mundo a lidar com o problema. No seu programa on-line, “Kick The Diet Habit” (“Deixe de lado o hábito da dieta”), Dra. Nina orienta as pessoas, ajudando-as a identificar os problemas que estão por trás do seu peso, mostrando a elas as ferramentas e estratégias necessárias para solucionarem as suas questões, para que eles, assim, consigam perder peso, sem fazer dieta e de uma maneira permanente e sustentável.
Seu programa online conta com a participação de pessoas de 19 países do mundo. Por isso, se você fala inglês, e está enfrentando problemas de transtorno alimentar ou conhece alguém que precise de ajuda, não deixe de conferir os cursos disponíveis: https://winthedietwar.com/kick-the-diet-habit-now/
E também a nossa entrevista exclusiva com Dra. Nina:
Você é um autora de livros, apresentadora de programa de radio e TV e editora de um blog de sucesso. Você certamente tem uma vida corrida. Você poderia nos contar um pouco sobre o site “Win the Diet War” e o “Dr. Nina Show”?
Meu objetivo com o programa de rádio e com o site é ajudar as pessoas a fazerem as pazes com os alimentos, perderem peso sem precisar fazer dieta, ressaltando que o importante é que elas fiquem em paz com elas mesmas. Esses são os temas centrais do meu blog, da minha série e do meu programa de rádio. Muitas meninas, mulheres e homens estão em pé de guerra com seus corpos e com a balança. A maioria deles pensa que a comida é o problema ou eles acreditam que não têm força de vontade. Eles estão absolutamente enganados, porque o problema não é a comida. O verdadeiro problema é o que está “comendo”os pensamentos deles.
Tudo o que faço é orientar as pessoas e ajudá-las a identificar os problemas que estão por trás do seu peso, mostrando a elas as ferramentas e estratégias necessárias para solucionarem as suas questões, para que eles, assim, consigam perder peso de uma maneira permanente e sustentável. O meu programa on-line, “Kick The Diet Habit” (Deixe de lado o hábito da dieta”), é desenhado para que as pessoas façam esse trabalho em casa e no seu próprio ritmo. Atualmente tenho participantes de 19 países diferentes o que é realmente emocionante e gratificante pra mim.
No meu novo show no canal “Focus TV”, eu recebo convidados que são especialistas nas áreas de saúde e bem-estar para compartilharem seus conhecimentos. Meu objetivo é inspirar os espectadores a melhorarem a sua qualidade de vida. Eu me sinto muito privilegiada por ter a oportunidade de usar tantas plataformas para compartilhar essas preciosas dicas.
Além disso, você é psicanalista especializada em peso, imagem corporal e distúrbios alimentares. Eu entendo que você sofria de transtorno alimentar. Você pode compartilhar sua história com a gente?
Quando eu tinha cinco anos de idade, desenvolvi uma obsessão com as minhas coxas. Achei que se minhas pernas fossem mais finas, eu teria o corpo perfeito. Eu era uma criança de peso normal, mas estava convencida de que se minhas pernas fossem mais magras eu seria mais bonita.
Minha obsessão piorou quando cheguei na adolescência e entrei na faculdade. Todas as noites, a última coisa que eu pensava antes de dormir era: “O que eu comi hoje?” Eu perdi a conta das vezes que adormeci contando calorias e gramas de gordura que eu tinha consumido no dia. Eu calculava cada mordida e ficava me perguntando se eu perderia ou ganharia peso na manhã seguinte. A balança era minha melhor amiga e pior inimiga. Se a balança registrasse um quilo a mais acabava com meu dia, mas se mostrasse que eu tinha perdido um quilo, eu era a pessoa mais feliz da face da terra.
Quando eu saia pra fazer uma caminhava com amigos, eu me concentrava em quantas calorias eu estava queimando, ao invés de me divertir com eles. Eventualmente eu comecei a fazer terapia. Eu compartilhei meus problemas de namorado, meus objetivos de vida, meus sonhos e meus medos com a minha terapeuta. Eu era bem sincera com ela sobre todos os aspectos da minha vida – exceto um. Eu nunca disse a ela sobre a minha relação com a comida, meu peso e meu corpo.
Eu fiz terapia uma vez por semana durante três anos e nunca falei sobre a minha relação com a comida. A minha terapeuta não tinha ideia do que estava acontecendo comigo. No começo, eu não queria desistir da minha alimentação desordenada. Eu tentei mudar por minha conta, mas minha força de vontade falhou e eu comecei a usar laxantes. Eu tinha vergonha do meu distúrbio alimentar, eu não queria admitir pra ninguém, nem pro meu terapeuta. Mas depois de muitos meses fazendo terapia, comecei a perceber algumas mudanças. Comecei a processar minhas emoções, em vez de negá-las. Comecei a ser mais curiosa e menos crítica. No momento em que deixei o tratamento, sem nunca falar sobre alimentos, eu estava curada do transtorno alimentar.
Como isso foi possível? Como eu me recuperei do transtorno alimentar sem nunca ter falado sobre este problema com ninguém, nem com meu terapeuta?
Meu comportamento de transtorno alimentar nunca foi o problema. Na verdade, era uma solução temporária para o meu problema real, que era minha dura relação comigo mesma. Na terapia, eu aprendi a identificar o que estava me incomodando, o que foi difícil porque eu focava na imagem e no corpo como uma forma inconsciente de mascarrar minhas emoções e conflitos. Eu lidei com situações difíceis em vez de me distrair contando calorias. Mas pra ser honesta, foi só quando eu estava estudando psicanálise que finalmente descobri porque aos cinco anos, eu desenvolvi a ideia, que minhas coxas eram muito grandes. Meus pais eram acadêmicos, e eles eram brilhantes, mas ouvi deles, desde criança, que eu era muito alta, muito sensível, muito dramática e muito emocional. A mensagem era que eu era “muito” difícil de lidar. Minha mente aos cinco anos traduziu isso como sendo literalmente muito grande.
Minha experiência na terapia me mostrou a importância de avaliar o meu inconsciente no tratamento de distúrbios alimentares. E foi também a minha experiência pessoal que me mostrou que uma mudança é possível.
No seu programa de rádio você recebe diversas ligações de mulheres e, especialmente, de homens dos mais diversos estados dos EUA. Eles compartilham suas próprias experiências com transtornos alimentares com você e seus ouvintes. Eu imagino que os relatos devem ser emocionantes. Você já chorou no ar? Além disso, tem alguma história em especial que causou um impacto significativo em sua vida?
Eu sempre me comovo com confiança e vulnerabilidade de meus ouvintes, e como você e outros notaram, muitos deles são homens. Um dos meu ouvintes mais fiel chama-se Nick, foi muito emocionante acompanhar seu progresso desde a primeira vez que ele ligou para o show e disse que ele tinha que se pesar diariamente, e não podia imaginar não subir na balança todas as manhãs. A balança e que ditava se ele teria um bom dia ou um dia ruim.
A medida que passamos a conversar e nos conhecer melhor descobri que Nick sofreu de obesidade na adolescência, e ele tinha baixa-estima por conta disso. Ele temia cada quilo extra porque para ele isso significava que ele seria desprezado pelas outras pessoas.
Mas algumas semanas depois do nosso primeiro papo, ele ligou para o nosso programa novamente para relatar que ele não se pesava ha mais de uma semana. Essa semana se transformou em um mês e agora ele nem sequer fala sobre seu peso, mas sobre o que está “pesando os ombros dele”. Isso pra mim foi maravilhoso, porque percebi a mudança de atitude dele, a partir das nossas conversas.
Conheço muita gente que vive em dieta. Passam suas vidas morrendo de fome. Você poderia nos dar algumas dicas sobre como podemos perder peso sem fazer dieta?
As dietas falham porque são uma forma de privação e isso sempre leva a excessos. Isso porque a antecipação de não poder comer o que você quer fará você querer comer ainda mais. Se você está pensando que não pode comer pizza, macarrão ou sorvete, então vai passar o dia todo com pizza, macarrão ou sorvete na cabeça. Isso coloca o seu foco na coisa errada, que é o que você está comendo, em vez do porquê você está comendo. Em suma, as dietas falham porque eles lidam apenas com alimentos.
Uma chave para fazer as pazes com a comida é mudar a maneira como você se relaciona com você mesmo. E o segredo é você tratar bem a si próprio, falar com você de uma maneira amável. Em vez de ser crítico, seja gentil. Esta pode ser uma mudança desafiadora, mas significativa para você mesmo. Quando você se sente melhor, é menos provável que se concentre em alimentos, peso ou na imagem do seu corpo e é mais provável que aproveite sua vida.
A maioria dos nossos leitores são adolescentes e jovens. Infelizmente, muitos deles sofrem de transtornos alimentares. Você tem alguma dica que possa ajudá-los nesta batalha?
Eu gosto de dizer que não trato de transtornos alimentares, trato as pessoas e as pessoas desenvolvem transtornos alimentares por razões muito particulares. No meu livro “Food For Thought” eu exploro os mitos sobre distúrbios alimentares, como sendo doenças cerebrais, causadas pela mídia, e discuto as causas dos transtornos alimentares e como criar artifícios para vencer esta batalha.
A coisa mais importante para os seus leitores é entender que tudo que acontece em sua relação com o alimento, com seu peso e sua imagem corporal, são sintomas do problema e não “os” problemas em si. A principal dica é se concentrar no comportamento da pessoa com transtorno alimentar. O que eu aprendi com minha experiência pessoal e atendendo milhares de pessoas, tanto na minha clínica quanto em meus programas de radio e TV é que nunca é tarde demais para mudar. Sempre, sempre há esperança.
Assista as entrevistas de Dra. Nina com especialistas na área de saúde e bem-estar que são uma inspiração para melhorar sua qualidade de vida.
Se você mora em Los Angeles, confira o “Dr Nina Show” todas as quartas, às 10h da manhã (horário local), na LA Talk Radio:
Seu livro está disponível na Amazon: Food for Thought: Perspectives on Eating Disorders