Conversando com uma amiga em um evento, comentei que iria fazer uma viagem de carro pela região da Nova Inglaterra, que incluiria os estados de Connecticut, Massachusetts e Maine.
Hoje conto sobre o sucesso que foi seguir a dica dessa amiga e visitar Salem, em Massachusetts, que é conhecida pelas “bruxas” e já foi locação de filmes, séries e documentários. Uma das cidades turísticas mais famosas do estado, que é uma das 13 colônias que fundaram os Estados Unidos.
O tour em Salem foi intenso, pois eu queria ver muita coisa em tempo recorde. Felizmente, consegui aproveitar tanto que dividi o material em 2 partes.
Nessa primeira etapa, mostro a casa e o memorial das bruxas de Salem, que nada tinham a ver com uma suposta bruxaria religiosa, mas cujo assassinato (20 pessoas foram executadas, dos quais 19 por enforcamento, 14 mulheres e cinco homens, e uma mulher idosa por esmagamento com pedras) foi fruto da maior histeria em massa nos EUA.
Os motivos que levavam as pessoas a serem julgadas, por um grupo de homens brancos, puritanos religiosos, eram surreais. Para vocês terem uma ideia, até brigas com vizinhos muitas vezes incitavam alegações de bruxaria. Um exemplo disso é Abigail Faulkner, acusada em 1692. A própria Faulkner admitiu que estava “brava com o que as pessoas diziam, e o Diabo pode ter sobrepujado temporariamente ela”.
A verdade era que as mulheres que não estavam em conformidade com as normas da sociedade puritana eram mais propensas a ser alvo de uma acusação, especialmente àquelas que eram solteiras ou não tinham filhos. – me identifiquei, pois não sou casada e não tenho filhos, poderia facilmente ser acusada de bruxaria, naquele universo onde as próprias vítimas eram convencidas de serem culpadas. Nesse artigo da Superinteressante tem mais detalhes sobre essa triste passagem da história estadunidense.
O mais louco é que em pleno ano de 2024, séculos depois, vivemos uma fase de retrocesso com a ascensão da extrema direita levantando bandeiras com base na religião e provocando também uma histeria coletiva (no Brasil, os acampamentos bolsonaristas estão aí pra provar isso). Uma situação assustadora que me fez refletir ainda mais, depois de visitar a Casa das Bruxas de Salem, um museu no centro da cidade, que é um programa imperdível para entender melhor esse capítulo da história dos EUA.
A Casa das Bruxas de Salem:
Em 1675, Jonathan Corwin, herdeiro de uma das maiores fortunas puritanas da Nova Inglaterra, comprou esta grande e imponente casa. Dezessete anos depois, Corwin e sua família participariam da mais famosa caça às bruxas da história estadunidense.
Os passeios pela Corwin House, agora conhecida como Witch House, conectam elementos da vida cotidiana com os eventos que pontuam a linha do tempo da história.
Através dos objetos, fotos e relatos da vida familiar, da arquitetura e do mobiliário do século XVII, os visitantes adquirem uma compreensão mais profunda das pessoas envolvidas nos Julgamentos das Bruxas e compreendem melhor essa herança dos EUA colonial.
Aliás, o centro histórico de Salem é uma graça, uma viagem ao tempo colonial na rua de pedestre repleta a rua de lojas, restaurantes, hotéis e painéis que contam a história da cidade. A arquitetura é incrível e Salem está preparada para receber os turistas, de fato é muito fácil circular por lá a pé, coisa rara nos EUA.
Uma das minhas paradas prediletas foi na estátua de Elizabeth Montgomery, que protagonizou a série “A Feiticeira” (Bewitched). Eu era super fã do seriado que, na verdade, foi ao ar antes de eu nascer (entre 1964 e 1972), mas na infância, eu assisti a reprise de todos os episódios algumas vezes. Aliás, o seriado é transmitido até hoje e ainda é um clássico nos EUA.
Vale destacar que a estátua gerou polêmica em Salem. Alguns moradores odeiam que uma estátua de “falsa bruxa da televisão” esteja na cidade, mas os empresários adoram, já que a estátua está atraindo curiosos e fãs. Eu entendo os locais, mas confesso que curti!
Memorial:
O Memorial em homenagem às 20 vítimas dos julgamentos de bruxas de 1692 fica no coração da cidade.
Paredes de granito de mais de um metro de altura cercam três lados, com bancos de granito representando cada vítima em balanço para dentro da parede. Gravado em cada banco está um nome, meio de execução e data de execução. Podem-se ler, na soleira de pedra do memorial, palavras do acusado retiradas diretamente das transcrições do tribunal. Os visitantes notarão que as palavras – entre elas, “Deus sabe que sou inocente” – são cortadas no meio da frase, representando vidas interrompidas e indiferença aos protestos de inocência.
Mais uma parada obrigatória na tour, que nos faz refletir sobre os perigos e as consequências de um discurso religioso corrompido e distorcido na nossa sociedade.
Depois de me deparar com essa história tão trágica, que aconteceu há séculos, mas ainda se repete hoje em dia, resolvi relaxar em um boteco típico da cidade que serve martini com lagosta.
Pode parecer esquisito pra nossa cultura, mas o estado é famoso pelas lagostas e frutos do mar fresquinhos e mais em conta (bem mais barato que em LA e NY), além disso, martini é meu drink favorito, então casou super bem. Super indico! Até porque a cerveja e o chopp são quentes em Massachusetts, o próprio bar admite. Pra nós brasileiros, isso é um desrespeito a quem bebe, né?! Nos EUA, em geral, a cerveja não é tão gelada como no Brasil, mas por lá o negócio é tão sério que tem até placa. Risos!
Vá de martini com lagosta, que é gelado, bem saboroso, divertido e o preço é honesto. Curti muito!
Fiquem ligados que publicaremos a segunda parte da nossa tour em Salem, em breve.
Enquanto isso, confiram nossas aventuras em Hartford, Connecticut, terra natal das Gilmore Girls e Portland, Maine aqui: