Oscar 2020 Filme Internacional: Pedro Almodóvar é destaque em evento em Los Angeles

Nunca a semana do Oscar foi tão especial para o Hollywood é Aqui. Além de termos tido a chance de participar de um evento que celebrou os documentários, incluindo o brasileiro “Democracia em Vertigem” indicado à estatueta, fomos convidados para participar do bate-papo com os diretores indicados na categoria filme estrangeiro, que esse ano mudou de nome e passou a ser chamada de filme internacional, ou seja, filmes falados predominantemente em outro idioma, não em inglês.

 

Eu sempre curti filmes e seriados produzidos nos EUA, não é à toa que vim morar em LA e que esse site chama-se Hollywood é Aqui. Mas ao contrário de muitos que só consomem o entretenimento produzido nos EUA, eu cresci assistindo filmes europeus, japoneses, coreanos. Os filmes que mais tocaram a minha vida são brasileiros, mexicanos, espanhóis. Na minha adolescência devorava produções vindas da América do Sul e do norte da Itália, nas fitas VHS que alugava na locadora. Para minha felicidade, na juventude já pude consumir essas obras-primas no cinema estação Botafogo (hoje Estação Itaú), nas salas da Casa de Cultura Laura Alvim e no Instituto Moreira Salles. Viver no Rio de Janeiro me deu a chance de me conectar com cineastas do mundo inteiro.

E foi nessa jornada que me apaixonei pelo trabalho do espanhol Pedro Almodóvar, um dos mais talentosos e brilhantes cineastas da história. Seu espetacular filme “Dor e Glória” está indicado esse ano (assim como o protagonista Antônio Banderas, que está indicado na categoria melhor ator) e realizei meu sonho de ficar mais uma vez, frente a frente com Almodóvar, que esteve presente no evento ontem, no teatro da Academia, em Los Angeles.

Foi um privilégio ouvir Pedro, um dos meus cineastas favoritos, que compartilhou a sua alegria em fazer parte de um grupo tão criativo, que incluía o diretor coreano de “Parasita”, Bong Joon Ho, o francês Ladj Ly, de “Os Miseráveis”, o polonês Jam Komasa, de “Corpus Christi” e a dupla da Macedônia, por trás de “Honeyland”, Tamara Kotevska e Ljubomir Stefanov.

O papo descontraído contou com a presença de intérpretes que fizeram um excelente trabalho na tradução dos segredos de bastidores compartilhados pelos cineastas. Bong Joon, sempre hilário, disse que desenhou cada cena de “Parasita”, antes do filme começar, e que por ser metódico e controlador, o resultado final saiu bem parecido com sua ideia inicial.

O diretor coreano, admirador de Almodóvar, como todos os presentes, assumiu o papel de entrevistador perguntando para Pedro como ele consegue continuar se superando ao contar histórias tão humanas. Almodóvar disse que “Dor e Glória” foi um dos seus filmes mais pessoais, que ele precisou de coragem para expor algumas passagens da sua vida, através dos personagens e, ironicamente, foi seu próprio medo de mostrar suas verdades que fez o trabalho ser tão intensa e sincero.

“Honeyland” foi indicado merecidamente na categoria documentário, mas eu, particularmente não indicaria na categoria filme internacional, porém, os membros da Academia acharam que merecia. A dupla de cineastas de fato fez um belo trabalho, ainda mais considerando o fato que eles rodaram sem eletricidade em pouquíssimo tempo. O filme tem uma beleza singular, e os diretores se orgulham por terem entrado na história do Oscar como os primeiros a concorreram à estatueta em ambas as categorias.

O diretor de “Os Miseráveis”, que fala sobre as atrocidades cometidas nas regiões pobres da cidade, pela polícia na França, afirmou que ao mesmo tempo que o filme foi bastante celebrado por uma grande parte da população em seu país, ele também foi severamente criticado pela elite. Qualquer semelhança com os últimos acontecimentos no Brasil em relação à retaliação sofrida por Pietra Costa não é mera coincidência, claro. Ele complementou dizendo que as críticas demonstram que seu dever como cidadão e seu objetivo como cineasta foram cumpridos com sucesso.

Para fechar com chave de ouro, o simpático diretor polonês festejou mais uma indicação para seu país, que já concorreu diversas vezes ao Oscar. Seu filme baseado em uma história real, que aconteceu recentemente, mostra a trajetória de um jovem que finge ser padre. Ele fez questão de dizer que muito do mérito do filme se dá ao próprio roteiro e ao grupo de atores que se dedicou de corpo e alma a esse trabalho.

Quanto a mim, estar sentada na plateia daquele teatro ontem, me remeteu às muitas horas que viajei pelo mundo através dos roteiros, da direção, das atuações, de feras como aqueles que estavam na minha frente, que produziram obras, muitas vezes enfrentando desafios pessoais e profissionais, e moveram montanhas para realizarem seus projetos, sem mesmo uma indústria de entretenimento como Hollywood para lhes apoiar. Na verdade, isso sempre foi o que mais me inspirou em relação aos filmes independentes alemães, italianos, chilenos, argentinos, brasileiros, muitos desses cineastas não têm apoio financeiro para realizarem seus projetos, eles são motivados exclusivamente por uma grande paixão pela arte de fazer cinema. O próprio Almodóvar começou sem nada, até se tornar uma referência para os colegas e um ídolo para seu público.

Compartilhando minha experiência, espero que os jovens de hoje, que queiram seguir carreira como cineastas ou sejam apenas fãs de carretinha da sétima arte, não se prendam apenas às produções estadunidenses, mas deem uma chance aos filmes produzidos pelo mundo afora, que esse ano por exemplo, deram uma lavada nos realizados em Hollywood.

Fica a dica com uma palhinha deles:

Parasita

Direção: Bong Joon Ho

https://www.hollywoodeaqui.com/o-premiado-parasita-e-um-convite-a-reflexao-sobre-desigualdade-social/

Dor e Glória

Direção: Pedro Almodovar

Os Miseráveis

Direção: Ladj Ly

Honeyland

Direção: Tamara Kotevska , Ljubomir Stefanov

Corpus Christi

Direção: Jan Komasa

Não deixem de conferir nosso encontro com os documentaristas indicados ao Oscar 2020:

https://www.hollywoodeaqui.com/melhor-documentario-oscar-2020-democracia-em-vertigem-leva-nossa-torcida-na-premiacaodemocracia-em-vertigem-leva-nossa-torcida-para-melhor-documentario-no-oscar-2020/

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