Em setembro do ano passado, a Academia, organização responsável pelo Oscar, anunciou que criaria uma categoria de melhor “filme popular”. O bafafá e as críticas feitas não só pelos membros da imprensa (eu inclusive), como por cineastas, críticos, atores, diretores e especialistas no assunto, foram tantas, que alguns dias depois eles comunicaram que a implementação desta nova categoria seria adiada por tempo indeterminado.
O motivo principal pelo qual todo mundo que trabalha com cinema detonou a ideia é que o conceito de “popular” é muito relativo. Um “blockbuster” pode fazer o maior sucesso de bilheteria tanto nos EUA, como no mercado internacional, sendo tecnicamente (roteiro, direção, performances, fotografia, edição, som figurino, maquiagem, entre outros) um filme extremamente precário, não merecendo assim o reconhecimento da indústria com a estatueta de ouro.
Na verdade, nós sabemos a razão que levou a Academia a lançar essa ideia patética. A audiência da cerimônia do Oscar tem caído consideravelmente nos últimos anos, especialmente internacionalmente. O que os manda-chuvas da organização querem é popularizar a cerimônia em si, para tentar reverter a situação e, para tal, eles acharam por bem indicar filmes que arrecadaram milhões nas bilheterias dentro e fora dos EUA, pois esses filmes agradaram não só aos cinéfilos e fãs de filmes indies, mas ao grande público, que curte os blockbusters, também conhecidos como filmes produzidos por grandes estúdios, como a Fox, Universal, entre outros. A chance da audiência da cerimônia aumentar consideravelmente se esses filmes forem indicados e os atores que fizeram parte de seus elencos estiverem presentes é grande. Mas o problema aqui é que essa “popularização” descaracterizaria o objetivo inicial do Oscar, que é premiar quem, realmente, excedeu tecnicamente todas as expectativas em sua categoria, o que na prática não está relacionado com o sucesso de bilheteria do filme.
Não tem problema nenhum um filme que foi o número 1 em bilheteria no mundo inteiro ser indicado e ganhar o Oscar em várias categorias, inclusive melhor filme, se o filme for excelente, como foi o caso de “Forrest Gump”, em 1995, mas nós sabemos que filmes brilhantes como este existem, mas são joias raras.
Este ano, por exemplo, apesar deles não terem criado a categoria filme popular, eles indicaram (na minha opinião injustamente) dois filmes extremamente populares, “Bohemian Rhapsody” e “Pantera Negra”, na categoria melhor filme, ambos sucessos absolutos de bilheteria pelo mundo afora.
Antes que algum fã me detone, eu explico porque que discordo das indicações desses filmes na categoria principal:
Eu assisti a pré-estreia de “Bohemian Rhapsody”, numa sessão exclusiva da Fox, semanas antes do filme virar um fenômeno. O Queen até hoje é uma das minhas bandas prediletas. Confesso que chorei, cantei junto e curti. Sai do cinema feliz, mas nunca, jamais poderia imaginar que o filme teria alguma chance na corrida do Oscar. Porque concordo com a opinião de uma amiga que disse que Bohemian é um grande e belo videoclip do Queen, com a história real de Freddie Mercury muito mal contada, por sinal. Pode ate ser que mereça as indicações nas categorias de som, mas melhor filme jamais. Aliás, eu adoro o Rami Malek, o conheci em um evento, ele é um fofo, mas, me desculpem, não acho que ele merecia nem a indicação ao Oscar, nem todos os prêmios que ganhou como melhor ator por sua performance neste filme. Achei ele caricato, como achei o roteiro extremamente superficial. O fato de eu ter me divertido ao assistir “Bohemian Rhapsody”, não significa nem de longe que eu ache que o filme deveria ter sido indicado ao Oscar. Mas acredito que não tenha sido indicado pelo seu brilhantismo, mas, sim, pela resposta positiva que recebeu do público mundial.
Quanto à “Pantera Negra”, eu não sou muito fã do gênero, mas gostei do filme muito mais do que imaginei que fosse gostar. Acho que mereceu todas as indicações que recebeu, exceto na categoria melhor filme. Especialmente em um ano que o diretor Barry Jenkins lançou o seu excelente “Se A Rua Beale Falasse”, uma linda estória de amor baseada em um livro clássico, que foi desmerecido pelos membros da Academia. O elenco de ambos os filmes é excelente e formado por atores negros. Aí vocês vão me perguntar: “poderiam ter indicado os dois então?”. Claro que sim, mas ainda não chegamos neste grau de celebração de diversidade em Hollywood e na hora de optarem, eles foram, justamente, no blockbuster, que, de novo, é muito bem feito e mereceu o premio que ganhou de melhor elenco no Sag Awards (Sindicato dos Atores em Hollywood), mas, de forma nenhuma, deveria estar entre os indicados na categoria top da premiação top da indústria cinematográfica.
Não me entendam mal, eu adoro filmes blockbusters, mas a gente tem que saber separar o nosso gosto pessoal do profissional. Uma coisa sou eu, como parte da audiência, curtir um filme, outra coisa, sou eu, profissional de jornalismo, que estudou roteiro de cinema na UCLA, que cobre festivais de cinema e assiste em torno de 100 filmes por ano, saber avaliar quando um filme realmente merece este reconhecimento.
Aí você está lendo o meu desabafo e diz: “mas eu não sou profissional de cinema, adorei os filmes citados, estou torcendo por eles, e vou assistir a cerimônia por causa deles”, bom o objetivo aqui não e convencê-los do que curtir ou o que acompanhar, mas já que quem tem o poder do voto para escolher os melhores do ano, são profissionais de cinema, acho que a avaliação deles tem que ser técnica, não com o foco de quão rentável será a transmissão da cerimônia do Oscar. Mas aí é sempre aquela história, como diz Mario Quintana: “Cada Um Pensa Como Pode e torce pelo que acredita”. Eu defenderei sempre a arte de fazer cinema, não só o que entretem, mas, especialmente, o que educa e inspira, ou seja, não basta render milhões, tem que fazer bonito na telona!
Bohemian Rhapsody
“Bohemian Rhapsody” é uma celebração a banda Queen, sua música e seu extraordinário cantor principal Freddie Mercury, que desafiou estereótipos e quebrou convenções para se tornar um dos artistas mais amados do planeta. O filme mostra o sucesso meteórico da banda através de suas canções icônicas e som revolucionário, a quase implosão quando o estilo de vida de Mercury sai do controle e o reencontro triunfal na véspera do Live Aid, onde Mercury, agora enfrentando uma doença fatal, comanda a banda em uma das maiores apresentações da história do rock. Durante esse processo, foi consolidado o legado da banda que sempre foi mais como uma família, e que continua a inspirar desajustados, sonhadores e amantes de música até os dias de hoje.
Pantera Negra
Após a morte do rei T’Chaka (John Kani), o príncipe T’Challa (Chadwick Boseman) retorna a Wakanda para a cerimônia de coroação. Nela são reunidas as cinco tribos que compõem o reino, sendo que uma delas, os Jabari, não apoia o atual governo. T’Challa logo recebe o apoio de Okoye (Danai Gurira), a chefe da guarda de Wakanda, da irmã Shuri (Letitia Wright), que coordena a área tecnológica do reino, e também de Nakia (Lupita Nyong’o), a grande paixão do atual Pantera Negra, que não quer se tornar rainha. Juntos, eles estão à procura de Ulysses Klaue (Andy Serkis), que roubou de Wakanda um punhado de vibranium, alguns anos atrás. Fonte: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-130336/