Não é e novidade para ninguém que “Roma” é meu filme favorito este ano. Mas, na verdade, sou fã de carteirinha dos cinco filmes indicados na categoria filme estrangeiro, e digo ainda que “Cafarnaum” e “Assunto de Família”, também estão no topo da minha lista de melhores filmes de 2018.
Para a minha total felicidade, eu tive a honra de ir ao painel que contou com a presença de Alfonso Cuarón (roteiro/direção “Roma”), Nadine Labaki (roteiro/direção “Cafarnaum”), Paweł Pawlikowski (co-rotreiro/direção “Guerra Fria”), Hirokazu Koreeda (roteiro/direção “Assunto de Família”), Florian Henckel von Donnersmarck (direção “Nunca Deixe de Lembrar”), os cineastas que deram vida a essas obras-primas, na quinta-feira, no teatro da Academia. Mais um evento que faz parte da semana que antecede o Oscar, em LA. Se os filmes por si só já tinham me emocionado profundamente, ouvir as histórias do processo de criação e de seus bastidores, contadas pelos seus diretores, fez com que eu admirasse ainda mais o que já tinha me conquistado.
Especialmente o relato de Nadine sobre seu espetacular “Cafarnaum”. A libanesa foi a única diretora mulher indicada (isso inclui as categorias melhor filme, melhor direção e melhor filme estrangeiro). Nadine contou que a jornada dos personagens de seu filme, rodado em 6 meses, refletiu de fato o que estava acontecendo na vida real dos atores, todos não profissionais e, de certa maneira, tinha uma relação íntima com a sua própria vida. Por exemplo, a atriz nigeriana, refugiada, assim como a sua personagem, foi presa durante as filmagens e deixou seu filho pequeno com estranhos. Assim como o menino que atuou como Zain também vivia em situações ainda mais precárias que seu personagem no filme, que, por sinal, abriu portas para que Zain tivesse outras boas oportunidades. Ele está em Los Angeles e vai à cerimônia do Oscar, mas agora vive com a sua família na Noruega, onde, depois de anos, voltou a frequentar a escola. Sem contar que a diretora estava amamentando seu bebe recém-nascido, da mesma forma que a personagem no seu filme, e ela acha que, talvez por isso, tenha conseguido captar com mais precisão esses momentos tão especiais.
Cuarón, por sua vez, ressaltou que o mais importante sobre “Roma” foi a discussão que o filme levantou no México sobre as legislações que envolvem a profissão de doméstica. Segundo o diretor, a associação das domésticas no país esta usando “Roma” para pleitear a revisão de algumas leis trabalhistas no país. Assim como sua protagonista, Yalitza Aparicio, está usando a voz da “fama”, conquistada graças à indicação ao Oscar, nos movimentos que protegem as mulheres indígenas no país.
Já o diretor japonês Hirokazu Koreeda, admitiu que seu filme sofreu muitas críticas em seu país. Os mais conservadores não gostaram da ideia de que o mundo soubesse que existem famílias inteiras que vivem de pequenos roubos no Japão, pois não têm condições de arcarem com seu sustento. Mas, para Hirokazu, as críticas negativas não anulam a realidade, muito pelo contrário, expor o problema é uma forma de iniciar uma revolução e a busca de soluções.
Paweł Pawlikowski, que no seu filme conta a história de amor dos seus pais, disse que o maior presente de receber uma indicação ao Oscar (ele já foi premiado com a estatueta por “Ida”) é que, uma vez tendo o “aval” de Hollywood, as pessoas na Polônia acreditam que o filme é bom e vão prestigiá-lo no cinema. E isso aconteceu com seu “Guerra Fria” que, sim, é belíssimo.
E entre muitas histórias, o divertido diretor alemão Florian Henckel von Donnersmarck lembrou os desafios de filmar em diferentes países e cidades, mas ressaltou a importância de fazer cinema, especialmente, em tempos de repressão como o nazismo (que é o pano de fundo do seu filme) e até o atual governo dos EUA. Para ele nunca foi tão importante usar a arte para expor a realidade e levantar discussões sobre tópicos relevantes, como os abordados nos filmes indicados em sua categoria este ano. E nós não poderíamos concordar mais com Florian, em todas as 24 categorias do Oscar, em 2019, a de filme estrangeiro é a que mais revolucionou. Simplesmente brilhantes!
Relembrando momentos épicos do meu coração cinéfilo na pré-estreia de “Roma”, que contou com a presença de Cuarón e de suas protagonistas:
E na estreia de “Guerra Fria”, com Pawel e sua protagonista, no festival de cinema em NY:
E recordo também a minha emoção assistindo “Cafarnaum”, “Assunto de Família” e “Nunca Deixe de Olhar” nessas matérias. Filmes igualmente imperdíveis: