Por: Carl
SINOPSE: Com mais de um milhão de leitores e oitocentas reimpressões só no Brasil, “Os Meninos da Rua Paulo” é o clássico por excelência; pelo caráter universal e pela alta qualidade literária, mantém-se capaz de atingir um vasto público ao longo de décadas. A história dos garotos que defendem o “sagrado grund”, um pedaço de terra que serve de palco para as brincadeiras, projetou o húngaro Ferenc Molnár na literatura mundial, tornou-se um best-seller e inspirou cineastas por todo o mundo – das adaptações para o cinema, a mais conhecida é de Zóltan Fábri (1969). Está para nascer uma geração que não se identifique com o espírito de amizade e união presente no livro. Os garotos da Sociedade do Betume tinham duas importantes tarefas: manter o betume – símbolo da sociedade – sempre molhado, por meio da mastigação, e defender o grund, quartel general onde jogavam péla. Eis que os camisas-vermelhas, desterrados e, conseqüentemente, impedidos de jogar péla, declaram guerra à Sociedade e decidem tomar-lhe o grund. Do líder Boka ao soldado raso Nemcsek, a Sociedade do Betume se organiza para a grande batalha de Budapeste do começo do século. O que era brincadeira de criança transformou-se num belo retrato da infância – Ferenc MOLNÁR – Editora COSAC NAIFY – 2005 – 264 páginas.
O ponto focal de OS MENINOS DA RUA PAULO é o que representa a honra na vida de duas gangues de crianças que se enfrentam em uma guerra pela posse de um terreno onde podem brincar e jogar bola. Em um primeiro momento, você pode pensar se tratar de uma história juvenil, despretensiosa, mas quando viramos a última das 250 páginas da espetacular obra do húngaro Ferenc Molnár, aprendemos que honra é o resultado de uma série de qualidades e atos que a maioria das pessoas não tem capacidade de ter ou realizar, e sentimos uma dor no peito, um choque de realidade, que nos despedaça por inteiro.
A honra é o resultado da personalidade e caráter de um indivíduo, que são moldadas a partir do momento que tomamos consciência de nossos atos, de forma parcial ou completa. Colocando a ação no livro na época da infância, o autor consegue empregar de forma poética a convivência de um grupo de garotos que adotou o terreno, de uma carpintaria da rua Paulo, como seu local de lazer.
Eles regem suas brincadeiras através de estatutos marciais, e se classificam como generais, capitães, tenentes, soldados, etc. Possuem regras rígidas, tratam-se com o respeito que cada uma das patentes exige e atuam conforme seu próprio estatuto. Tudo isso com a dose de inocência que a idade determina. Essa dualidade entre o adulto e o infantil, é deliciosa de acompanhar e surpreende a cada capítulo.
O leitor acompanha mais de perto a trajetória de três personagens: Boka, o general da turma da rua Paulo; Nemecsek, o único que é soldado raso; e Geréb, o traidor que se bandeia para a gangue rival. Através deles, de suas atitudes, e das consequências delas, descobrimos o real sentido de palavras como amizade, amor, lealdade, coragem, sacrifício, castigo, arrependimento, perdão, subserviência e morte.
OS MENINOS DA RUA PAULO é um livro completo na mensagem que entrega. Ele não transmite ao leitor apenas uma história com moral, ele entrega uma história carregada de conhecimento do comportamento humano quando livre do peso da maldade, e sua contrapartida, quando o ser humano chega na fase adulta, viciado e corrompido.
Boka é a figura do herói, que carrega no ombro a responsabilidade de todos os seus companheiros, que elabora os melhores planos, que tem a visão necessária para estabelecer prioridades e tomar as decisões mais justas.
Geréb é a personificação da imperfeição, que se rende ao que acha mais propício para seus interesses, ao desejo, à ambição. Mas ele vai além e também se torna o resultado da consciência, da chance de se reconhecer um erro, pedir perdão e agir de forma a não reparar, mas contrabalançar com atos certos aqueles que fez de errados.
Já Nemecsek… é um caso à parte. Ele sou eu. É você. Ele representa todos os que desejam progredir por seus meios, que sonham com algo melhor, que lutam pelo que acham certo, que realizam sacrifícios que vão além de suas capacidades, e que, por isso mesmo, recebem uma cobrança da vida que pode ser muito alta. Nemecsek é a essência da coragem, que visa o bem de outrem, independente do que pode significar para si próprio. O personagem é apaixonante e arranca toda a emoção que o leitor possui.
Mas no ato final, o resultado fica nas mãos de Boka. Ele se torna nossos olhos e nosso coração no último capítulo. É através do pequeno general que presenciamos as consequências de atos simples, mas cheios de honra, no sentido absoluto da palavra. É através de Boka que presenciamos a resolução de um pai que não abandona o ofício diante da frieza do cliente, mesmo quando a morte está sentada ao seu lado. É através de Boka que recebemos na face o suspiro de uma alma inocente que cumpriu seu objetivo, mas que não teve tempo de colher seu prêmio.
É através de Boka que, na última página, no último parágrafo, recebemos um tapa no rosto, que nos faz acordar para o quanto nossos atos, por melhores que sejam, não representam nada diante da inevitabilidade da vida. É através de Boka que choramos.
OS MENINOS DA RUA PAULO é uma obra obrigatória, belíssima, arrebatadora, que deve ser lida e estudada várias e várias vezes. Mais do que isso: é um livro que deve ser passado de mão em mão, principalmente para aqueles que não compreendem o que significa lealdade e honra.