É comum os fãs ficarem frustrados com a adaptação do seu livro predileto para o cinema e muitas vezes culparem o roteirista ou diretor pelas mudanças feitas ou por algum fato ou passagem importante que ficou de fora.
Nós já abordamos detalhadamente este assunto há pouco tempo, explicando as diferenças entre essas duas poderosas mídias, apontando algumas razões que impossibilitam o roteiro de um filme ser a cópia fiel das páginas de um livro:
Agora, inspirados em uma recente entrevista da roteirista do filme “Cinquenta Tons de Cinza”, Kelly Marcel, e aproveitando o tema para celebrar hoje o aniversário do sexy bilionário, Christian Grey, contamos um pouco mais o que realmente acontece nos bastidores da indústria do cinema em Hollywood, onde nem o diretor, nem o roteirista tem a autoridade que o público acha que eles têm. Na verdade, o estúdio, no caso de 5O Tons, a Universal, e os produtores, responsáveis pela realização do filme, são responsáveis pelas decisões finais. Juntos são eles que batem o martelo e, baseados em uma série de fatores, aprovam o que o público vai assistir na telona.
Kelly tinha uma proposta bem diferente quando foi contratada para escrever o roteiro. Na versão dela, o filme começaria com as cenas do “Red Room” e a história de Ana e Christian seria contada em flashback. Além disso, o objetivo dela era explorar a infância conturbada de Grey, dando um tom mais “dark” ao filme.
Os produtores e o estúdio inicialmente adoraram, mas a autora do livro não. Erika disse que aquele não era o filme que os fãs estavam esperando assistir. Kelly, que afirma adorar a escritora e entender seus argumentos, trabalhou juntamente com EL James na primeira versão do roteiro. Mas a medida que entendia mais como o processo de fazer cinema em Hollywood acontece, Marcel foi se decepcionando e acabou se afastando com o coração partido. Ela admite que até hoje não assistiu ao filme, mas que obviamente sabe que foi um sucesso de bilheteria pelo mundo afora, só não foi o filme que ela imaginou fazer.
Kelly é britânica e escreveu o roteiro de “Saving Mr. Banks” (Walt, nos Bastidores de Mary Poppins) e diz que nunca tinha trabalhado antes em um franchise (filmes que envolvem um orçamento alto, geralmente tem sequência e muito merchandising (venda de produtos) como as sagas “Jogos Vorazes” e “Divergente”, e os filmes de super heróis como Batman), ficou impressionada como o sistema funciona. “O filme tem uma data certa para ser lançado por conta de compromissos contratuais com as empresas que fabricam os produtos relacionados a ele, neste caso o carro “Audi”, vinho, “sex toys”, por isso, não importa o que tiver escrito na página, o filme vai ter que estrear de qualquer forma.”
É importante ressaltar que isto não é uma crítica de Kelly não, é apenas uma constatação, como roteirista ela prefere trabalhar em filmes independentes, de menor orçamento e que não tenham este tipo de compromisso publicitário, mas Kelly mesmo completa dizendo que cada roteirista escolhe o rumo da sua carreira, mas esses projetos realmente não são a sua praia porque não é a forma que ela gosta de trabalhar.
Em suma, o resultado que o público assiste na tela não reflete necessariamente a visão do roteirista nem mesmo o diretor. Neste caso, Sam Taylor-Johnson, que está a frente do primeiro filme, não voltará para dirigir a sequência, como foi dito publicamente ela e a Erika, autora e produtora executiva, têm pontos de vista diferentes e discordaram muitas vezes durante as filmagens de “Cinquenta Tons de Cinza”. Como é sabido, o estúdio deu a EL James total carta branca no projeto, com isso, neste caso a diretora preferiu sair de cena.
Não é muito comum o autor de um livro ter tanto poder quando vende os direitos autorais de sua obra para um estúdio. O próprio John Green, apesar de estar presente no set e ajudar a promover os filmes baseados em seus livros, diz que não entende nada de roteiro e cinema e acompanha as filmagens como um mero espectador, assim como Veronica Roth, autora da série “Divergente”, também afirma que não tem nenhum envolvimento com as decisões criativas tomadas pelo diretor e produtores dos filmes baseados em seus livros. A própria JK Rowling, autora de “Harry Potter”, só fez uma exigência ao estúdio, que o elenco do filme fosse britânico, e assim foi.
Mas EL defende seu crédito de produtora executiva com unhas e dentes. Segundo James, ela mergulhou de cabeça em todo o processo a fim de assegurar que a expectativa dos fãs, que a tornaram famosa, fosse atingida.
E creio que pelo sucesso de bilheteria, apesar de algumas críticas e insatisfações, EL James tenha atingido seu objetivo. Por outro lado, nem EL escapou do controle do estúdio em relação às cenas de sexo, ela queria mais, porém o estudio barrou, por conta da censura, quanto mais explícito menos gente poderia ir ao cinema assistir e isso seria um impacto nos milhões que eles pretendiam arrecadar com a venda de ingressos nos EUA e pelo mundo afora.
Fazer um bom filme, especialmente quando baseado em um best-seller é importante para todo mundo que participa do projeto, agradar ao público pagante é o foco de todos, ao mesmo tempo que os produtores e os estúdios têm também que cumprir seu contrato com os investidores.
Não é uma tarefa fácil, tem muita gente envolvida, muito dinheiro circulando e muitas detalhes que fogem ao controle dos nomes que aparecem na tela para o público, como o do diretor, roteirista e até da autora do livro.
Por mais poder que, neste caso, Erika tenha na adaptação dos seus livros para o cinema, cada detalhe tem que passar pelo crivo dos produtores e do estúdio.
Fico imaginando que o próprio Christian Grey, “control freak”, jamais curtiria trabalhar em Hollywood. Ou pensando bem, ele poderia ser o DONO do estúdio e dar a palavra final no filme que contasse a sua versão da historia com Anastasia Steele. Mas enquanto isso não acontece, os fãs podem se deliciar com o livro “Grey”, lançado hoje em homenagem ao aniversário de Christian, que promete bater recordes de vendagem e levar a galera ao delírio ao finalmente saber o que se passava na cabeça de Mr. Grey ao conhecer o grande amor que mudou a sua vida.
Confira a versão completa da entrevista da roteirista Kelly Marcel no podcast de Bret Easton Ellis:
http://www.hollywoodreporter.com/news/fifty-shades-grey-kelly-marcel-801503
Acho toda a história de Christian & Ana, envolvent e maravilhosa. O filme é bom, pecando um pouco em ‘detalhes’ para devida compreensão da história. Mas, sei q são mundos diferentes portanto parabenizo à todos os envolvidos no projeto. Vcs nos proporcionaram bons momentos num todo. Valeu muito a pena!!