Hoje celebramos o Thanksgivings nos EUA. A data é a mais comemorada pelos norte-americanos desde os tempos em que os peregrinos se reuniam na última quinta-feira de novembro para festejar os frutos da sua colheita, que serviriam de alimento para o longo inverno que se aproximava. A tradição permanece e até hoje, as famílias se reúnem para agradecer as bênçãos que receberam no ano, como faziam seus ancestrais.
Aproveito esse dia especial para fazer um balanço de tudo que vivi em 2019. Foi um ano trabalhoso e transformador, desafiador, intenso, profundo. Um ano de aprendizado e recomeços, afinal, ao deixar a zona de conforto, tudo muda, a impressão que tenho é que a jornada zerou e, na folha de papel em branco, comecei a reescrever um capítulo novo e sem precedentes, na minha história.
Tudo começou em abril, quando saí do apartamento onde eu morei por 8 anos, em Beverly Hills, o que contribuiu para que eu me mexesse e topasse uma oportunidade profissional temporária em Austin. Depois de 10 anos na Cidade dos Anjos, vim experimentar as dores e delícias da capital do Texas.
Tem pouco mais de 90 dias que cheguei aqui e a trajetória foi marcada por altos e baixos, com um saldo bem positivo.
No primeiro mês, me hospedei em 2 Airbnbs e 2 hotéis diferentes e recebi a visita ilustre dos meus pais, que moram no Rio e vieram me dar um apoio especial nesse momento transitório, já que, diferente do que aconteceu quando fui pra LA, onde eu tinha vários amigos, na cidade nova eu não conhecia ninguém.
Entre o caos de procurar apartamento e carro, comecei a fazer Uber com pessoas (o delivery de comida eu já fazia faz tempo em LA) e conviver, mesmo brevemente, com gente no meu carro, está me deixando ainda mais fascinada pelo seres humanos, suas personalidades, conversas, prioridades e relacionamentos. E estou decidida a transformar essa experiência, que tem alimentado a minha criatividade e engordado meu orçamento, numa coleção de contos.
E, com pouco tempo livre e muita determinação, os meses passaram rápido e trouxeram um novo lar, inaugurado por uma inundação, e decorado com meus pertences que resgatei num storage em LA e transportei de carro, numa viagem de 2 dias, cruzando 4 estados nos EUA.
Os dias também foram abençoados com a cobertura de dois festivais de cinema, o Fantastic Fest (de filmes de terror) e o Austin Film Festival, e um trabalho no rancho de um dos meus cineastas favoritos, Richard Linklater. Não fiz nada de glamouroso por lá não, carreguei caixa, montei buffet do evento, mas tive o privilégio de usufruir da energia de Rick e sua família, que receberam os convidados e a equipe carinhosamente. Da experiência levo, o que eu já sabia trabalhando no entretenimento no RJ e em LA, as “estrelas” são infinitamente mais simpáticas, generosas e gentis, do que todos aqueles que as cercam. Foi mágico conhecer o oráculo de quem um dia escreveu o filme que me inspirou a deixar a minha zona de conforto. Celine saiu do trem com Jesse em “Antes do Amanhecer” e eu saí do meu trem rumo ao mundo. Eternamente grata a Linklater pela inspiração.
E, assim, parece que estou em Austin há 3 anos, não só 3 meses, com um novo grupo de amigos, nenhum brasileiro ainda, mas um paquistanês incrível e vários americanos de diferentes estados, raças e idades.
Com eles tenho aprendido mais sobre o país, e mais sobre a falta de diversidade que tanto abala o Texas. Austin é uma cidade linda e divertida, mas os brancos (não só na cor da pele, como na mentalidade) dominam aqui e nos lembram todos os dias porque estamos na Trumplândia. Me sinto privilegiada de ter a oportunidade de estar com o grupo do contra, que colore e enfeita, com outras culturas e etnias, a Capital.
Minha passagem por aqui tem prazo de validade, ainda assim, nesse Dia de Ação de Graças, fico profundamente agradecida pela oportunidade que Deus me dá de me reinventar e continuar realizando meu sonho de viver várias vidas diferentes dentro da minha. Escrevo esse novo capítulo com paixão e tesão, que a vida fora da bolha me traz e esse é o maior e mais saboroso fruto da minha colheita esse ano.
Espero que vocês também tenham muitos motivos pra agradecer e que, mesmo essa data não sendo oficialmente celebrada no Brasil, tenham a oportunidade de fazer uma reflexão dos seus dias nublados e ensolarados, das vitórias, dos perrengues e das bênçãos recebidas, pois reviver alguns momentos bons e ruins da nossa história recarrega a energia dos determinados em cruzar no caminho com a felicidade.
Happy Thanksgivings!
Com amor,
Claudinha
Para os meus pais, que nunca, jamais, cansam de fazer sacrifícios para me apoiar e me ver feliz! A Deus e a São Judas, que me abençoaram com pais como os meus e com a vontade de jamais desistir.