Nem tudo é o que parece ser

Chegou aquele momento do ano que repensamos alguns de nossos comportamentos e conceitos, tudo que apreciamos e as coisas que gostaríamos de mudar no novo ano que vai começar. E como em 2014, John Green foi uma das estrelas que desfilaram no tapete vermelho do Hollywood é Aqui, aproveitamos seus ensinamentos, para o crescimento pessoal que esperamos alcançar em 2015.

Desde pequenos ouvimos o ditado “nem tudo é o que parece ser”, mas nós seres humanos temos como característica julgar uma pessoa ou qualquer situação pelas aparências.

Todos nós já fizemos isso em diversas circunstâncias. Por mais que eu tente fazer o exercício de não criar um conceito preestabelecido de uma pessoa pela maneira que ela se veste, a cor do cabelo, os acessórios que usa, e o comportamento que tem, muitas vezes eu me pego julgando outro ser humano baseando-me apenas nessas características superficiais. Ou às vezes apenas em fatos que a sociedade como um todo não acha “normal”. Eu mesma vivi essa experiência de perto, quando namorei um rapaz de uma classe social diferente da minha, recebi muitas críticas, olhares, e ouvi comentários vindos de todos os lados, foi um bombardeio de opiniões baseadas na conta bancária e no status social da gente. Da mesma forma que fizeram comigo eu também á fiz com outros.

É difícil mudar uma característica que é inerente  à alma humana, está enraizada no DNA e por isso passa de pai pra filho.

Mas o mestre John Green fez a sua parte ao abordar de forma poética e romântica este assunto em seu livro “A Culpa é das Estrelas.”

A história de amor de Hazel Grace e Augustus, dois jovens com câncer terminal que se conhecem em um grupo de apoio e se apaixonam, será inesquecível por muitas razões. O filme baseado no livro foi simplesmente o mais lucrativo produzido em Hollywood em 2014. Quebrou recordes de bilheteria nos EUA e no mundo, assim como a obra de John que é um best-seller internacional.

Mas eu por exemplo acho que o sucesso deste trabalho não está só no aspecto romântico e emocional que é óbvio na história. John Green é um escritor tão brilhante que consegue fazer nas entrelinhas seu público pensar sem mesmo perceber. Isso é um talento que muito pouca gente tem, ele é um privilegiado por saber aproveitá-lo e nos abençoados por estarmos vivendo neste mundo na Era John Green.

Em “A Culpa é das Estrelas”, ele nos ensina a perceber diferente as pessoas com câncer. Na passagem do livro em que John cita o famoso artista surrealista Rene Magritte, ele aborda justamente a forma como nos julgamos as pessoas e situações pela aparência.

Na voz de Hazel Grace, os leitores/espectadores entendem que o desenho de um cachimbo não é um cachimbo. Todas as representações gráficas de um objeto são abstratas, explica Hazel a sua mãe, completando, “isso é muito inteligente.”

 

 

Na última entrevista da tour do filme nos EUA, uma repórter pergunta a John porque ele resolveu colocar no livro que ele escreveu inicialmente para o público adolescente um conceito de um artista surrealista.

Ele adorou falar do tema e explicou: “a minha esposa trabalha com arte e eu acho que aquela peça captura de forma brilhante a diferença entre o que somos e como somos percebidos.

É uma foto do cachimbo que diz isso, não é um cachimbo e não é mesmo. Mas é claro que quando você olha para a foto do cachimbo, pensa é um cachimbo. Porque a tendência é pensarmos que a foto do objeto é o objeto em si. Não só quando olhamos uma foto ou ilustração, mas também quando estamos diante de um pessoa ou uma situação.

Quando a gente pensa numa pessoa com uma doença séria, como o câncer e a Aids, vem a nossa mente a representação daquela pessoa (fraca, sofrida, triste) porque está doente. Nós confundimos a representação da pessoa ou seja a ‘fotografia’ que o fato de saber que alguém tem uma doença séria traz a nossa mente, com a realidade que aquelas pessoas de fato vivem.

hazel_grace_camisa_magritte

Por conta deste julgamento, as pessoas doentes são percebidas como coitados que não podem ter desejos sexuais, ou serem amados pelo simples fato de estarem doentes. Eu achei essa peça de arte fantástica, para mostrar que isso não é verdade, já que como o cachimbo a figura da pessoa doente não é real, não é o que a pessoa está sentindo. Nós não devemos julgar nada ou ninguém com base no que estamos vendo.”

Confira o video da entrevista original de John Green em que este post foi baseado, ele responde a pergunta sobre o “cachimbo” no minuto 5:50

 

 

Uma lição e tanto que John nos dá ao interpretar e usar com tanta sabedoria o trabalho de Rene. E serve não só para reavaliarmos os nossos conceitos em relação as pessoas com câncer ou qualquer outra debilidade física ou doença emocional, como é um importante alerta para pensarmos como estamos agindo em relação a todas as pessoas que estão ao nosso redor, familiares, amigos, desconhecidos. Estamos nos julgando alguém pela figura que a pessoa representa e não pelo que de fato ela e? Quão mal isso pode estar fazendo a ela e pior a nós mesmos.

O exercício de olharmos para alguém sem formarmos uma opinião antes de um bom papo, seja pessoal ou virtualmente é árduo, mas necessário.

Se julgarmos menos pelas aparências podemos transformar a nossa história com o próximo, nos aproximar mais dos outros, nos tornando mais interessantes.

Talvez essa seja uma boa hora de reinventar a forma que você percebe o mundo. Pois uma coisa nós já aprendemos, mesmo com câncer Augustus e Hazel têm uma história de amor que muita gente saudável nunca chegou nem perto a viver, talvez pelo simples fato deles entenderem que alguns infinitos são maiores que outros, mas que temos que aproveitar o nosso momento, sem perder tanto tempo julgando ou pensando na vida alheia, mas valorizando as bençãos que recebemos e correndo atrás de realizarmos nossos próprios sonhos.

Aproveitar o nosso infinito vai tornar a nossa caminhada mais divertida e preciosa, e vai nos dar a chance de viver melhor a nossa própria história.

Graças a John Green eu sigo firme no exercício de não julgar pelas aparências, e focar na minha jornada nesta terra, dentro daquela mágica montanha-russa que só sobe.

Feliz dezembro! Que todos possam fechar com chave de ouro o ano que está prester a terminar e que 2015 venha com boas energias, muita saúde e que a gente curta juntos a estreia na telona de “Cidades de Papel” outra obra-prima de John Green.

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