Por: Luana Mattos
A hashtag MeToo foi tendência no Twitter em 2017, mas o movimento não está nem perto de sair de moda. Desde então, muitas mulheres (e homens) aderiram e uniram forças ao movimento. Séries e programas de TV americanos, como “13 Reasons Why” e “Will & Grace”, abordaram temas como misoginia e assédio sexual em seus enredos, para expressar seu apoio ao movimento, tornando-o relevante até o dia de hoje.
Em um questionamento pessoal, me indaguei, “o que torna a minha voz relevante?” Afinal, eu, pessoalmente, não sofri nenhum tipo de abuso ou assédio sexual, então por que eu deveria escrever sobre isso? Pesquisando sobre o tema, me deparei com duas frases que trouxeram resposta a minha indagação. “SIM, a sua vivência pessoal não é argumento para discutir problemas que ocorrem com outras pessoas”. Entretanto, a frase conclui que “diversas vivências individuais formam argumentos”. E neste caso, compreendi que talvez seja a minha imparcialidade no assunto que torne a minha voz relevante, mas, com certeza, é o meu olhar humano e compassivo que a faz digna de ser ouvida. E, talvez seja na nossa incapacidade de enxergar o outro como um indivíduo, que nem sempre pensa ou sente como nós, que more o preconceito e se perpetue a intolerância.
A minha experiência individual, ou até mesmo a falta dela, não é capaz de gerar um movimento global, mas as experiências ou vivências dessas corajosas mulheres abriram o caminho para que outras mulheres não precisem passar pelo que elas passaram.
Em seu TED Talk, Tarana Burke conta que foi exatamente desta forma que o movimento Me Too começou: uma experiência individual somada a um “eu também” mais outro “eu também” e assim por diante. Desta forma, ela descobriu que precisava fazer algo a respeito, afinal, já não se tratava mais da experiência individual dela, nem de sua capacidade de superar e ainda motivar outras mulheres através de suas palavras, este era o momento de convidar o mundo para esta conversa, mesmo que nem todos dissessem “eu também” sobre o assédio sexual, pois, afinal, todos compartilham um “eu também” com alguém.
O movimento #MeToo ganhou força nos bastidores da sétima arte, para mostrar que, infelizmente, até nisso, a arte imita a vida (ou é a vida que imita a arte?), e, que até mesmo as mulheres mais elegantes e bem-sucedidas sofrem em silêncio. Mas, não mais! De acordo com um artigo publicado no The New York Times, em outubro de 2018, o movimento derrubou 201 homens (acusados de assédio sexual) do poder, abrindo espaço para que 54 mulheres talentosas e competentes assumissem suas posições!
Segundo sua criadora, a #MeToo não se trata apenas de um “momento” ou de uma tendência nas mídias sociais, mas, sim, de um “movimento”, afinal, desde que estas verdades vieram à tona, já não é mais possível, nem conveniente, jogá-las para debaixo do tapete vermelho, pelo contrário o movimento segue firme e forte, balançando as estruturas de potências mundiais.
Todavia, Burke compartilha sua preocupação de que o movimento esteja perdendo sua essência: “em todos os lugares que o Me Too foi um sucesso – Austrália, França, Suécia, China e agora Índia – os sobreviventes da violência sexual estão todos sendo ouvidos de uma vez e depois difamados. Homens brancos ricos que aterrissaram suavemente com seus paraquedas de ouro, após a divulgação do comportamento terrível deles. E somos convidados a considerar o futuro dessas pessoas”.
“Mas, e quanto aos sobreviventes?”, ela questiona em seu discurso. “Este movimento está sendo constantemente chamado de um momento divisor de águas ou, até mesmo, um acerto de contas, mas acordo alguns dias sentindo que todas as evidências apontam o contrário”.
Tarana nos convida a voltar à essência do movimento, “este é um movimento sobre uma em cada quatro meninas e um em cada seis meninos que são agredidos sexualmente todos os anos e levam essas feridas para a idade adulta. Trata-se dos 84% de mulheres transgênero que serão agredidas sexualmente este ano e das mulheres indígenas, que têm três vezes e meia mais chances de serem agredidas sexualmente do que qualquer outro grupo. Ou das pessoas com deficiência, que são sete vezes mais propensas a sofrerem abuso sexual. Trata-se dos 60% de meninas negras como eu, que sofrerão violência sexual antes de completarem 18 anos, e dos milhares e milhares de trabalhadores de baixa renda, que estão sofrendo assédio sexual neste momento em empregos que não podem se dar ao luxo de abandonar. Este é um movimento sobre o poder da empatia de longo alcance”.
Independentemente de suas experiências pessoais, dos seus argumentos ou posicionamentos, eu gostaria de convidá-los a unirem as suas vozes, e dizerem “eu também” a um mundo livre da violência sexual!
Confira a íntegra do discurso: https://www.ted.com/talks/tarana_burke_me_too_is_a_movement_not_a_moment?utm_campaign=tedspread&utm_medium=referral&utm_source=tedcomshare
“Um ser humano que chora, ri, se decepciona e se surpreende, mas acima de tudo alguém que teve a vida transformada por Jesus. Ama ler e escrever, e acredita que as palavras têm poder e que podemos mudar o mundo através delas.”
@luanatmattos