“Lar é onde sua história começa…”
Outro dia atravessando a pé a Brooklyn Bridge em NY pensei na minha sobrinha. Stella tem 1 ano e 9 meses e eu estou curiosa para saber se ela tem ou não o “DNA” de morar no exterior.
Porque sinceramente eu acho que é físico, a gente nasce com isso. Hoje eu comemoro 7 anos vivendo nos EUA. Mas pensando bem, desde de muito nova, adolescente ainda, eu já tinha o objetivo de morar fora do Brasil, mais especificamente na Terra do Tio Sam.
Claro que na época eu acreditava que era influência dos filmes e séries que assistia desde a infância e que sempre fui obcecada, mas com os anos e a experiência de viver aqui, descobri que não basta ser fã para sobreviver na terra estrangeira. Tanto que ao longo desses últimos anos eu conheci muitas pessoas das mais diferentes nacionalidades que passaram um tempo nos EUA, mas voltaram pro seu país de origem, satisfeitos com a experiência temporária, porém contentes de voltar para casa. Alguns até vieram certos que iriam ficar para sempre, mas quando se depararam com a realidade do sonho viram que não era a praia deles chamar de lar uma cultura que não vai te pertencer jamais.
O que por sinal é super nobre, a maioria avassaladora dos seres humanos, inclusive meu irmão, pai da Stella, não nasceu com esta química de fixar residência num país que não é e nunca será seu. Viajar sim, descobrir e curtir o mundo é uma característica que o Diogo e muita gente tem. Mais que um hobbie é um vício até. Mas morar é diferente, e eu tenho que concordar que não é necessariamente fácil, mas eu, talvez por conta do tal “DNA”, acho fascinante.
Porém tenho que admitir que a minha primeira experiência em Houston, aos 27 anos, não foi bacana. Não por conta da cidade, mas porque eu não estava preparada para viver longe do porto seguro, e mais ainda num país com tantas regras. Fiz como a maioria e voltei pro Brasil depois de 1 ano.
Quando retornei para a Califórnia em 2009 já estava numa outra fase da minha jornada. A “party girl” que sempre vai existir dentro de mim já estava pronta para se aposentar. Aos quase 37 anos, eu me mudei para LA com uma bagagem privilegiada: trouxe todas as farras que fiz no Rio de Janeiro, uma das cidades mais divertidas do mundo, muitos amigos da vida, e uma família que apesar da saudade sempre me apoiou incondicionalmente. E, sem dúvidas, este pacote já foi um adianto e tanto na minha adaptação.
Mas acho que tem duas características básicas que as pessoas que moram aqui por opção, não por necessidade, e escolhem uma cidade onde não têm família ou amigos, têm em comum: uma é administrar as suas culpas de estar longe sem deixar isso consumir seu dia a dia, em suma, somos mais egoístas. E o desdobramento do “egoismo” é lidar bem com a solidão. Porque é feliz aqui quem gosta de passar muito tempo sozinho e tomar as suas decisões sem interferência do meio. Claro que você pode fazer isso morando em seu próprio país, mas aqui não é uma escolha, é uma necessidade.
Por outro lado, apesar de algumas pessoas insistirem em glamourizar a experiência da vida no exterior nas redes sociais, a caminhada é bem desafiadora, cansativa até, porque aqui é cada um por si mesmo e temos que cuidar de todos os aspectos das nossas vidas sozinhos. Glamour eu vivia nos tempos que trabalhava como gerente de multinacional no Rio e ia almoçar no restaurante Gero, um dos mais caros do país. Hoje tenho muito, mas muito menos dinheiro, e apesar de encontrar os famosos graças ao meu trabalho e às oportunidades que LA e NY oferecem, tenho uma vida muito menos luxuosa do que tinha no Brasil.
Mas talvez por ter o tal “DNA” foi aqui que eu encontrei a minha paz. Eu não consigo descrever em palavras o porquê dirigir horas sozinha numa estrada no meio do deserto onde celular não pega, e não tem uma alma viva, e carros passam esporadicamente, me traz tanta tranquilidade. Tem gente que me acha maluca por ir para o Vale da Morte na minha singela companhia, mas pra mim foi uma das melhores viagens que já fiz até hoje. Outras pessoas podem achar um absurdo eu, com 3 pós-graduações, achar excelente sentar numa plateia num desses programas cafonas de corte judicial, que só fazem sucesso nos EUA, para ganhar $10 a hora e pagar o chope com esta graninha extra. Já eu acho uma experiência antropológica e sinceramente um dinheirinho fácil de ganhar, sem aborrecimentos, assim como meus amigos que dirigem Uber adoram conhecer gente nova. No Brasil, tinham vida de príncipe e aqui engrossam o orçamento como “motoristas”.
Muitas pessoas não vão entender nunca, e perguntam mas por que você sai da sua terra, fica longe das pessoas que você ama, desce tantos degraus no país dos outros, quando você podia estar com todo o status do mundo na sua própria terra? E é aí que vem a minha resposta: minha paz está justamente em poder viver sem me preocupar tanto com status, a opinião alheia,sem contar que, ser estagiária, depois de ser gerente, só me deu a oportunidade de viver sem pressão, ser estudante, só me trouxe amigos mais jovens e novas ideias que deram um gás na minha própria história. Ser apenas mais uma nas ruas de Manhattan só me faz perceber o quanto eu era arrogante e me achava importante demais, e me ajudou a colocar os pés no chão, e questionar as minhas próprias verdades. Este encontro comigo mesma, tudo que descobri no meu silêncio, o aprendizado em viver com menos dinheiro só contribuiu para que eu valorizasse mais a vida e, especialmente, as minhas próprias conquistas. E só me dá forças para que eu continue a sonhar e CELEBRAR mais as oportunidades que Deus me dá.
Eu admiro quem consegue fazer toda esta revolução emocional sem sair do porto seguro. Eu precisei vir morar milhas e milhas longe dele para me reinventar. Quanto à Stella, eu desejo mesmo é que ela seja feliz com suas próprias escolhas, porque no fundo na vida o que importa mesmo não é onde vivemos, mas é vivermos em paz com nós mesmos. E de todas as fantásticas experiências que tive nos últimos anos é a serenidade da minha vida hoje que mais comemoro neste sétimo aniversário de “América”, e agradeço a Deus pelo “DNA” afinal de contas foi ele que me trouxe até aqui.
Aos meus pais que foram obrigados a engolir a minha escolha, têm que conviver com a minha ausência, e se sacrificam muito até hoje para me ajudar. E para a Stella, seja onde for, que ela tenha uma jornada serena e viva em paz.
Que texto lindo, Claudinha!
Eu, particularmente nos meus 22, tenho e sempre tive muita vontade de conhecer os EUA. Principalmente todas essas cidades mais famosas que nossa cultura brasileira tanto gosta de enaltecer, já que o país aí, querendo ou não, influencia muito os gostos dos brasileiros. Até hoje imagino como vai ser lindo eu andando por cenários de filmes e séries que já vi (encontrar o ídolo de bobeira, porque não? haha). Certeza que vou sair fotografando até os pombos. Visitar a Disney em Orlando, quem não quer?
Mas refletindo com seu texto, não sei se fixar moradia por aí seria meu negócio, sabe? Claro que esse é só meu pensamento atual, nas minhas condições atuais e maturidade pessoal e profissional atual. Sou bastante apegado ao lugar onde vivo, às pessoas que convivo e às regras de viver por aqui, afinal, nasci aqui e toda essa aprendizagem foi natural. E talvez seja isso que mais aflige em, não só morar, mas em visitar, não só outro país, mas até outro estado: a ideia de que a cultura vai ser totalmente diferente da sua, medo de não se encaixar, de fazer besteira, de não se acostumar, medo de não gostarem de você.
Enfim…
Sei que essas ideias são por pura falta de experiência minha e, apesar de tudo isso, não deixo eles apagarem a minha vontade de conhecer outros lugares.
Bem bacana o texto. Adorei que ele despertou toda essa reflexão em mim, ahauahuha.
Mas é isso aí. Boa sorte, Claudinha.
Olá Cláudia! gostei do seu texto. Acho que não tenho o DNA da mudança para viver em outro país, mas o DNA de fazer a experiência, de conhecer esse eu tenho.Minha vida é um pouco diferente, sou casada há 30 anos, tendo um marido que apoia meus sonhos, curiosidades e novas descobertas.Em outubro farei um intercambio de 30 dias em NY. Pouco tempo, mas para mim será uma grande aventura pois irei sozinha.
Acredito que fazer escolhas é uma coisa muito difícil, mas quando fazemos e nos sentimos em paz, como gosto de dizer em “estado de graça” é o que importa.Outra coisa que considero importante : estarmos abertos sempre ao aprendizado nos alimenta com a sabedoria diária, coragem, esperança,curiosidade.
Parabéns pelo texto.
Beijos!!!
Magda/
Betim/Minas Gerais