“Lagoa Azul” foi o primeiro filme que aluguei na locadora (no século passado a gente tinha um aparelho chamado vídeo cassete que usávamos para assistir filmes gravados em uma fita, chamada VHS).
O momento foi tão marcante, não só pela estreia do meu novo aparelho, mas também porque foi o primeiro filme que me viciei. Na época, eu tinha uns 12 anos e perdi a conta de quantas vezes eu aluguei a VHS pra assistir “Lagoa Azul”. Lembro que só parei porque o filme começou a ser exibido na Sessão da Tarde e eu passei a ver de graça. Até minha mãe sabia de cor a trajetória da personagem interpretada por Brooke Shields, perdida numa ilha, vivendo um grande amor.
A atriz, ainda muito jovem, estava no auge da sua fama nos anos 80, além de ser o centro das atenções em Hollywood, ela era capa de todas as revistas e fazia as principais campanhas publicitárias daquela década. Eu, que morava no Brasil, acompanhava à distância a carreira da bela Brooke, de quem eu sempre fui fã. O que eu não tinha ideia é do pesadelo que Shields vivia na época. Abusada pelos figurões do entretenimento, vítima de uma mãe narcisista, a jovem Brooke vivia o glamour à custa da sua saúde mental.
O sucesso custou caro pra bela, mas ela deu a volta por cima e reconstruiu a sua vida e a sua carreira, como compartilhou no documentário “A História de Brooke Shields”. Confesso que tive que pausar em alguns momentos para secar as lágrimas e processar a jornada de Brooke, não só por ela, mas por imaginar tantas outras mulheres que sofreram situações semelhantes e outras muito piores. Se ela, uma mulher branca, considerada a mais bonita do mundo na época, estava sendo explorada daquele jeito, imagina o que as pretas, latinas, indígenas não estavam passando (aliás, as minorias sofrem muito até hoje).
Essa consciência torna o relato de Brooke ainda mais relevante. E ficou ainda mais especial quando, pra felicidade da adolescente que mora no meu corpo cinquentão, tive a honra de conhecer a protagonista do primeiro filme que marcou a minha vida, no evento Variety TV FYC Fest. E, ao contrário da surpresa triste que tive ao assistir o documentário sobre os desafios da sua trajetória, fiquei radiante ao ver que Brooke Shields é tão simpática quanto é bonita.
Aos 58 anos, Brooke nunca se sentiu tão linda, e, como ela mesma coloca, a sua beleza não é estética, mas está na sua paz interior, “esse documentário foi o projeto mais difícil da minha existência, pois tive que mexer em caixinhas e reviver alguns episódios do meu passado que, naturalmente, ativaram muitos gatilhos em relação à forma que fui tratada pela mídia, como fui criticada por famosos e pelo público, como fui usada por homens adultos que ocupavam cargos altos no entretenimento e ainda, sobre a minha conturbadas relação com a minha mãe. Embora tenha sido dolorido, eu não imaginava que também me traria tanto conforto. Eu levei anos e fiz muita terapia pra encontrar minha paz interior, mas revisitar algumas feridas foi necessário pra cicatrizá-las. Foi um processo longo, cansativo, mas fascinante e importante. E eu sei que não fui a única vítima de abuso e exploração, eu escolhi falar disso também porque acho que a minha história pode ajudar algumas pessoas que tenham ou estejam passando por uma situação semelhante, espero que as inspirem a procurar ajuda. A minha ideia é que se eu conseguisse ajudar 1 pessoa, já ia ter valido muito a pena. E, depois da estreia do documentário, tenho recebido muitas mensagens de pessoas, homens e mulheres, do mundo inteiro, que se identificaram com alguma parte da minha jornada. Se eu tenho algum valor, eu gostaria de ser um fio condutor para ajudar as pessoas a entenderem elas mesmas. Eu não sou nenhuma guru, eu sou apenas uma pessoa comum que viveu essa louca trajetória, essa é a minha vida. Acho que somos muito mais parecidos nas nossas experiências como ser humano do que imaginamos. Especialmente quando você vê uma pessoa famosa, parece que estamos distantes da maioria das pessoas, mas não, a gente pode ter vidas muito diferentes, mas ao mesmo tempo vivemos situações muito semelhantes. Acho que através do documentário, as pessoas conheceram a minha verdadeira história, contada por mim, não pelos tabloides, e com isso, meu objetivo de mostrar minha verdade foi alcançado, tô feliz e agradeço o carinho de todos”.
Ah, Brooke, quem agradece a sua gentileza e a sua autenticidade sou eu. Não sabia toda a dor e a pressão que você vivia quando interpretou Emmeline, em “Lagoa Azul”. Mas se eu já te admirava nos meus anos dourados, te aplaudo ainda mais hoje, quando aos 50 anos, tive o prazer de conhecer você, as suas dores e suas conquistas, que me inspiraram tanto quanto meu filme predileto na adolescência.
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vv | “A História de Brooke Shields” vai além do título de símbolo sexual conferido à atriz quando ainda era adolescente. Na minissérie documental, a própria assume um tom confessional para falar sobre sua conturbada juventude sob os holofotes e sobre a jornada que realizou para se tornar a mulher que é hoje. Dividido em duas partes, o documentário explora, na primeira, a forma pela qual Brooke foi introduzida numa indústria que estampou nela – ainda menor de idade – um selo de ícone sexy e a relação com sua mãe e empresária. Já no segundo segmento, Shields fala sobre a virada que conseguiu dar em sua vida ao entrar na faculdade e sua trajetória de superação como mulher, mãe e profissional. Fonte: AdoroCinema |
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