Sempre fui mais fã de Michelle Obama do que de Barack, até porque seu governo bateu recorde de deportação e muitas das atrocidades que acontecem hoje em dia são fruto da falta de atitude do ex-presidente, que era amado pela imprensa, pelas celebridades e pelos democratas, mas deixou muito a desejar aos imigrantes.
De qualquer forma, este fato não anula a admiração que sinto por sua esposa, Michelle Obama. A Primeira Dama mais popular dos EUA, desde Jacqueline Kennedy, ao contrário de todas as suas antecessoras, veio de uma família humilde. Cresceu num sobrado, na periferia de Chicago, onde dividia a sala com o irmão. Estudou em escola pública e, por mérito dos seus esforços, conseguiu uma bolsa em uma das faculdades mais prestigiadas do país. Sofreu no primeiro emprego corporativo, que não era a sua praia, mas dava dinheiro para pagar suas dívidas. Foi lá que conheceu Barack, que viria a ser seu futuro marido e presidente da nação mais poderosa do mundo.
Ela compartilha toda a sua jornada no livro “Minha História”, inclusive o fato de ter se oposto à carreira política do marido e a sua candidatura à presidência. Em sua biografia, ela abre o jogo também sobre sua dificuldade para engravidar, sobre a doença de seu pai durante toda sua vida, a garra da sua mãe e o papel fundamental que ela teve na criação de suas filhas. Michelle fala sobre seus projetos na área de educação e a importância do empoderamento feminino, pois ela, negra, trabalhando entre brancos no começo de sua carreira, sofreu na pele preconceito e teve que aprender na marra, e com inteligência, a conquistar seu lugar ao sol.
Apesar de discordar das plataformas do governo Obama, creio que o trabalho de Michelle como primeira dama foi a melhor herança dos anos de Barack na Casa Branca e acho que a história dela é inspiradora e vale a pena conferir sua autobiografia, bem escrita, fácil de ler, emocionante e, por horas, divertida.
Mas, o que achei mais interessante foi que, ao ler “Minha História”, lembrei da revolucionária brasileira, Anita Garibaldi. A catarinense que não é conhecida e valorizada no país como deveria, mas que é considerada pelos historiadores “A Heroína de Dois Mundos”. Anita conheceu o italiano Giuseppe Garibaldi na Guerra dos Farrapos, no sul do país, e se juntou ao exército farroupilha, onde participou de diversas batalhas que ilustram nossos livros de história, mas que não dão a ela o crédito que merece. O casal, e seu filho primogênito, deixou o Brasil com a benção de Bento Goncalves, o líder dos farrapos, e partiu para o Uruguai, onde casaram oficialmente e tiveram mais 3 filhos. Mas o coração de Anita e Giuseppe pertenciam às grandes causas, e Anita retornou com o marido à Italia, sua terra natal, onde lutaram juntos pela unificação do país. Foi lá que ela faleceu, ainda jovem, de complicações da sua quinta gravidez, e é considerada uma grande heroína pelo povo da terra que adotou.
No século XIX, quando a expressão empoderamento feminino nem sonhava em existir, assim como não existiam carros, telefones ou redes sociais, Anita foi um exemplo de mulher destemida, guerreira jovem e determinada, ela, como Michelle Obama, nunca viveu à sombra de seu poderoso marido. Ambas entraram para a história da humanidade através de suas próprias conquistas, suas ideias e seus esforços, que foram além de suas famílias, seus países e, especialmente, seus espelhos. Anitta e Michelle saíram da sua zona de conforto e construíram uma jornada inspiradora baseada em seus ideais.
Sou fã de Anitta Garibaldi desde que ela foi uma personagem na minissérie “A Casa das Sete Mulheres”, exibida na TV Globo em 2003. Por causa da série, eu li a biografia de Anitta, escrita por Paulo Markun, que ainda está à venda no Brasil.
Fiquei impressionada como o quanto Michelle Obama e Anita Garibaldi têm em comum. Acho importante Michelle ser um sinônimo da luta dos direitos da mulher e das minorias no nosso século, mas acho fundamental as jovens e mulheres brasileiras conhecerem a trajetória de uma das nossas guerreiras, generosa, apaixonada pelo povo, e ao mesmo tempo dedicada a sua família. Anita Garibaldi é mais que uma foto ou menção no livro de História, ela é a nossa história, que deve ser prestigiada, mais que nunca, nos tempos sombrios que estamos vivendo.
O primeiro encontro de Michele e Barack Obama está registrado num filme delicioso de assistir. Vale conferir: