Hollywood é Aqui deixa sua nova morada, em Austin, para matar as saudades da sua terra natal, afinal nosso coração cinéfilo não poderia deixar de prestigiar os eventos da semana do Oscar em Los Angeles.
Especialmente quando temos um documentário brasileiro, “Democracia Em Vertigem”, na corrida pela estatueta, na categoria melhor documentário longa-metragem.
A diretora Pietra Costa e os produtores estiveram no evento que celebra os docs indicados realizado na terça-feira, no teatro da Academia. Elegante, ela falou sobre o projeto, que está disponível na Netflix, apresentou um clipe e compartilhou a retaliação que está sofrendo no Brasil, graças a uma hashtag iniciada pelo atual presidente que afirma que seu filme é fake news, o que as pessoas inteligentes sabem que não procede, afinal a cineasta apresentou fatos em seu documentário, não ilusões.
Mas para os moradores da Trumplândia, os devaneios de Bolsonaro e sua turma não são supresa, tendo em vista que ele é um pupilo de Donald Trump.
Mas a noite foi, na verdade, uma comemoração dos documentários de curta e longa metragem, que mostram a jornada de personagens fascinantes da vida real.
Aqui damos uma palhinha dos documentários longa metragem, pois tivemos a chance de assistir todos os indicados e foi uma honra conhecer as mentes brilhantes, diretores e produtores, por trás de obras tão especiais:
“For Sama”, meu favorito depois de “Democracia em Vertigem”, é uma jornada íntima e épica para a experiência feminina da guerra. Uma carta de amor de uma jovem mãe para sua filha, o filme conta a história da vida de Waad al-Kateab, durante cinco anos da revolta em Aleppo, na Síria, quando ela se apaixona, se casa e dá à luz Sama, durante todo o conflito cataclísmico sobe ao seu redor.
A diretora Waad al-Kateab e Edward Watts, seu co-diretor, falaram conosco sobre seu trabalho. Waad afirma que tirou energia para terminar o projeto da necessidade de mostrar ao mundo as atrocidades que acontecem ainda hoje em seu país. Atualmente, ela mora com a família em Londres, depois de ter sido forçada a deixar a sua terra natal. Não é fácil assistir “For Sama”, parei várias vezes pra recuperar o fôlego e secar as lágrimas. Eu já assisti inúmeros documentários sobre a guerra na Síria, todos relevantes e emocionantes, mas “For Sama” é o primeiro que vi que conta a história sob o ponto de vista de uma jovem jornalista que tinha por objetivo realizar seu sonho de ter uma família e criar sua filha, em sua própria pátria. Para Sama, ela explica as razões que levaram ela e o marido a correrem todos os riscos, enquanto lutava com uma escolha impossível – fugir ou não da cidade para proteger a vida de sua filha, quando sair significava abandonar a luta pela liberdade pela qual ela já sacrificou tanto.
Trailer legendado:
Outro indicado, o documentário “The Cave” (A Caverna) também mostra ao mundo o que está acontecendo em um outra região na Síria. O Leste de Ghouta está sendo seguidamente bombardeado por aviões russos, cerca de 400 mil habitantes locais encontram refúgio em uma complexa rede de túneis, construídos no subterrâneo da cidade. Lá também funciona um hospital apelidado de The Cave, para onde são levadas as vítimas dos constantes ataques. Quem lidera a equipe é a doutora Amani, que dá especial atenção às crianças atingidas pelos bombardeios.
Para a nossa alegria, além do diretor Feras Fayyad, a doutora Amani, personagem central do doc, viajou até os EUA e estava presente no evento. Foi aplaudida de pé e arrancou lágrimas da plateia ao afirmar a importância da missão dos médicos que, mesmo em condições super precárias, sem medicamentos, comida, ainda vivem na zona de guerra com o objetivo de tentar salvar as vidas dos feridos que estão confinados na região. O trabalho dela, e de sua equipe, é realmente uma inspiração para todos nós.
O documentário estreou essa semana diretamente para a TV no Brasil.
Trailer legendado:
“Honeyland” está indicado tanto na categoria documentário (que eu achei super merecido) como na categoria filme estrangeiro (o que eu sinceramente discordo, é um belo projeto, mas achei exagero ser indicado na segunda categoria mencionada.)
Verdade seja dita, a fotografia é belíssima e a história comovente, diverte e emociona profundamente. Eu não sabia, mas existe uma regra na apicultura: deve-se pegar só metade do mel e deixar o resto para as abelhas. Hatidze, a última caçadora de abelhas da Europa, respeita religiosamente essa condição. No entanto, quando novos apicultores chegam para trabalhar em sua região e não seguem a regra, o equilíbrio do ecossistema desses animais é ameaçado. Hatidze precisa se esforçar para persuadi-los a seguir os pilares elementares para a sobrevivência das abelhas.
Os diretores Tamara Kotevska , Ljubomir Stefanov estavam presentes e fizeram questão de exaltar a importância do trabalho de Hatidze, na Macedônia, e a brilhante lição que essa mulher simples, mas extremamente cuidadosa, dá à humanidade, ao trabalhar arduamente para manter o equilíbrio do meio ambiente. Excepcional!
Trailer legendado:
“Indústria Americana” foi o doc que eu menos gostei, mas é o favorito na corrida do Oscar. Se passa na cidade de Ohio, durante um grande momento pós-industrial, quando um chinês bilionário se aproveita de um terreno abandonado da General Motors para para criar a própria empresa no local, com a intenção de realizar uma grande mudança no cenário norte-americano. Com a contratação de mais de dois mil trabalhadores para as construções, as perspectivas para Ohio se amplificam.
Foi produzido pela empresa de Michelle e Barack Obama e está disponível na Netflix.
Os diretores Steven Bognar, Julia Reichert falaram do seu projeto destacando as diferenças culturais entre a China e os EUA, que marcaram os conflitos entre patrões e empregados e colegas de trabalho, e servem de fio condutor do doc.
Trailer legendado:
“Indústria Americana” é o único documentário do grupo produzido nos EUA e sobre os EUA. Acho válido ele estar entre os indicados, mas gostaria mesmo de ver o nosso brasileiro ou um dos outros 4, todos estrangeiros, levar a estatueta pra casa. Vamos ver domingo se os membros da Academia vão nos surpreender não votando nos seus compatriotas, mas sim na história mais envolvente. Agora é esperar a cerimônia do Oscar pra conferir.