Sabe aqueles dias que a peruca da nossa alma cinéfila voa? Pois bem, meu encontro com Luca Guadagnino e Tilda Swinton, no evento de lançamento do filme “Até Os Ossos”, dirigindo por Luca, no The Pickford Center, foi um desses momentos.
Antes de começar a sessão, Tilda, uma das minhas atrizes favoritas, entra para apresentar o filme já esclarecendo “eu não tenho nada a ver com Até Os Ossos” só estou aqui mesmo porque Luca é um dos meus melhores amigos, meu irmão e eu vim prestigiá-lo”.
“Até Os Ossos” é o primeiro filme de Luca rodado nos EUA. O diretor italiano dirigiu sucessos como “Me Chame Pelo Seu Nome” (Call By Your Name), “Suspiria” e “Um Mergulho No Passado” (A Bigger Splash), por sinal, meu favorito, todos filmados em países europeus; mas, com “Até Os Ossos”, Luca teve a chance de explorar as estradas dos EUA, no melhor estilo road trip pelos estados de Ohio e Kentucky.
Baseado no romance homônimo de Camille DeAngelis, acompanhamos Maren Yearly (Taylor Russell), uma jovem que quer as mesmas coisas que todos nós. Ela quer ser alguém que as pessoas admiram e respeitam. Quando sua mãe a abandona no dia seguinte ao seu aniversário de 16 anos, Maren vai à procura do pai, que nunca conheceu, e encontra muito mais do que esperava ao longo do caminho. O amor floresce entre uma jovem à margem da sociedade e um vagabundo marginalizado (Timothée Chalamet) enquanto eles embarcam em uma odisseia de 3.000 milhas pelas estradas dos estados conservadores dos EUA. No entanto, apesar de seus melhores esforços, todos os caminhos levam de volta a seus passados aterrorizantes e a necessidade de tomar uma decisão final que determinará se o amor deles pode sobreviver às diferenças. (Fonte: https://www.adorocinema.com/)
O foco principal do filme é o canibalismo. Muito sangue e cenas intensas, que causam desconforto. Mas o tema é maior do que o que vemos na tela. Afinal, é uma metáfora do sistema capitalista, da sociedade que vivemos, das dores que enfrentamos e do amor que buscamos. É o tipo de filme que traz experiências profundas e diferentes pra cada um de nós, já que depende da interpretação de cada um, o que na verdade reflete muito o trabalho de Luca, já que todos os seus filmes causam um grande impacto no público. Essa é a assinatura desse diretor talentoso, simpático e com ótimo senso de humor.
No evento, Tilda e Luca, que, além de besties, já trabalharam juntos em vários projetos, bateram um papo sobre “Até Os Ossos” e o diretor também respondeu perguntas da plateia. Tilda, fofa da vida, é gente como a gente, andava pelo cinema distribuindo microfones. Um luxo de pessoa.
Entre vários assuntos, Luca falou sobre a escalação do elenco “o personagem do Timothée aparece na página 45, mas desde o início eu queria ele pro papel. Mandei o roteiro pra ele que logo respondeu dizendo que topava. Foi bem fácil. Já a Taylor, eu tinha visto ela num filme chamado “Waves”. Ela está espetacular. Aí conversamos por Zoom. Taylor tem uma força que ela não se intimida em compartilhar, e ela se movimenta como um “bambi” o que é essencial para esse personagem. Depois do nosso papo tinha a certeza que era ela a pessoa pra esse papel e ela também topou. Deu certo”.
Luca, que é conhecido por trabalhar sempre com a mesma equipe e atores, disse que foi bom combinar seus “veteranos” com novatos nos EUA: “pra rodar um filme aqui tem muito mais regras dos sindicatos do que na Europa. Foi muito importante ter na equipe pessoas que conheciam bem o sistema nos EUA. Além disso, foi ótimo poder trabalhar com velhos companheiros que admiro muito”.
Depois de acompanhar ao vivo o papo entre dois ícones do cinema e ver um filme que vai me fazer pensar durante muito tempo, nada melhor que curtir um coquetel em uma locação que é um marco histórico de Hollywood, com um amigo querido. Noite perfeita, mais um sonho da minha alma cinéfila realizado na Cidade dos Anjos.