Todo cinéfilo que se preza já assistiu filmes dos diretores conhecidos como a “santíssima trindade do cinema mexicano”, Alejandro Iñárritu, Guillermo Del Toro e Alfonso Cuarón. Os três colecionam várias estatuetas do Oscar, em diversas categorias, incluindo melhor diretor e melhor filme.
“Amores Pêros”, de Iñárritu, está no topo da minha lista de filmes prediletos da vida.
Sou fãs dos três e vibro quando os diretores lançam filmes que fazem parte da temporada de premiação. Esse ano, Cuarón não lançou nenhuma obra-prima, mas Alejandro e Guillermo estão promovendo seus projetos “Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades” e “Pinóquio”, respectivamente.
Tive a honra de ficar frente a frente com esses brilhantes cineastas no evento Deadline Contenders, em LA. Além disso, também assisti aos dois filmes na telona, à convite da Netflix. Um presentão para a fã de carteirinha desses gênios.
“Bardo não é um filme autobiográfico mas é o filme mais pessoal que já fiz. Eu perdi um filho, como o personagem, minha família teve que lidar com o luto. E quando estávamos no processo, meu outro filho foi diagnosticado com a mesma doença rara do que perdemos. Foi um pesadelo viver aquele medo novamente, mas ele se recuperou. Bardo tem muito desse momento obscuro da minha jornada”, disse Iñárritu, que estava acompanhado dos atores Daniel Giménez Cacho, que interpreta o protagonista Silvério, e Ximena Lamadrid, que é Camila, filha de Silvério. Além de Eugênio Caballero, produtor de arte, Anna Terrazas, figurinista e Martin Hernandez, supervisor de som.
A fotografia, assim como a produção de arte, e o som do filme são verdadeiros “personagens” fundamentais na trama. Esse é um filme rodado para ser exibido na telona. Mais que outros, eu realmente encorajo vocês a assistirem no cinema e não em casa. Sei que muitos podem não ter essa oportunidade, o que é uma pena, mas, caso você tenha uma chance, troque o sofá pela sala escura e veja a mágica acontecer na sua frente. O roteiro, como a vida, tem momentos devastadores e outros hilários, numa mistura de sonho com realidade.
“Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades” é uma experiência épica, imersiva e visualmente surpreendente, que contrasta com a comovente e íntima jornada pessoal de Silverio (Daniel Giménez Cacho), renomado jornalista e documentarista mexicano radicado em Los Angeles, que, após receber um prestigiado prêmio internacional, é obrigado a retornar ao seu país, sem saber que esta simples viagem o levará a uma viagem existencial. O absurdo de suas memórias e medos se infiltram em seu presente, enchendo sua vida cotidiana com uma sensação de perplexidade e admiração. Com profunda emoção e gargalhadas abundantes, Silverio lida com questões universais, mas íntimas, sobre identidade, sucesso, mortalidade, história mexicana e os profundos laços familiares que ele compartilha com sua esposa e filhos. Na verdade, o que significa ser humano nestes tempos peculiares. Fonte: AdoroCinema
Bardo é uma aula de cinema, pra quem tem a intenção de trabalhar na frente ou atrás das câmeras. Como os próprios atores comentaram no painel, a novata Ximena falou da honra de trabalhar em um projeto de Alejandro “eu não acreditei que fui escalada, fiquei nervosa, claro, mas, ao mesmo tempo, com o apoio de todos, me senti segura para dar vida a essa personagem que alavancou minha carreira. Já o veterano Daniel, comentou sobre a complexidade do personagem, “imagina interpretar alguém baseado na vida do diretor que está ali na sua frente. E o mais interessante é que o personagem não é o Alejandro, mas uma versão surrealista dele. Foi desafiador e fascinante. Um aprendizado e tanto nesse momento da minha jornada como ator também”.
Fica aqui também minha admiração pelo trabalho impecável de Eugênio, Anna e Martin, na arte, figurino e som. O filme não seria o mesmo sem a genialidade do grupo.
E se Iñárritu nos apresentou detalhes de sua vida, Del Toro subiu ao palco do Deadline Contenders com seu novo melhor amigo, Pinóquio. Sim, o diretor levou o boneco de madeira que foi usado nas filmagens da sua versão da história do icônico personagem, que é uma releitura sombria e distorcida do famoso conto de fadas de Carlo Collodi sobre o boneco de madeira que sonha em se tornar um menino de verdade.
Situado em 1950 na Itália comandada pelo fascismo, Pinóquio ganha a vida quando seu criador talha a forma de um menino em madeira. Mas essa não é qualquer história que todos estão acostumados a ver sobre o menino travesso de madeira. Ao ganhar vida, Pinóquio acaba não sendo um menino tão legal, criando travessuras e pregando peças. Mas ele acaba aprendendo algumas lições ao longo de sua jornada. Entre suas aventuras, o menino de madeira terá de encontrar muitas criaturas e personagens, como o trapaceiro Conde Volpe, um sprite de madeira mágica e até a própria Morte, além de embarcar em um episódio para salvar Geppetto da barriga de um monstro marinho. Mas não espere que esta história tenha um final feliz. Fonte: Adoro Cinema
Escrito e produzido por Guillermo Del Toro, dirigido por ele e Mark Gustafson, que também estava presente, assim como o compositor da trilha, Alexandre Desplat, essa é a primeira versão de “Pinóquio” que, de fato, me emocionou. Del Toro é um gênio e todo mundo sabe disso, mas o senso de realismo que ele trouxe para o conto de fadas humanizou Pinóquio, fazendo que pessoas como eu, que não curtem esse gênero de filme, se identificassem e se emocionassem com o personagem.
Impressionante como Guillermo conseguiu abordar tantos assuntos relevantes e atuais, como política, a ascensão da extrema direita e o impacto negativo da guerra, usando como fio condutor o conto de fadas.
Meu cérebro não absorve bem animação. Quando criança, eu até gostava, mas, à medida que fui amadurecendo, fui perdendo o fascínio pelo gênero, embora reconheça a sua maestria, importância e o árduo trabalho de todos os profissionais envolvidos. Mas, o “Pinóquio” de Del Toro me trouxe de volta ao me tocar, profundamente, com seu roteiro brilhante. Isso prova que um filme vai além do formato que é apresentado.
O segredo de sua arte está mesmo no script. Como Del Toro mesmo disse, “nosso Pinóquio lidou com as dificuldades do ambiente, no período da história, em que viveu. Ele teve que lidar com problemas de verdade, morte, perda, fracasso. Construiu relações e abriu mão de privilégios para proteger quem amava. Sua vida não foi fácil ou perfeita, porque a vida de ninguém é nem uma coisa e nem outra. Eu queria fazer esse filme há muito tempo e estou feliz que tive a chance de concluir. Foi um dos projetos mais desafiadores em que trabalhei até hoje, mas tô feliz com o resultado, que foi fruto de um trabalho coletivo de uma equipe super talentosa. Aliás, o filme não tem efeitos especiais, cada movimento do boneco foi feito no set (e ele pegou o Pinóquio e reproduziu no painel). Imagina o trabalho e o tempo que vários artistas dedicaram a esse filme? Foi uma vitória de todos! Espero que vocês gostem”.
Gostei não, Guillermo, eu amei. O que foi uma grande surpresa pra minha alma cinéfila. Mas isso que os diretores da “santíssima trindade mexicana” fazem com seus trabalhos, nos mostram universos que nos tiram da nossa zona de conforto, nos apresentando novas formas de fazer e apreciar a sétima arte. Imperdível conferir!