Filmes internacionais ganham destaque nas premiações em Hollywood. Vem conferir o painel pré-Oscar

Um dos meus dias favoritos da temporada de premiações é o painel com os diretores e produtores dos filmes indicados na categoria melhor filme internacional.

Muita gente não sabe que, no Brasil, em cidades como o Rio e São Paulo, a gente sempre teve mais acesso aos filmes produzidos pelo mundo afora, do que em LA e NY. Os estadunidenses não eram (e muitos ainda não são) fãs de filmes legendados, pois eles são criados com filmes falados em inglês, seu próprio idioma. Bem diferente da gente.

Com a ascensão dos serviços de streaming, isso melhorou um pouco, mas foi a decisão da Academia de convidar mais estrangeiros para serem membros da Academia (que votam na seleção dos filmes indicados ao Oscar) que abriu mais portas para os filmes internacionais nos EUA.

O reflexo disso está na categoria melhor filme que esse ano tem 3 indicados que são falados em idiomas, além de inglês, “Anatomia de uma Queda”, “Vidas Passadas” e “Zona de Interesse”. E toda essa movimentação também deu mais popularidade à categoria filme internacional.

Muita gente compareceu pra prestigiar o bate-papo com os diretores de “Eu, Capitão” (Matteo Garrone), “Dias Perfeitos” (Wim Wenders), A Sociedade da Neve (J.A. Bayona), A Sala dos Professores (Ilker Çatak) e o produtor de Zona de Interesse (James Wilson, por conta de um compromisso familiar o diretor, Jonathan Glazer, não pode comparecer ao evento).

 

Seguem algumas curiosidades sobre cada uma das produções compartilhadas pelos diretores durante o painel e uma palhinha sobre cada um dos filmes que estão entre meus favoritos de 2023.

Me identifiquei com “Eu, Capitão” que fala do sonho de mudar de país, de todos os desafios que envolvem essa decisão e das suas consequências. “A Sala dos Professores” é genial, pois mostra a realidade de ser diferente no país onde você vive, e como o bullying está em todas as camadas da sociedade, não é feito só por crianças e adolescentes. Um primor!

 

Eu cresci sabendo da história dos sobreviventes do acidente aéreo no Chile, que é o enredo do filme “A Sociedade da Neve”. Lembro das vezes que fui do Brasil para Santiago e passei horas sobrevoando os Andes. Era inevitável lembrar do ocorrido. A primeira vez que visitei o Chile foi com a minha família e mamãe tinha pavor de avião e estava muito tensa. Assistir ao filme me fez voltar no túnel do tempo e recordar dos longos voos sobrevoando aquelas montanhas, o que me aproximou da história, muito bem contada por sinal. Imperdível.

Achei “Zona de Interesse”, que é o favorito para levar a estatueta, sensacional, pois aborda o nazismo de uma ângulo completamente diferente, que eu nunca tinha visto antes (e eu assisti inúmeros filmes sobre o tema). O som é o ponto alto da produção, que causa muito impacto ao contrastar com as imagens que mostram a família de um comandante nazista vivendo feliz na casa vizinha ao campo de concentração, onde milhares de pessoas estavam sendo mortas e torturadas. Imperdível.

Mas, meu destaque vai para “Dias Perfeitos”, que entrou na lista de filmes da minha vida. Eu amei tanto, me identifiquei tanto, que escrevi um relato especial sobre o filme, que compartilho abaixo.

 

Dias Perfeitos (Diretor: Wim Wenders)


“De todos os filmes que eu fiz até hoje, esse foi um dos que mais me inspirou. A forma simples que o nosso protagonista vive me fez repensar minha jornada, e me fez querer ser mais parecido com ele, ser feliz com poucos recursos, me desapegar dos bens materiais. Ele escolheu uma vida mais simples e essa escolha me fez parar pra pensar nas minhas escolhas. Mas essa inspiração veio não do roteiro, mas da performance espetacular do Koji Yakusho. Koji estava imerso nesse personagem. Ele, inclusive, facilitou a minha vida como diretor, fizemos poucos takes de cada cena, sem muito ensaio, como na vida real, que a gente não ensaia mesmo. Koji elevou o personagem de uma maneira que nem a gente imaginava. Foi uma experiência única e muito profunda para ele e para todos nós. Não acontece sempre e fico muito feliz que esse projeto tenha sido reconhecido com essa indicação. Eu não sou japonês, mas tenho uma conexão muito forte com o país, me sinto muito honrado de estar aqui representando a cultura que tanto me fascina. (Wim Wenders foi o primeiro diretor estrangeiro a ganhar o prêmio – que é a versão japonesa do Oscar – de melhor diretor no Japão por ‘Dias Perfeitos’).” – Wim Wenders

 

Eu, Capitão (Diretor: Matteo Garrone)


“Nosso protagonista, Seydou Sarr, nunca tinha trabalhado como ator antes, era a sua estreia e, pra ser sincero, ele nem queria fazer o filme. Ele topou por insistência da mãe e da irmã. Nossos atores nunca leram o roteiro completo, a gente gravou cronologicamente e íamos entregando as cenas para eles a medida que chegávamos and locações. Então, no final, aquela cena que o personagem comemora aliviado a conquista foi bem natural porque Seydou também estava aliviado por terminar o filme ali. Ele conseguiu finalizar com sucesso e compartilhou o mesmo alívio que o personagem. Foi uma festa de verdade e acho que ficou claro na cena. Ele fez um excelente trabalho para um ator estreante. Foi bonito de ver. Tivemos muita sorte que ele embarcou nessa trajetória com a gente, mesmo sem estar muito seguro no início. Ele era perfeito pro papel e provou isso. Muito do sucesso do filme devemos ao nosso elenco de primeira viagem. Me sinto privilegiado de ter trabalhado com eles.” – Matteo Garrone

 

Indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional, “Eu, Capitão” é um filme italiano de drama que mostra a jornada dos jovens irmãos Seydou (Seydou Sarr) e Moussa (Moustapha Fall). Ansiando por um futuro melhor, os dois decidem deixar Dakar, no Senegal, e partir rumo à Europa em uma épica aventura, onde enfrentam uma série de desafios do deserto, do mar e da própria essência humana. Fonte: AdoroCinema

 

 

 

A Sociedade da Neve (J.A. Bayona)

“O nosso filme é baseado numa história onde alguns sobreviventes do acidente aéreo ainda estão vivos. Foi muito importante pra gente honrá-los e ficamos muito aliviados quando eles assistiram ao filme e aprovaram, se emocionaram e disseram que, apesar de ter sido difícil rever algumas cenas, que fizeram eles reviver o passado, foi importante também.
Para chegar no que vocês viram na tela, a gente tomou algumas decisões em relação a produção que foram essenciais, como rodar o filme cronologicamente e nas locações onde a história aconteceu. Fomos pros Andes, passamos frio, comemos pouquíssimo, só o básico. Tanto o elenco, como a equipe, se dispôs a viver a realidade daquele grupo de pessoas, porque a gente acreditava que só assim, a poderíamos nos aproximar do que aquele grupo de pessoas sentiu e, mais importante, a gente absorveria melhor o peso da escolha que eles fizeram pra sobreviver. Foi uma experiência inesquecível pra todos nós, e nossa maior recompensa foi, sem dúvidas, a aprovação dos sobreviventes.” – J.A. Bayona

 

Inspirado em uma história real e baseado no livro homônimo de Pablo Vierci, “A Sociedade da Neve” fala sobre o caso que ocorreu em 1972, quando o voo 571 da Força Aérea Uruguaia, fretado para levar uma equipe de rugby ao Chile, cai em uma geleira no coração dos Andes. Apenas 29 de seus 45 passageiros sobrevivem ao acidente. Presos em um dos ambientes mais inacessíveis e hostis no planeta, eles são obrigados a recorrer a medidas extremas para se manterem vivos. Fonte: AdoroCinema

 

 

 

A Sala dos Professores (Diretor: Ilker Çatak)


“A vida do aluno que é a estória central do filme foi a minha vida na escola. Eu nasci na Alemanha, mas minha família é de imigrantes turco, minha descendência é turca, meu nome é turco. Sofri muito bullying por conta disso. O que ele sentiu foi um reflexo do que senti e sinto até hoje. A mídia na Alemanha, por exemplo, está fazendo uma extensa cobertura dos filmes do Oscar mas foca na Sandra Huller, eles não dão muita atenção ao meu trabalho. Sim, eu comentei sobre isso nas minhas redes sociais porque é um dos temas centrais desse projeto e uma realidade de milhões de crianças e adultos imigrantes, não só no Alemanha, como pelo mundo afora. Foi um trabalho muito especial pra mim, o filme todo se passa na escola e escola é uma realidade que todo mundo conhece, o que aproxima a audiência, independente da sua nacionalidade. Mas muito disso se deve ao elenco que deu show, inclusive Leonie Benesch (que interpretou a professora protagonista) está aqui hoje (a atriz se levantou, assim como dois dos meninos que interpretaram os estudantes – e foram aplaudidos efusivamente). Eu sou cineasta porque acho relevante contar estórias que chamem a atenção pra temas sensíveis como bullying e imigração, espero que esse filme faça as pessoas refletirem mais sobre esses assuntos.” – Ilker Çatak

 

“A Sala dos Professores” é um drama alemão dirigido por Ilker Çatak. No filme, Carla Nowak (Leonie Benesch) é uma professora de matemática e recém-chegada à escola em que trabalha atualmente. Assim que ela chega ao local, percebe que há alguns roubos acontecendo lá. Agora, ela poderia aceitar essa situação, mas é exatamente isso que ela não quer fazer. Ela começa a investigar por conta própria e se depara com a falta de compreensão, principalmente entre seus colegas, pais e alunos. Além disso, a principal suspeita é a mãe de seu aluno Oskar (Leonard Stettnisch), o que complica ainda mais a situação da professora. Fonte: AdoroCinema

 

 

 

Zona de Interesse (Produtor: James Wilson)


“Infelizmente, Jonathan (o diretor Jonathan Glazer) não pode estar aqui hoje pois é aniversário do filho dele, mas ele virá para o Oscar. De qualquer forma, falo por ele, e por todo nosso elenco e equipe, que nos sentimos muito lisonjeados com a indicação e com a resposta do público. A gente também optou por rodar o filme em Auschwitz, onde tudo aconteceu, pois isso torna a nossa estória ainda mais forte, já que mostramos as flores, o jardim, a piscina, a vida da família do comandante nazista que vivia sua calma rotina, ignorando totalmente a realidade e o fato que pessoas estavam sendo torturadas e assassinadas por eles no prédio ao lado. Jonathan queria deixar claro o que acontecia no campo de concentração e o som foi muito importante para isso, já que o foco do filme era a família, mas não podíamos ignorar o cenário. Foi um recurso muito importante para esse projeto que tem um elenco fenomenal também. Nos orgulhamos muito desse trabalho.” – James Wilson

 

“Zona de Interesse”, longa-metragem britânico dirigido pelo cineasta Jonathan Glazer, é um drama histórico que se passa durante a Segunda Guerra Mundial. Adaptado do romance homônimo escrito pelo autor Martin Amis, no ano de 2014, em “Zona de Interesse”, Rudolf Höss (Christian Friedel), o comandante de Auschwitz, e sua esposa Hedwig (Sandra Hüller), desfrutam de uma vida aparentemente comum e bucólica, em uma casa com jardim. Mas, por trás da fachada de tranquilidade, a família feliz vive, na verdade, ao lado do campo de concentração de Auschwitz. O dia-a dia destes personagens se desenrola entre os gritos abafados de desespero, de um genocídio em curso, do qual, eles também são diretamente responsáveis. O longa ficcional, premiado em Cannes e indicado ao Oscar em cinco categorias, entre elas a de Melhor Filme, mistura drama, guerra e história, abordando o horror do nazismo, a partir de uma perspectiva singular e perturbadora. Fonte: AdoroCinema

 

 

 

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