Tenho muitas fotos com o papai, mamãe e Diogo pelo mundo afora. Mas essa em Nova York, com as Torres Gêmeas ao fundo, tem um lugar especial nas memórias do meu coração. Ainda me lembro deste dia, em julho de 1989, quase 30 anos atrás. Foi a primeira vez que visitei a Ilha que um dia seria o meu lar. E foi um, de muitos dos meus sonhos, que meu pai se sacrificou para realizar.
Mas papai fez mais do que nos levar para viajar, ele nos mostrou como aproveitar a rara oportunidade que ele nos deu, ainda mais nos anos 80, quando o planeta era maior e os custos de uma viagem internacional eram absurdos. As suas regras incluíam, zero visitas a shopping, compras só de souvenirs (até 1 dólar pode levar tudo, ele brincava), visitas aos pontos turísticos, museus, bons hotéis e ótimos restaurantes. Fast-food só cachorro quente e a apple pie do Mc Donald’s, tirando isso, fazíamos refeições de verdade.
Por essas e outras, eu, que fui na Disney pela primeira vez em 1987, e moro nos EUA há 10 anos, nunca achei que a culinária do país se resumisse a hambúrguer e nunca, jamais, cai na ignorância de achar que o país não tinha cultura ou que as pessoas deveriam visitar Miami só para fazer compras. Ate hoje tenho pânico de ouvir essas declarações, afinal meu pai me levou ao museu Espacial em Washington DC, onde também visitei o túmulo do ex-presidente Kennedy, quando eu tinha 16 anos de idade. Como assim um país que até o ex-líder foi morto não tem cultura? Aliás, papai pode não lembrar, mas foi durante o passeio que ele que me contou tudo sobre a trajetória de John Kennedy, assassinado em Dallas. Acho que eu nunca comentei com meu pai, mas até hoje quando ouço falar dos Kennedy, ou vejo um documentário ou filme sobre o assunto, eu me lembro dele e da nossa visita ao Arlington National Cemetery.
Aos 46 anos de idade, eu sei que é um privilégio ter um pai que nunca economizou com cultura, e eu agradeço a ele todos os dias por isso. Porque as coisas que eu poderia ter comprado na tour que fizemos nos EUA e Canadá, naquele ano, já teriam se perdido nas últimas 3 décadas, mas tudo que eu aprendi naquele naquele verão, eu vou carregar comigo pra sempre. E como relata bem a frase “As memórias não são apenas sobre o passado, elas determinam o nosso futuro”, escolhi essa viagem que marcou a minha adolescência e a infância do Diogo, meu irmão, para comemorar o aniversário do meu papai hoje.
Especialmente porque eu não fui a única a aplicar na vida adulta os ensinamentos do meu pai. Meu irmão faz questão de dar aos seus filhos a mesma oportunidade de consumir cultura que ele teve. Quando minha sobrinha esteve em Los Angeles, aos 2 anos, ela visitou o centro cultural Getty Center. Sem contar que Stella frequenta o show de uma banda que toca Beatles para crianças em SP. Desde muito pequena, ela dança ao som dos meninos que mudaram a história da música em Liverpool, é por essas e outras que eu tenho certeza que, daqui a 20 anos, ela também ira agradecer ao pai pela formação que recebeu.
Mais um ano que estou longe no dia que papai celebra mais uma primavera, cá estou no país que ele me apresentou, vivendo meu sonho, e em paz, porque sei que papai está saudável cercado das boas energias da minha mãe e exercendo em plenitude seu papel de avô.
Apesar da saudade que eu sei que ele sente, meu pai não faz drama, ele sabe que eu sou feliz e isso o consola e o faz feliz. Para meu papai desejo que Deus o abençoe com muita energia, para que ele continue aproveitando a sua roda gigante. Ao contrário do que muitos pensam, eu não acho que a melhor metáfora para a vida seja uma montanha-russa, prefiro defini-la como uma roda gigante. Às vezes estamos no topo, às vezes embaixo e, independente dos nossos desejos e esforços para solucionar alguns problemas, nada acontece no nosso tempo, mas na velocidade que a roda se movimenta, às vezes lenta, às vezes mais rápida. Sim, isso causa frustrações, mas aprendi com o papai que se tivermos um olhar prático e focarmos nas nossas atitudes e não nos nossos fantasmas, a gente vai ter paciência para esperar e, mesmo quando estivermos parados no meio do caminho, não vamos desanimar. Assim como vamos ter a sabedoria de lembrar que precisamos admirar a bela vista que está ao nosso redor.
Muito pouca gente que eu conheço tem a força de se reinventar que você tem papai. É para poucos, vem com consequências, algumas vezes ótimas, outras não tanto. Mas pensando bem, no final das contas, a gente está nesse universo para aproveitar com plenitude a nossa trajetória e, pai, na minha opinião, plenitude é a palavra que te define. Que Deus o conserve assim!
Feliz aniversário!
Com amor,
Sua Filha
E para me fazer chorar? Pois conseguiu!!!!!!!❤️❤️❤️❤️❤️