Eu viajei o mundo com a minha mãe. Visitamos lugares exóticos, voamos de classe executiva, ficamos em hotéis de luxo e comemoramos o aniversário dela em um restaurante 3 estrelas Michelin em Chicago há uns 12 anos. Era tão chique que o cardápio veio personalizado com o nome dela.
Todas essas experiências foram inesquecíveis, mas os lanches que fazíamos na Mesbla, na Tijuca, não deixaram nada a desejar, nem os filmes dos Trabalhões que assistimos no cinema Carioca, na Praça Saens Pena. E muito menos as tardes que ela preparava o lanche para a galera da 11, meus amigos da escola, que se aboletavam na modesta e calorenta sala do nosso apartamento na Professor Gabizo, ali mesmo na Tijuca (olha ela aí de novo!), depois da praia, praticamente todos os dias de verão na minha adolescência.
Mamãe também cozinhava com prazer pra essa turma, nos carnavais em Teresópolis e, com o mesmo amor, ela e papai trocavam o conforto de seu próprio lar, por um hotel na Serra, quando eu e meus amigos da faculdade estávamos desfrutando da delícia daquele lar. Eles apareciam para o churrasco e ainda davam um gás na cerveja, que jamais faltou em qualquer social lá, no Beverly Hills ou no Alfa Barra.
Mamãe era dura, agora mesmo, quando ela esteve em Austin, eu, papai e ela passamos mal de rir relembrando o quartel, apelido carinhoso que dei a nossa residência na infância. Mas, para a defesa de mamãe, era divertido, só que filho dela não fazia malcriação, não tinha frescura pra dormir, comer, viver. Os filhos da minha mãe não se metiam em conversa de adulto e tratavam a ela e a todos com educação e respeito.
Mamãe nos ensinou a viver sem drama, sem crise e com disposição pra lutar pelo que desejamos. A sua fé fez e faz dela uma pessoa otimista, positiva. “Reza, Claudia”, ela fala mim até hoje.
Foi minha mãe que me ensinou também que a vida dá muitas voltas. Por isso, eu, que já me hospedei em um castelo (de verdade) com a vista para Pirâmides, no Egito, hoje fico em hotel muquifo, com banheiro coletivo, em NY. Sempre que subo as escadas do hostel, ouço a voz da minha mãe: “Claudia, você tem uma vida privilegiada, tem gente não teve nenhuma oportunidade, aproveite”. E aquele ensinamento me dá mais disposição pra ficar onde for, fazer o que tiver que ser feito, pra curtir o momento.
Um detalhe interessante do nosso quartel, era que televisão sempre foi permitido, “se eu gosto, meus filhos podem gostar também”, dizia mamãe aos críticos de plantão. Dela herdei o amor pelas séries e, talvez por isso, essa semana mesmo, tenha recebido mensagens suas comentando ‘The Crown”, algo me diz que herdei da mamãe também meu lado “fangirl”.
E eu, fuxiqueira de plantão, toda vez que vejo um filho fazer grosseria com seus pais, seja adolescente ou algum dos meus amigos, lembro de mamãe, e mando mensagem pra ela compartilhando o absurdo, e nessas horas ela lembra que eu e meu irmão não fizemos ou fazemos isso graças ao quartel, cuja missão foi cumprida com sucesso.
Hoje é aniversário da mamãe! Eu agradeço tanto a Deus por ela ter sido esse general carinhoso, que nos ensinou a ter limites e nos mostrou que o mundo é maior que a gente. As pessoas mais bacanas e bem resolvidas que eu conheço hoje, são aquelas que têm esse discernimento e são capazes de sair da sua bolha e enxergar a dimensão da realidade que está ao seu redor. Eu tento colocar em prática esse precioso ensinamento todos os dias, quando vacilo, tenho mamãe pra me colocar nos eixos de novo e essa é uma das maiores bênçãos da minha vida.
Obrigada, mamãe. Feliz Dia! Muita saúde, paz de espírito e que você continue liderando o nosso quartel por muitos anos, e que a gente continue trocando figurinhas sobre nossos seriados favoritos, no Alfa Barra, num palácio, num hotel simples com isopor no quarto, no WhatsApp, onde for e como for, será sempre especial.
Com amor,
Claudia