“Qual nome eu escrevo na dedicatória?” me perguntou John Green, em pé ao meu lado, com a primeira página de um exemplar de “Cidades de Papel” aberta. Sorridente, ele autografava os livros que cada um dos jornalistas na coletiva do filme baseado em sua obra-prima receberia de presente da Fox, na suíte do hotel The London em West Hollywood, Los Angeles.
Eu estava tão em êxtase que acho que demorei uma vida para responder: Claudia
John me pergunta: De onde você é?
Quando respondo do Brasil, ele fala: “adoro o entusiasmo dos fãs brasileiros, o maior número de tweets que recebo e deles, me pedindo para ir ao Brasil, tô tão feliz que vou lá em julho.”
Nosso encontro foi no dia 24 de abril, e eu ainda boquiaberta, de frente para o meu ídolo avisei: “Tenho certeza que sua visita ao Brasil será uma experiência inesquecível pra você.”
E pelo que John postou em suas redes sociais durante o tempo que esteve em meu amado país, não tenho dúvidas que ele tenha se apaixonado pelo Brasil, talvez do mesmo jeito que “alguém cai no sono: gradativamente e de repente, de uma hora pra outra.”
Mas, voltando ao dia que eu tive o meu milagre, que claro foi entrevistar John Green e aproveitar a chance pra dizer a ele que tinha lido todos os seus livros e “Cidades de Papel” era meu favorito, o que é pura verdade, comecei nosso bate-papo com a pergunta que me fiz o dia que comecei a ler este livro:
“O início de “Cidades de Papel” é brilhante, nunca tinha visto ninguém falar de milagres de uma forma tão divertida e inteligente, de onde veio a inspiração para escrever este primeiro parágrafo?” E rindo John confessou:
“Olha eu escrevi o primeiro parágrafo para uma outra coisa, acredita?! Mas até eu achei que ficou legal e queria aproveitá-lo de alguma forma. Eu faço sempre isso, às vezes até demais. Tento encaixar as coisas que escrevi com um objetivo completamente diferente em meus livros.”
Coisas de um gênio que me lembrou por exemplo “que coisa mais traiçoeira e acreditar que uma pessoa é mais que uma pessoa.” E me fez lidar melhor com as expectativas que tenho das pessoas que me cercam.
Mas uma das características mais fantásticas de John Green é que ele não é só um escritor para adolescentes, na verdade, como ele mesmo diz: “eu ainda tenho o adolescente vivo dentro de mim e tenho certeza que se você conversar com pessoas que me conhecem intimamente, eles vão te dizer que sou crianção.”
Seu espírito jovem, nerd e divertido contou pra gente com o maior orgulho:
“Eu amo fan fictions. Sou fascinado por elas. Eu leio um monte de fan fictions do One Direction, eu adoro. E eu leio também as fan fictions dos meus livros, eu sou apaixonado por elas, sério. E tem alguns textos que são muito bons, aliás ótimos. Eu leio e penso: nossa que ideia excelente. Tem algumas fan fictions incríveis de “Cidades de Papel”, por exemplo, escritas pelo ponto de vista da Margo quando ela foge e está sozinha e eu adoro ler estes textos, são lindos.”
Mas, a gente precisa desvendar o segredo de John Green e pergunta: por que você escreve para adolescentes?
A resposta de John é direta: “adoro ter leitores adolescentes e eu gosto de escrever pra eles porque os jovens estão numa fase da vida que estão passando por muitas transformações e vivendo várias experiências pela primeira vez e estão se fazendo perguntas pela primeira vez, e eles perguntam com paixão e entusiasmo. E isso tudo me motiva muito como escritor, porque tenho a chance de escrever sobre esses personagens que são tão interessantes para mim.”
E como eu, Claudia, acredito piamente que ainda tenho 16 anos, nesta altura da entrevista estava mais apaixonada por John Green do que já era antes. Conheci muita gente que admiro em Hollywood, mas como diz Shailene Woodley, John Green mudou a vida dela, e a minha também, e era a primeira vez que eu entrevistava alguém que através do seu trabalho teve um profundo impacto na minha existência neste planeta.
John que me fez repensar todas as minhas atitudes aos 40 e muitos anos com frases como “O medo não é uma boa desculpa. O medo é a desculpa que todo mundo sempre dá.” ao terminar de ler Quem é você, Alasca?….
O mais admirável é perceber que John Green é gente como a gente, lida e fala abertamente sobre suas ansiedades e suas inseguranças e conta que de todos os seus personagens o que ele mais se identifica é Ben de “Cidades de Papel”: “porque ele é péssimo em abordar e conversar com as meninas, pior que o Quentin até, o Ben coloca as meninas num pedestal o que as torna deusas e não humanas, ele acha que é bacana fazer isso com elas, mas na realidade isso não é saudável, porque pensar em alguém como uma deusa é desumano e eu era bem parecido com ele na adolescência.”
E rindo muito diz que Austin Abrams o ator que interpretou Ben no filme o ajudou a se sentir melhor sobre si mesmo: “ele interpretou o personagem com tanta honestidade que ficou extraordinário, e ele é hilário. Vou confessar que depois do filme eu comecei mesmo a me sentir melhor em ser tão parecido com o Ben. Voltei para casa até pensando, “olha talvez eu tenha sido mais parecido com aquele Ben” (do Austin), do que com o personagem do livro.”
E falando do filme, John conta como foi sua experiência no set de filmagens, pela segunda vez, já que também era presença constante no set de “A Culpa é das Estrelas”:
“Meu papel no set é animar todo mundo e celebrar o trabalho de cada uma das pessoas que estão ali. Enquanto todo mundo está focado em achar a melhor maneira de gravar uma cena, vejo a minha função como daquela pessoa que diz: ok, sei que vocês têm que tomar decisões, mas vamos parar um segundo só para curtir este momento super bacana.”
Não é à toa que todas os atores que trabalham no filmes baseados em seus livros amam John de paixão, Shailene Woodley dedicou a ele seu prêmio de melhor atriz, por seu trabalho em “A Culpa é das Estrelas”, no MTV Movie Awards deste ano, e fez John chorar. Ansel Elgort admira tanto o escritor que fez ate uma aparição relâmpago em Cidades de Papel, Nat Wolff não escondeu o orgulho e sorriu quando eu disse a ele que invejava ele por ser amigo íntimo do escritor e Cara DeLevingne me falou: “nunca conheci ninguém como John Green, ele é muito intuitivo, o mais interessante é que pessoas que me conhecem a vida inteira não sabem certas coisas sobre mim que o John pescou imediatamente. John é muito especial.”
Discurso SHAI:
Em “Cidades de Papel”, John Green nos ensina a desmistificar as pessoas, e a ter menos expectativas em relação a elas, em suas próprias palavras, John descreve o livro: “O Quentin, durante a jornada, vai passar a entender que ele tem que, ao invés de imaginar as pessoas, levar em consideração a complexidade delas, tanto dos seus amigos, como da Margo, afinal só desta forma, através deste entendimento, que ele vai construir relações verdadeiras, significativas e ter uma vida feliz.”
E ele mesmo aprendeu a viver isso na prática. Conversando com John Green é fácil perceber que ele é apenas uma pessoa, um escritor talentoso, inteligente, complexo às vezes, que lida com questões profundas e compartilha conosco suas experiências de vida através de seus personagens fantásticos.
John está longe de ser um mito, mas sem dúvidas ele é ainda mais bacana que seus próprios livros.
Eu me sinto abençoada por ter um ídolo como John Green e até já me perdoei por ter deixado um pouquinho o profissionalismo de lado durante a nossa entrevista e ter assumido a minha personalidade de fã. Afinal, como John Green mesmo diz:
“A sua importância é definida pelas coisas que são importantes para você. Seu valor é o mesmo das coisas que você valoriza.” Fico orgulhosa de mim mesma de levar ao pé da letra o conselho do meu mestre e agradecida por ter a oportunidade de conhecê-lo e valorizar seu trabalho.