Sou fã de carteirinha de filmes baseados em uma história real. Acho interessante como um episódio da vida de alguém pode nos entreter, nos inspirar, nos educar e, às vezes, de tão inusitado e, aparentemente, irreal pode fazer nossa peruca voar.
Vivi um pouco de tudo assistindo a estreia mundial dos filmes “Georgetown”, “Lost in Transmissions” e “The Kill Team” no Tribeca Film Festival, em NY, mês passado. Todos contam histórias verídicas e abordam temas relevantes, como um casamento por interesse, a importância do tratamento de uma doença mental e as atrocidades cometidas por um grupo de membros do exército norte-americano contra cidadãos inocentes na guerra do Afeganistão.
Vamos aos detalhes dessa maravilhosa experiência.
Georgetown
Adoro o ator Christoph Waltz, que fez a sua estreia como diretor em “Georgetown”, filme que também protagoniza. Inspirado no artigo de Franklin Foer para a revista do New York Times, “Georgetown” acompanha Albrecht Muth (Christoph Waltz), um excêntrico “alpinista social”, que seduz e se casa com uma viúva rica e mais velha, Viola Drath (Vanessa Redgrave). Juntos, Muth e Drath passam a sediar eventos pomposos para a alta sociedade em sua luxuosa residência e ingressam nos círculos políticos mais privilegiados — nessas ocasiões, Muth mente, extensivamente, sobre um passado que só virá à tona quando Drath for encontrada morta, em Georgetown.
Como toda tragédia bem contada, “Georgetown” tem momentos hilários. O elenco, que também conta com a participação de Annette Bening, está espetacular. Tive o prazer de conhecer Christoph Waltz na première do filme. Ele não só desfilou no tapete vermelho como também apresentou seu projeto para uma seleta audiência no Tribeca. Seu personagem mostra que não há limites nas atitudes para conseguir subir na vida, mesmo que envolva traição, trapaças contra o Serviço Secreto americano e um crime. Ri bastante e, ao mesmo tempo, fiquei passada com as loucuras que um ser humano é capaz de cometer por ambição. E imaginar que não é ficção?! Vale conferir.
Lost in Transmissions
O filme conta a história de um dos melhores amigos da roteirista Katharine O’Brien, que escreveu e fez sua estreia como diretora do longa. “Lost in Transmissions” é uma visão íntima das emoções humanas e da terrível realidade do tratamento de uma doença mental, especialmente quando o sistema de saúde nos EUA não dá importância aos portadores deste tipo de enfermidade. O filme foi rodado inteiramente com uma câmera na mão, a fim de dar ao público um olhar naturalista, que capta o imediatismo das experiências dos personagens, bem como a energia de Los Angeles.
Em uma festa em LA, a aspirante à compositora Hannah (Juno Temple) conhece Theo (Simon Pegg), um conhecido produtor musical com um espírito contagiante e alegre. Eles ficam amigos e começam a fazer música juntos, quando Theo sofre uma mudança de comportamento repentina. Ele fica distante e começa a falar coisas sem sentido. Hannah logo descobre que ele é esquizofrênico e que parou de tomar os seus remédios. Como na vida real, os amigos se reúnem e se revezam na tentativa de ajudá-lo, até que a situação sai de controle e eles conseguem interná-lo. Mas Theo é liberado pelo hospital, graças à desorganização e a falta de responsabilidade do sistema de saúde nos EUA.
Achei o tema do filme incrível e, desde a primeira cena, o grupo de amigos nos convida a fazer parte daquela turma, com isso, todos os perrengues que eles passam, o público sente também. Por ter sido rodado com uma câmera de mão, as cenas nos dão um senso enorme de realidade, o que torna a jornada de Theo ainda mais eletrizante, e até desconfortável, para quem a acompanha, mesmo na telona. Nós, de fato, podemos sentir tudo que Hannah e seus amigos passaram tentando salvar Theo. E sua frustração ao se depararem com as regras dos hospitais e médicos que não ajudam o tratamento dos doentes mentais. Infelizmente, não por acaso, em LA, muitos doentes mentais moram nas ruas, por não terem condições financeiras de arcar com seu tratamento. “Lost Trasmissions” me educou e emocionou profundamente. Mérito da bela direção e roteiro sincero de Katherine, e do talento de seu grupo de atores. Imperdível.
The Kill Team
Baseado no documentário de mesmo nome, que ganhou o prêmio de melhor documentário no Tribeca, em 2013, Dan Krauss retorna como diretor da versão narrativa da história que ele trouxe pela primeira vez para a tela. Em 2010, Andrew Briggman (Nat Wolff) é um ambicioso soldado de infantaria enviado recentemente ao Afeganistão. Quando o líder de seu grupo é, repentinamente, substituído, Andrew, que sonha com uma promoção dentro do grupo, se aproxima de seu novo comandante (Alexander Skarsgård) um soldado implacável, que inspira um ar confiante, mas, muitas vezes, assustador. Até o dia em que ele percebe que sua equipe não está trabalhando de forma coesa para o bem maior e, em vez disso, seus companheiros e seu novo comandante estão cometendo atrocidades contra o povo inocente do local. Briggman se vê em uma encruzilhada, quando deve escolher entre relatar suas suspeitas às autoridades – colocando sua própria vida em perigo – ou participar silenciosamente de crimes realmente chocantes.
Tanto Nat Wolff quanto Alexander Skarsgard estão excelentes ao dar vida a esses personagens, de fato, baseados em pessoas que ainda vivem. A responsabilidade de fazer um trabalho como este é sempre grande, e eles mandaram muito bem. Mais ainda, por ser uma história extremamente importante de ser revelada. Os soldados nos EUA são vistos como grandes heróis e, de fato são, na maioria dos casos. Mas como todo grupo, tem aqueles que desrespeitam as regras e perdem as estribeiras. Usam o poder da sua profissão para praticar maldades, sem precedentes e alguns o fazem com prazer. A crueldade humana, neste caso, é cometida pelos brancos americanos, em nome de sua pátria. Na verdade, o filme reflete o perigo de dar uma arma e certa autoridade a uma pessoa ruim, e as consequências da sua ira. Nunca foi tão importante denunciar casos como esses, levando em consideração o cenário político atual nos EUA e no mundo. Eu, geralmente, não curto filmes de guerra, mas, neste caso, a violência foi mostrada com um propósito maior que a história em si. Fantástico!
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