Por: Luana Mattos
Eu estava estrategicamente esperando o momento certo para começar a assistir esse dorama, pois sabia que no momento que eu começasse eu não iria querer parar, e eu estava certa!
“Uma Advogada Extraordinária” não é o primeiro dorama a abordar o tema do autismo e os seus desafios (doramas como “A Caminho do Céu” e “Tudo Bem Não Ser Normal” fazem parte da lista), porém, a mais recente produção sul coreana, o faz com leveza e doçura, e combina todos os elementos nas medidas certas.
O transtorno do espectro autista (TEA) tem servido de inspiração para muitas séries e filmes, e embora isso ajude a trazer luz sobre o assunto e quebrar tabus, percebo que ainda estamos longe de entender como é ser autista, ou conviver com esta condição. E, qualquer tentativa de generalizar o tema irá falhar miseravelmente, pois nem todos os autistas serão gênios com memória eidética capazes de armazenar uma enciclopédia ambulante em suas mentes, mas é correto afirmar que todos serão extraordinários a sua maneira.
***Atenção, contém spoilers***
Logo no terceiro episódio de “Uma Advogada Extraordinária” vemos uma situação na qual a personagem Woo Young Woo (Park Eun Bin) tem que defender um jovem autista de 27 anos, cuja idade mental é de uma criança de 6 anos, além de ele ter uma tendência mais agressiva e impulsiva, o rapaz possui uma outra linguagem de acesso, que a jovem advogada teve que descobrir ao longo do episódio.
Vemos, portanto, que o maior desafio está justamente na comunicação, mas para que isso possa ocorrer da melhor maneira possível precisa haver interesse de ambas as partes. Uma sábia amiga uma vez me disse que cada pessoa é um universo diferente, e que quando nos comunicamos é como se “habitássemos” o universo do outro. Saber que por causa da discriminação e do preconceito muitos universos incríveis não serão compartilhados me entristece.
Acessar uma pessoa com autismo pode ser tão desafiador, quanto recompensador!
Neste mesmo episódio, a brilhante advogada “catraca, caneca, casaca, cômico e careca” (piada interna, assistam pra entender) traz um fato interessante sobre o trabalho do psiquiatra Hans Asperger (1906-1980), além de dar nome à síndrome de Asperger, esse médico e pesquisador austríaco foi responsável por selecionar –durante a Segunda Guerra Mundial, quais crianças “mereciam” viver e quais deveriam morrer, e de acordo com esta seleção cruel, as crianças com autismo eram condenadas ao programa da eutanásia, conhecido como Aktion T4.
Essa prática cruel pode parecer obsoleta e distante, mas, como aponta a personagem, apenas 78 anos se passaram desde então. Talvez hoje as pessoas com algum tipo de deficiência já não sofram a condenação da eutanásia, mas ainda sofrem com a exclusão, com o bullying, a discriminação e o preconceito. Como sociedade, nós evoluímos em muitos aspectos, mas no que diz respeito à inclusão ainda há um longo caminho a ser percorrido.
Felizmente, temos visto um esforço por parte das novas gerações em não repetir os erros do passado, e dramas como estes nos ajudam a ter maior empatia e compreensão sobre esses temas. Além de ter uma narrativa emocionante e ao mesmo tempo cômica, “Uma Advogada Extraordinária” tem dado voz a muitos autistas e seus familiares. O drama, que foi líder de audiência na Coreia do Sul, já garantiu algo raro entre os doramas e, para a alegria dos fãs, foi renovado para uma 2ª temporada.
Vale a pena conferir mais este sucesso do mundo dos doramas!