A Rota 66 nos rendeu experiências interessantes e nos deu a chance de explorar um canto dos EUA que não é muito popular entre os brasileiros, mas que explica muito sobre a cultura do país, já que a maioria dos estados que cruzam a estrada são republicanos, ou seja, conservadores.
Na primeira parte do capítulo de hoje do nosso diário de viagem, seguimos ainda em Oklahoma, onde visitamos um dos museus mais populares da Rota 66, em Elk City. Na sequência, partimos para o Texas, onde tivemos uma experiência digna de um forasteiro em filme de faroeste, quando chegamos no café, na cidade de Adrian, ponto importante da estrada, pois é exatamente o meio do caminho entre Chicago, Illinois, onde demos a largada na rota, até Santa Monica, em Los Angeles, Califórnia, onde a aventura termina.
Para curtir ainda mais essa aventura com a gente, sugerimos que conferiram a nossa passagem por Kansas e a primeira parte da nossa visita a Catoosa, Arcadia e Tulsa, em Oklahoma:
Pernoitamos na cidade de Clinton, onde fomos muito bem tratadas, embora a simpática atendente no hotel tenha nos lembrado que em Oklahoma, a grande maioria do povo é vermelha como sangue, se referindo a cor do partido republicano. Como somos visitas educadas, fomos gentis confirmando que entendemos a postura local, mesmo não compartilhando da filosofia política da região.
De Clinton, fomos para Elk City onde curtimos o museu a céu aberto. Aprendemos muito sobre a história do local e consequentemente da essência dos estadunidenses do centro oeste.
Fiquei orgulhosa em ser a primeira brasileira a colocar um pin no mapa de visitantes do museu. Meu foco sempre foi levar o Hollywood é Aqui para lugares nunca antes explorados, afinal, nosso objetivo não é só cobrir os eventos de entretenimento, mas também dar dicas de viagem e contar um pouco da história dos EUA. Nessa viagem, meu sonho foi realizado e o objetivo alcançado.
Venham conhecer um pouco da história de Oklahoma no Elk City Museum, um dos mais populares da rota 66.
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vvvvv | O Elk City Museum Complex permite que você mergulhe na história pioneira do estado de Oklahoma. O Old Town Museum inclui uma casa da era vitoriana com exposições e artefatos que mostram a vida dos primeiros colonos no oeste de Oklahoma. O Farm and Ranch Museum celebra a herança agrícola de Oklahoma. Enquanto estiver no complexo, não deixe de visitar o Museu do Ferreiro para ver como os ferreiros criam objetos de metal. O complexo também abriga réplicas de uma escola, casa de ópera, consultório médico e uma capela.
Parte do complexo é dedicada ao Museu Nacional da Rota 66 e ao Museu Nacional dos Transportes. Faça uma viagem por cada um dos oito estados pelos quais a Rota 66 passa – de Illinois até a Califórnia. “Dirija” pela Route 66 em um Cadillac rosa de 1955 e assista a um filme em preto e branco em um drive-in simulado enquanto está sentado em um clássico Chevy Opala. Fonte: https://www.elkcity.com/city-hall/departments/museums/ |
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Depois de algumas horas no museu aberto, hora de voltar para a estrada. Nosso destino final era o estado de Novo México, mas antes tínhamos que atravessar o Texas. A chegada em Albuquerque, NM, vai ficar para o próximo capítulo, mas vamos contar aqui a nossa experiência na terra dos cowboys texanos.
Na realidade, foi o trecho da viagem mais cansativo de dirigir pois ventava muito e, mesmo nosso carro estando bem pesado com a minha mudança, tive que segurar forte o volante para manter o veículo na reta, já que estávamos indo na direção contra o vento.
Para relaxar, paramos rapidamente na instalação chamada Cadillac Ranch, em Amarillo, TX, que é uma atração datada de 1974, ou seja, pós auge da Rota 66, mas ainda atrai os turistas que querem tirar uma fotinho.
De lá, vencemos o vento e chegamos em Adrian, no Texas, que é exatamente o meio da viagem da Rota 66. Apesar de termos percorrido mais estados até aqui (dos 8, passamos por 5, – Illinois, Missouri, Kansas, Oklahoma, Texas), os trechos mais longos de estrada estão no Novo México e Arizona, até chegar à Califórnia.
Esse é um momento super marcante na travessia e fizemos questão de registrar com alegria a nossa chegada de forma segura (especialmente depois de enfrentar a ventania) ao meio da jornada.
Aproveitamos que era hora do almoço e entramos no Midpoint Café, um diner com lojinha de souvenir, única atração do local.
E foi ali que eu tive a experiência mais forasteira da minha vida nos EUA. Moro no país há 13 anos, (inclusive passei uma temporada em Austin, TX), sem contar com as muitas vezes que visitei os EUA antes de me mudar pra cá e o ano (2001-2002) que morei a trabalho em Houston, TX, eu nunca tinha passado por nada parecido.
Entramos no café e estava agitado, mas longe de estar lotado, pelo contrário, a garçonete nos viu e simplesmente nos ignorou. Ela atendia e conversava com todos os outros clientes (brancos, texanos, daqueles que usam chapéu, sabe? Coisa de filme), e não dirigiu o olhar pra gente (imigrantes, pretas, latinas), em nenhum momento. Foi um dos clientes, um senhor branco texano, que percebeu e veio à nossa mesa nos entregar o cardápio. Foi ele também que chamou a garçonete para nos atender.
Alguns vão questionar porque não fomos embora, o que se fosse numa cidade com mais opções eu certamente teria feito. Mas ali estávamos famintas e precisávamos também descansar um pouco, antes de seguir viagem. Por isso, fizemos o nosso pedido para a tal atendente que, obviamente, não ganhou gorjeta da gente. Ela nos tratou friamente, mas depois da chamada do cliente texano, foi profissional e retribuímos com educação, pois acreditamos que cada um dá o que tem.
Acho que sentir na pele o preconceito é um chamado para entendermos que muita gente nesse país elegeu com orgulho um milionário, apresentador de TV, que repugnava os imigrantes, separando famílias, promovendo a construção de um muro na fronteira (que passaria pelo Texas) e trancando crianças em jaulas. E, é fato, que o movimento contra a imigração e o preconceito racial estão longe de acabar, porque esse líder não está mais na Casa Branca, aliás, por onde passamos, vimos várias casas e placas na estrada de apoiadores daquele cidadão, que não vamos escrever o nome aqui pois ele não merece nenhum tipo de engajamento, muito menos dos seus opositores.
Para mim, passar por esses lugares e essa experiência, além de desglamourizar minha própria visão do país que eu escolhi morar, me faz também querer lutar ainda mais contra todo o preconceito contra os imigrantes, que construíram e mantêm os EUA de pé. Lembrando sempre que pagamos muitas taxas aqui e é a nossa presença e força de trabalho que mantêm essa máquina capitalista funcionando. Sem a gente, a mocinha do café e seus clientes brancos vão todos à falência.
Eu quis compartilhar esse episódio, não para gerar uma reação negativa, mas para mostrar a realidade dessa cultura vendida de forma poética por Hollywood. Lembrando que por trás de uma poesia tem muitas verdades, nesse caso, o péssimo tratamento que duas mulheres brasileiras sofreram num ponto turístico importante da estrada mais famosa do país.
Denúncia feita, vambora entrar no carro e partir pro oposto dessa experiência, em Albuquerque, onde a rota é chamada de Camino 66, uma celebração aos mexicanos que imigraram para a região, que é abençoada pelos nativos e por comunidades indígenas. Não percam, o próximo capítulo do nosso diário de viagem da Route 66.