Eu tinha 15 anos a primeira vez que assisti a um grande show internacional no Maracanã, à época eu morava a alguns quarteirões do estádio e mamãe deixou que eu fosse ver o Sting, que estava tirando umas férias do The Police e prometia fazer uma apresentação histórica lá.
Foi o primeiro rockstar que vi ao vivo, o que fez daquele 20 de novembro de 1987 um dia realmente memorável na minha vida, como outros tantos que vivi ali, assistindo os shows de Paul McCartney, Tina Turner, Prince, Guns&Roses e Madonna, entre muitos, e clássicos da paixão nacional, como o Fla x Flu.
Na sexta feira, quando assisti a abertura dos Jogos Olímpicos no mesmo Maracanã, na Cidade Maravilhosa, onde cresci, me emocionei profundamente ao ver a festa pela TV em Los Angeles, considerada pela imprensa internacional, deslumbrante.
Foi mesmo um espetáculo digno do Rio de Janeiro e do povo brasileiro. Os narradores da emissora NBC, que transmite os Jogos Olímpicos nos EUA, comentaram que o Brasil sim está passando por uma crise e um momento político delicado, mas ao mesmo tempo, ressaltaram que a criatividade, a alegria, as cores e a música, que são a marca registrada do nosso povo, roubaram a cena e superaram todas as expectativas, mostrando o que o país tem de melhor.
O que mais os impressionou é que com um orçamento muito menor do que a cerimônia de abertura nos Jogos Olímpicos de Londres em 2012, nós conseguimos fazer uma festa mais bonita e infinitamente mais animada. O The Hollywood Reporter, a publicação mais badalada do entretenimento em Los Angeles, destacou a entrada das delegações no estádio, que geralmente é a hora que muitos desligam a TV por ser um processo longo e tedioso, como um dos melhores momentos da festa, “desta vez valeu a pena continuar assistindo sem desligar a tv”, eles comentaram. Segundo eles, a música alto astral fez com que os atletas entrassem no clima do Brasil e até eles estavam mais felizes ao desfilar no Maracanã, o que resultou num espetáculo que não valia perder nem pro cafezinho.
Ouvindo a narração cheia de energia, coisa rara na NBC, e lendo as reviews dos jornais enquanto ainda assistia a cerimônia de abertura na TV (na Califórnia, por conta do fuso horário, nos vemos 3 horas depois do horário “ao vivo” de NY, por isso pude ler as críticas enquanto a cerimônia ainda estava sendo transmita em LA), eu não me contive e chorei. Eu mudei para os EUA por vontade própria há 7 anos e adoro a minha vida aqui, mas num momento especial como as Olimpíadas, na cidade onde cresci, as lágrimas foram inevitáveis.
Talvez por conta de todas as memórias que eu colecionei no próprio Maracanã, e especialmente porque independente da distância, do tempo, e de todos os problemas, e no Brasil que estão as minhas raízes, foi no Rio que vivi tudo pela primeira vez, o primeiro show do Sting, o primeiro beijo, o primeiro amor, a primeira vez que dirigi, o primeiro emprego, nas horas de grande emoção, como ver a história do país ser contada de forma espetacular e criativa, ouvir Paulinho da Viola cantar o hino nacional e até ver Gisele Bündchen desfilar ao som de Garota de Ipanema, a saudade bate, assim como o orgulho de ter o coração verde e amarelo.
Mas, devo confessar que o auge da minha experiência foi no dia seguinte a cerimônia de abertura, quando cheguei no supermercado e o caixa me perguntou se eu tinha visto a abertura dos Jogos Olímpicos, que segundo ele, foi a mais bonita que viu até hoje, eu ainda mais orgulhosa, dei um sorriso largo, enchi o peito e disse: vi sim, e sou do Rio de Janeiro. Foi realmente espetacular. Ele me deu os parabéns, lamentou que eu não pude estar no Brasil pra ver ao vivo e se despediu dizendo que depois dessa ficou com vontade de conhecer o nosso país.
Que o sonho dele se realize e que o Brasil receba meu novo amigo tão bem quanto está recebendo todos os atletas e delegações esportivas do mundo inteiro. Quanto a mim, mal posso esperar para ser abraçada pelo Cristo quando voltar para regar as raízes na Cidade Maravilhosa, a única que Deus te recebe de braços abertos e com um Pão de Açúcar.
Sim temos muitos problemas, mas em nenhum momento ofuscaram a nossa festa. Parabéns a todos os envolvidos nesta produção! O Rio e o Brasil merecem serem reconhecidos pelo que têm de melhor, seu povo!