Para terminar com chave de ouro nossa cobertura do Variety TV FYC Fest, nada melhor do que celebrar a presença do Brasil, que foi muito bem representado no evento pelo cineasta Alex Pritz, diretor do documentário “O Território” sobre o povo indígena Uru-eu-wau-wau, na Amazônia.
Além de Alex, participaram do painel Allen Hughes (“Dear Mama”), Ondi Timoner (“Last Flight Home”) e Zachary Heinzerling (“Stolen Youth: Inside The Cult At Sarah Lawrence”).
Em “O Território”, o povo indígena Uru-eu-wau-wau viu sua população diminuir e sua cultura ser ameaçada desde o contato com os brancos brasileiros. Embora prometida a autonomia sobre seu território de floresta tropical, eles enfrentaram incursões ilegais de extração de madeira e mineração ambientalmente destrutiva e, mais recentemente, invasões de grilagem de terras, estimuladas por políticos de direita como o ex-presidente Jair Bolsonaro. Tendo o desmatamento como consequência, o problema se tornou global. Com acesso inédito e coproduzido pela comunidade Uru-eu-wau-wau, o documentário coloca o público no centro desse conflito. Jovens líderes indígenas e ativistas ambientais arriscam suas vidas para defender a floresta, montando sua própria equipe de mídia independente, usando a tecnologia para expor a verdade e revidar. Fonte: AdoroCinema
Alex compartilhou sua admiração pelos Uru-eu-wau-wau, que são coprodutores do documentário, “começamos a rodar o filme durante o governo de extrema direita, do Bolsonaro, no Brasil. Foi um período obscuro para os povos indígenas, especialmente com o avanço desenfreado do desmatamento na Amazônia. E, ainda não tínhamos terminado, quando a pandemia aconteceu e tivemos que suspender as filmagens. Mas, pra nossa felicidade, representantes da comunidade se incumbiram de terminar o documentário. Enviamos os equipamentos e eles assumiram o comando. Muitas das imagens que vocês viram nesse trailer foram capturadas pelos jovens cineastas Uru-eu-wau-wau e eles estão creditados como coprodutores, porque não teríamos terminado esse projeto sem o trabalho deles. Foi uma experiência única pra mim, especialmente porque é meu primeiro documentário também. Aprendemos muito juntos e estamos satisfeitos com o feedback positivo que recebemos pois esse tema é mais relevante que nunca”.
Alex foi muito aplaudido, até porque a maioria avassaladora das pessoas no evento são defensores das políticas ambientais e anti-Trump e, consequentemente, anti-Bolsonaro. Orgulhosa, contei para meus colegas de mesa que era brasileira e iniciamos uma conversa sobre a importância de um projeto como “O Território”, ainda mais na National Geographic, uma empresa do grupo Disney, o que dá ao documentário uma projeção mundial gigantesca. E a gente precisa mesmo chamar a atenção do mundo sobre esse assunto!
Em “Last Flight Home”, Eli Timoner, um marido, pai e empresário dedicado que fundou a companhia aérea Air Florida na década de 1970, decide encerrar sua vida através de medicamentos. Durante o período de espera de 15 dias, Eli acamado, mas consciente, se despede dos mais próximos e os ajuda a se preparar para sua partida. Enquanto seus entes queridos relembram os altos e baixos de Eli, também lutam para compreender sua escolha. O documentário íntimo sobre a jornada de uma família para encontrar equilíbrio, ao abrir suas vidas para oferecer uma visão esclarecedora de uma experiência universal, demonstra a graça que pode emergir ao abraçar a morte. Através do riso e da alegria, a família involuntariamente fornece um guia para atravessar a inevitável passagem de perder um ente querido e compartilhar um legado duradouro que demonstra como podemos viver, mesmo quando morremos. Fonte: AdoroCinema
A diretora Ondi Timoner aproveitou o bate-papo e falou da importância do documentário como arte, “somos pessoas muito curiosas e vamos continuar fazendo documentários, quer você goste ou não. Meu filme ‘Last Flight Home’ não foi motivado por um mercado. Foi algo que senti que tinha que fazer, compartilhar essa parte da história da minha família foi importante pra gente e pra muitas outras famílias que encontraram nesse filme consolo e inspiração. Fazer documentários leva as pessoas além das manchetes para histórias que poderiam não ter sido contadas de outra forma, e aí reside sua vitalidade”.
Eu, como fã de carteirinha de documentários, não podia concordar mais com Ondi. Aliás, assisti todos os listados nesse post e uma dica importante, deixem o lenço na cabeceira antes de conferir “Last Flight Home”, as lágrimas vão rolar, mesmo que você tente evitar.
O mesmo com “Dear Mama”, dirigido por Allen Hughes, que segue a vida e o legado de Tupac Shakur e sua mãe, a ativista dos Panteras Negras Afeni Shakur. A história deles narra as possibilidades e contradições dos Estados Unidos desde uma época de fervor revolucionário até a década mais ostensiva da cultura Hip Hop.
Allen confessou que quando foi convidado pra dirigir esse documentário sobre o Tupac, pensou em recusar, pois ele e o músico tiveram problemas no passado. Mas, depois de saber mais detalhes sobre a história da família de Tupac, ele viu a oportunidade de centrar o doc na mãe do músico, que tinha muito em comum com a sua própria mãe. “Quando eu fiz a proposta de focar “Dear Mama” na jornada de Afeni Shakur, todo mundo gostou da ideia, e aí foi o sinal verde que eu precisava pra contar a história da forma que a trajetória dessa mulher fosse conhecida e celebrada. Acabou sendo um dos projetos mais pessoais da minha carreira”.
Agora se os documentários anteriores me fizeram refletir e me emocionaram, “Stolen Youth: Inside The Cult At Sarah Lawrence” fez a minha peruca voar longe. Esse documentário é sobre um grupo de estudantes brilhantes do Sarah Lawrence College que cai sob a influência sombria do pai de um amigo, Larry Ray. Com acesso sem precedentes aos sobreviventes que viveram com Ray, a série segue o culto, desde suas origens até suas consequências ainda em desenvolvimento.
O diretor Zachary Heinzerling comentou sobre as razões que nos fazem ficar tão chocados, “é difícil e triste acreditar que um homem que era conhecido dos estudantes, considerado um mentor, pai de uma amiga, fosse capaz de fazer todas as crueldades que ele fez. Manipulando jovens vulneráveis, abusando sexualmente e mentalmente deles. Nos impressiona ver como os estudantes não enxergaram antes a cilada; mas é realmente difícil, os conhecendo, conversando com eles, conseguimos perceber os motivos deles terem se afastado da família e do mundo pra seguir esse predador. Foi um trabalho muito delicado e complicado pra gente também. Mas a gente quis fazer o documentário para registrar que situações como essa acontecem ainda hoje e, falando disso, é a forma que encontramos de chamar atenção pro problema e, quem sabe, ajudar alguém que esteja passando por isso”.
Imperdível conferir, mas prepare o coração que vai ficar despedaçado. Mas Alex está certo, precisamos dos documentários para educar e informar a sociedade sobre os predadores que rondam pessoas vulneráveis, justamente para evitar que mais gente embarque na manipulação desenfreada desses psicopatas.
E, como não canso de repetir, foi um dia que nunca imaginei que fosse acontecer nem nos meus sonhos. Saiu melhor que encomenda!