Bate-Papo Com O Ator Junior Vieira estrela do filme “É Fada”

Brilhando na telona como Ankô, ao lado de Kéfera, no filme “É Fada”, produzido por Daniel Filho, o ator Junior Vieira tem uma trajetória que não deixa nada a desejar aos personagens que já interpretou no cinema, na TV e no teatro. Tive a sorte de bater um ótimo papo pelo telefone com o Junior, que além de simpático é uma daquelas pessoas determinadas e inspiradoras.

Sua mãe tinha 14 anos quando lhe deu a luz no Maranhão, e foi registrado pelos seus avós, e como ele mesmo me falou: “oficialmente sou irmão da minha mãe”. Sua família mudou para o Rio de Janeiro, quando Junior ainda era pequeno, em busca de melhores oportunidades:”viemos de uma região muito pobre, e moramos em várias favelas no Rio, até nos fixarmos em Morro de São João, onde fui criado”. Foi lá que Junior, fã de Michael Jackson, começou a dançar e pra acompanhar seu grupo de amigos, foi fazer figuração. “Entrei nesta de figuração por causa da galera mesmo, nem sabia direito o que era no começo  mas foi lá que descobri a carreira de ator”, conta Junior.

Mas a vida do ator mudou mesmo no dia que ele leu sobre um teste para a peça de Miguel Falabella e Vera Fisher, “A Primeira Noite De Um Homem”, como ele relembra: ” O teste era no Leblon, e até então eu nunca tinha ido na Zona Sul do Rio, acredita?! Não sabia nem direito onde era o lugar. Mas sai do colégio e fui lá, quando eu cheguei a moça me perguntou se eu tinha levado o meu material, eu disse que sim, abri a minha mochila e peguei meu livro de geografia, de história. Ela riu muito e super fofa me explicou que o material eram as fotos e que para trabalhar como ator eu precisava ser registrado no DRT (Delegacia Regional Do Trabalho). Aí eu fui na minha agência de figuração e perguntei como poderia conseguir o DRT. O pessoal lá me indicou a a Casa e Cia de Artes Avancini e foi lá que conheci minha madrinha e amiga, Andréa Avancini, a quem devo a minha carreira.”

Andréa foi seu anjo da guarda. Percebeu seu potencial como ator desde que Junior leu seu primeiro texto e investiu nele desde o início, como ele conta: “desde a minha primeira semana na Casa, Andréa me mandou pra testes de comerciais, Malhação e da novela Senhora Do Destino. Eu fiz as primeiras aulas, que eram gratuitas, e ela me convidou pra continuar e fazer o curso completo, mas era muito caro pra mim, e eu fui sincero e disse a ela que não tinha condições financeiras pra continuar, mas Andréa me ofereceu um bolsa integral, com todos os cursos da casa, até dublagem, e me apresentou ao Sérgio Mattos da agência Mega, onde comecei a trabalhar como modelo e fazer uma graninha. Ela é uma pessoa muito especial na minha vida. Faço questão de falar dela sempre”.

E a partir daí,  as oportunidades começaram a pipocar na vida de Junior Vieira, ele chegou a fazer um espetáculo, ao mesmo tempo que estrelava uma minissérie na TV Globo e apresentava um programa no Canal Futura. Estava no topo da roda gigante e confessa que se deslumbrou: “eu estava no auge e, de repente tudo acabou, os contratos se foram, e eu não tinha mais nada. Foi um sacode que levei da vida e foi bom, porque passei a administrar melhor e mais realisticamente a minha roda gigante, porque a carreira de ator é assim mesmo, um dia estamos no topo e o outro embaixo, precisamos estar preparados pra viver os dois lados da história”.

Mais maduro e experiente, Junior hoje tem um agenda super cheia, e trabalhos não faltam mais, muito por conta da sua determinação em estar sempre produzindo projetos em que acredita. Ele participou como roteirista, diretor e ator do “Home Theater” – Festival Internacional de Cenas” : “é um projeto incrível”, diz Junior, “a gente tem que escrever, produzir e dirigir uma cena baseada na vida de uma pessoa na Cidade de Deus e o cenário e a própria casa dela”. Junior recebeu os prêmios de melhor autor e ator nos 3 anos em que participou, mas ainda assim afirma que esta engatinhando em seu carreira como roteirista: “ainda não falo que sou autor, falo que sou “rascunhador”, ainda estou me aprimorando, mas escrever é uma das minhas paixões.” Assim como a telona e os palcos: “no cinema e no teatro temos mais tempo de  desenvolver nossos personagens, eu adoro.”

E falando em cinema como foi trabalhar com a “lenda” Daniel Filho? “Eu fiz um teste com vários outros atores, alguns famosos até, e mal pude acreditar quando a produtora de elenco me ligou me chamando para uma leitura de texto na casa do Daniel, com o resto do elenco. Estava super nervoso, mas durante a leitura eu resolvi arriscar e comecei a improvisar, eu achei que tinha que fazer algo diferente. A Kéfera embarcou na minha e pra minha sorte o Daniel adorou, a diretora também. E assim consegui o papel”,  e animado Junior conta um pouco sobre a sua relação com seus colegas de elenco: “Kéfera é minha amiga, eu não a vejo como todo mundo vê  eu nem sabia quem era ela antes, mas lógico que eu sei que ela é super famosa, mas conheci a pessoa antes da celebridade, trocamos muitas confidências sobre família, passamos muito tempo juntos, sou próximo da mãe dela também. E adoro a Klara Castanho, apesar de não termos cenas juntos no filme, ficamos muito amigos. E todos nos divertimos muito juntos. E o melhor é receber o carinho dos fãs, que tem ido as pré-estreias e adorado o filme, todo mundo tem sido muito generoso com a gente”. (O filme estreou dia 6 de outubro, alguns dias depois desta entrevista).

Mas Junior afirma que apesar de estar no ponto mais alto da sua roda gigante não é a fama que ele busca: “eu não busco a fama, eu busco o sucesso, e sucesso é muito relativo pra cada um, pra mim é ter autonomia , ter respeito, e como um ator negro fazer projetos que eu acredito e ajudar a minha família.”

Que faz questão de destacar a importância de escolher os personagens certos, especialmente para um ator negro: “eu neguei vários trabalhos, porque não queria fazer o bandido, sabe?! Acho que posso fazer um médico, um advogado, e isso foi importante para eu conquistar o espaço e o respeito que tenho hoje no mercado. E conseguir papéis em filmes como “Feliz Ano Novo” baseado no livro de Rubem Fonseca. Aliás, estou super feliz porque o diretor me ligou e disse que na montagem eles decidiram que meu personagem será o protagonista da historia, olha que honra!”.

E Junior, que também é um grande defensor das questões raciais e luta para que em um dia os negros consigam atingir os mesmos papéis que os brancos, em todas as plataformas, está ansioso para a estréia da serie: “Era Uma Vez Uma Historia Do Brasil”,prevista para Novembro na Warner e Bandeirantes, onde interpreta José do Patronicio: “Ele foi o homem mais importante do abolicionismo, obrigou a Princesa Isabel a assinar a Lei Áurea, foi uma felicidade interpretar este personagem. E aprendi muito nesta série, esclarece vários fatos importantes da historia do Brasil.”

Este jovem “maranhoca”, como se entitula por ter nascido no Maranhão mas, como cresceu no Rio, se considera carioca de coração, está de malas prontas para partir pra Pernambuco, onde vai rodar um filme mais “cabeça”: “meu personagem  é gay e se apaixona pelo cadáver de uma mulher, bem diferente do Ankô, mas igualmente fascinante”, fala Junior animado.

E eu super envolvida com sua história de vida, tive dificuldades para encerrar a entrevista que estava pra la de interessante, mas ja tinha tomado tempo demais do ator, que ao se despedir de mim, agradeceu pelo meu tempo e por ter ouvido a sua trajetória pacientemente. Mas na verdade, Junior, quem tem que agradecer sou eu e aqueles que lerem essa matéria, porque não é todo dia que a gente tem a chance de conhecer alguém com uma vida que nos inspira a dar um gás na nossa própria vida, e foi esta a sensação que meu papo com ele me deu, tudo é possível, fato que vamos viver altos e baixos, vencer desafios, realizar sonhos, vamos ter os dias difíceis e temos que continuar a luta, enquanto nos dias felizes, devemos curtir o momento e assim vamos aprendendo a administrar com sabedoria a nossa própria roda gigante… Obrigada pelas boas lições e pelo exemplo, Junior. Aprendi muito neste papo contigo!