Finalmente, chegamos ao último capítulo do nosso diário de viagem que começou em Nova Jersey, no lado do oceano Atlântico, passou por Nova Iorque e Maryland, onde peguei a minha mudança que estava em um depósito, atravessando a Pensilvânia, Ohio e Indiana, até chegar a Chicago, Illinois, onde demos a largada na famosa “Estrada Mãe”, a Rota 66, percorrendo seus oito estados até Santa Monica, Califórnia, no lado do oceano Pacífico.
Foram 12 dias de muitas aventuras, brindes, reencontro com amigas, descobertas e aprendizado sobre o país que decidi morar.
Antes de chegar ao nosso destino, cruzamos o estado do Arizona. A primeira parte compartilhamos no post anterior, que vale conferir antes de prosseguir aqui:
Agora, vamos à segunda parte da nossa passagem pelo maior estado da Rota 66. O plano era nos hospedarmos no Wigwams (o motel em forma de “tenda”) mas, infelizmente, estava lotado e pernoitamos num motel vizinho, que também era um dos populares entre os viajantes nos anos 40/50, em Holdbrook, Arizona.
A cidade é basicamente uma rua principal e o restaurante mais “badalado” é um saloon, que me proporcionou uma deliciosa viagem ao faroeste. Aliás, na volta pro motel, ainda fui presenteada com um belo arco-íris colorindo o céu do deserto do Arizona. Inesquecível.
O dia seguinte foi nosso último dia na estrada. Partimos bem cedo de Holdbrook e fizemos uma paradinha no outdoor “Here it is”, no posto Jack Rabbit, um dos marcos mais populares nos áureos tempos da Rota 66 que existe até hoje.
Na sequência, visitamos a charmosa cidade de Winslow que ficou mundialmente conhecida graças à música da banda Eagles, “Take It Easy”, lançada em 1972 (por sinal, o ano que eu nasci!). A letra da canção diz “I’m standing on a corner in Winslow, Arizona” (“Estou em pé em uma esquina em Winslow, Arizona”).
E como o povo nos EUA tem o talento nato para transformar “o nada” em ponto turístico, e vender souvenirs, essa esquina tem a estátua dos compositores e cantores da música, assim como lojinhas e restaurantes que fazem a alegria de quem passa por lá. Não é à toa que os estadunidenses são conhecidos como os melhores marketeiros do mundo.
Depois de curtir Winslow, voltamos para a estrada e fizemos rápidas paradas, a primeira no centro histórico de Flagstaff, datado do século XIX. A igreja local recebeu a famosa sufragista Anna Howard Shaw que fez um discurso pelo direito de voto das mulheres, em 1912. A segunda foi em Ash Fork, fundada em 1882 abrigou uma ferrovia estratégica para o transporte de diversos produtos naquele tempo.
Quando a fome apertou, fomos almoçar em um tradicional Diner, inaugurado em 1938, na pitoresca cidade de Kingman, onde todos os pontos turísticos ainda giram em torno da Rota 66. Incluindo uma passagem interativa para o nosso carro, que foi uma das estrelas dessa viagem.
De lá, seguimos para Topock, a última cidade do Arizona. Ao sair do carro, nos sentimos de fato no deserto, de tanto calor que fazia em junho, auge do verão mas, hidratadas, registramos nossa visita, antes de atravessar o Colorado River e, finalmente, entrar no nosso último estado, a Califórnia.
Mais algumas horas na bela estrada até chegarmos a placa original que marca o final da Rota 66, na esquina da Olympic Boulevard com a Lincoln Avenue, em Santa Monica, onde hoje também está localizado o Mel’s Drive-In, que celebra a chegada dos viajantes com um painel e uma marca no chão. Estávamos tirando fotos e contamos para o segurança do diner que tínhamos atravessado o pais e percorrido toda a “Estrada Mãe”. Ele ficou tão entusiasmado que, além de nos parabenizar, fez questão de chamar o dono do estabelecimento, que veio nos cumprimentar.
A missão da road trip, atravessando os EUA de costa a costa, foi concluída com sucesso, tranquilamente e sem acidentes de percurso.
As estradas em excelentes condições, a maioria sem pedágio, nos ajudaram a terminar a viagem sãs e salvas e muito menos cansadas do que imaginávamos. Foi uma aventura suave, repleta de visuais belíssimos, comidinhas gordurosas e deliciosas, onde tivemos a chance de mergulhar nas diferentes culturas dos diversos estados que formam o país; ouvindo diferentes sotaques, experimentando diferentes temperos, conhecendo hábitos dos moradores locais, muitos influenciados pelo seu posicionamento político conservador. À medida que mergulhamos no passado, explorando os pontos icônicos da estrada mais famosa dos EUA, aprendemos muito sobre o presente.
Mais que uma aula de história e geografia, melhor que dirigir minha própria mudança pra casa (como eu via nos filmes e séries), essa viagem foi um sonho da minha adolescência realizado. E o que torna a minha realidade ainda mais fascinante que meu sonho é morar hoje em West Hollywood, bairro de LA, onde não só passa a Rota 66, que é, literalmente, na esquina do meu lar, mas é o trecho em que a “Mother Road” ganha as cores do arco-íris, celebrando a comunidade LGBTQI+.
Perfeição define. Todo o trabalho e os esforços da caminhada, que não é fácil, mas é fascinante, valem a pena quando escrevo esse diário de viagem, que é o reflexo da realização de um grande objetivo. Espero que encoraje vocês a escrever a história das suas conquistas.