“O Obituário de Tunde Johnson” estreou no Toronto International Film Festival e foi o filme de abertura do Austin Film Festival. Escrito por Stanley Kalu, um jovem de então 19 anos, que, para a minha felicidade, tive o prazer de conhecer num bate-papo que rolou depois da exibição da sua primeira produção cinematográfica, realizada graças a um concurso de roteiro que venceu. Ali LeRoi (criador da série “Everyone Hates Chris”, com Chris Rock) era um dos jurados da competição e se apaixonou tanto pelo trabalho de Stanley que se ofereceu para dirigir o filme, que nos apresenta Tunde Johnson (Steven Silver), um adolescente gay de origem nigeriana e americana que foi assassinado a tiros pela polícia. Após sua morte, Tunde acorda, revivendo o mesmo dia repetidamente, preso em um terrível ciclo de tempo. Quando isso acontece, o jovem é forçado a enfrentar verdades difíceis sobre sua vida, o dia de sua morte e sobre si mesmo. Fonte: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-276888/
O roteiro é inteligente e aborda uma série de tópicos relevantes, a medida que mostra a forma cruel como policiais brancos tratam os negros nos EUA. Desde a maneira como os abordam, que é bem diferente da forma como abordam uma pessoa branca, até a forma trágica como a interação pode terminar.
O filme incomoda, entristece, e o fato da narrativa não ser linear, o torna ainda mais interessante porque permite ao público entrar no mesmo ciclo do tempo do personagem principal e reviver o dia de seu assassinato diversas vezes. E, por isso, “O Obituário de Tunde Johnson” é excelente.
É o tipo de filme que faz a gente pensar, abre nossos olhos para a sociedade que vivemos e nos inspira a absorver de forma diferente as notícias e informações que recebemos dos meios de comunicação e das redes sociais, onde os negros e latinos são culpados da maioria avassaladora dos crimes anunciados, mas como os números provam, os culpados, na verdade, da maioria dos crimes cometidos, são brancos.
Mas, além da temática central, o filme tem momentos divertidos e celebra a família nigeriana de Tunde, uma homenagem que o roteirista fez para os seus pais, “o mais importante para mim é que meus pais gostassem do filme, que foi feito para eles, usei até fotos da minha própria família para homenageá-los”, disse Stanley no Q&A, e sua missão foi cumprida com sucesso: “eles se emocionaram, estão orgulhosos”, completou o jovem, hoje com 21 anos e um trabalho aclamado em Hollywood.
O filme ainda não tem data de estreia prevista no Brasil, mas eu sugiro vocês a anotarem a dica, e aguardem, porque esse só é o primeiro, de muitos sucessos que virão para Stanley Kalu, uma inspiração para quem sonha em seguir carreira como roteirista de cinema. O Q&A foi tão apaixonante como o filme. O AFF não poderia ter começado melhor.
Direção: Ali LeRoi
Elenco: Steven Silver, Spencer Neville, Nicola Peltz mais
Gênero: Drama
Nacionalidade: EUA
“Waves” foi um dos destaques do Austin Film Festival. Escrito e dirigido pelo simpático Trey Edwards Shults, natural do Texas, foi uma celebração de uma das “pratas da casa” que estão fazendo sucesso na indústria cinematográfica.
O filme mostra a jornada emocional de uma família afro-americana enquanto eles navegam no amor, no perdão e na união após uma trágica perda. Estrelado por um elenco de peso, que conta com a participação de Kevin Harrison Jr, Sterling K. Brow, Lucas Hedges e da novata (e espetacular) Taylor Russell McKenzie.
Conversamos com Trey no tapete vermelho, antes da estreia do seu filme, no seu estado natal. Confessei a ele que chorei assistindo o trailer, e ele ficou lisonjeado e afirmou que chorou como uma criança escrevendo o roteiro baseado em sua vida. “Coloquei meu coração e minha alma nesse projeto, que é sobre a minha vida, as pessoas importantes pra mim. Além disso, tive a colaboração do elenco e da equipe envolvida no filme, e a história, que inicialmente era importante só pra mim, ganhou uma dimensão muito maior que eu imaginava”, conta.
Perguntei a ele também, se tinha tomado a decisão de dirigir o filme desde o começo, “eu amo todo o processo de fazer cinema, acho que com isso, dirigir e escrever foi um processo natural.”
Agora, a pergunta que não quer calar, como Trey conseguiu reunir esse elenco estrelar: “ah, eu sou um homem de sorte. Para mim, eles são os melhores atores do mundo. Sei que estou usando hipérbole, mas é verdade. Tudo começou com o Kevin, ele foi o protagonista do meu último filme. Ficamos muito próximos e queríamos trabalhar juntos novamente. Essa foi a oportunidade. Mas eu amo todos os atores envolvidos nesse filme, o processo de desenvolver essa estória foi colaborativo, somos todos uma grande família criativa.”
Pra encerrar, uma dica desse bem-sucedido roteirista e diretor para os jovens que sonham em brilhar no entretenimento: “seja você mesmo, escreva sobre tópicos que são importantes pra você. Coloque sua experiência, seu olhar, seu coração e sua alma no projeto e arrume uma forma de traduzir o que você sente e valoriza para a telona, e outras pessoas vão dar valor a seu trabalho também”.
Confira nossa entrevista exclusiva, em vídeo, com Trey Edwards Shults no tapete vermelho do AFF 2019:
Direção: Trey Edward Shults
Elenco: Taylor Russell McKenzie, Kelvin Harrison Jr., Sterling K. Brown, Lucas Hedges
Gêneros: Musical, Drama, Romance
Nacionalidade: EUA
Trailer: