As Aventuras do Caça-feitiços – O Aprendiz

Joseph DELANEY
Editora BERTRAND
2014
222 págs.

SINOPSE: Thomas Ward é o sétimo filho de um sétimo filho e se tornou aprendiz do Caça-Feitiço. A missão é árdua, o Caça-Feitiço é um homem frio e distante, e muitos aprendizes já fracassaram. De alguma forma, Thomas terá de aprender a exorcizar fantasmas, deter feiticeiras e amansar ogros. Quando, porém, é enganado e cai na armadilha de libertar Mãe Malkin, a feiticeira mais malévola do Condado, tem início o horror…

Por: Carl

Tom é o sétimo filho de um sétimo filho, condição essencial para se tornar aprendiz do Caça-feitiço, um homem misterioso que é igualmente temido pelas pessoas como pelas criaturas que habitam o condado. Aos doze anos, a mãe de Tom oferece o filho como aprendiz, ao invés de deixá-lo ficar na fazenda e ajudar o irmão mais velho e o pai nas tarefas diárias. A contragosto, Tom segue com o misterioso homem, sem imaginar o que terá que enfrentar durante seu aprendizado.

O livro é de formato reduzido, daqueles um pouco menores que o normal. As letras são médias. Eu li em uma tarde sem nenhum sacrifício. E digo isso, porque quando você começa a leitura não há como parar antes de chegar ao fim.

A narrativa é em primeira pessoa, por Tom, e o formato do livro se assemelha a um diário com capa de couro. Já no primeiro capítulo temos os cabelos do braço arrepiados assim que o caça-feitiço e Tom saem da fazenda e sobem um morro. Com uma descrição sucinta, clara, de poucas linhas, nos deparamos com uma floresta cheias de árvores e nos seus galhos pessoas enforcadas. A forma como somos inseridos nessa imagem é extremamente eficaz e a surpresa que temos ao fim dessa primeira descrição é igual à do próprio personagem.

Logo a seguir, como primeira tarefa de aprendiz, somos deixados junto com Tom em uma casa assombrada, onde precisamos enfrentar um espírito com apenas uma vela. Eu tremi quando os passos da assombração, invisível, sobe pelas escadas do porão e suas pegadas no chão empoeirado seguem direto para Tom.

Não há pausa para o leitor respirar. Capítulo a capítulo somos pescados pelos perigos e tarefas que o coitado do garoto de doze anos precisa enfrentar para se tornar um caça-feitiço. Descobrimos como ogros se movem por caminhos subterrâneos, que as bruxas são enterradas de cabeça para baixo em túmulos cercados por grades de ferro, damos de cara com um morto-vivo que persegue os ossos que perdeu, gatos que rugem mais alto que tigres, e nos apaixonamos pela jovem bruxa mais corajosa e fofa que já ouvi falar.

E tudo isso não é nem metade da incrível aventura que acompanhamos pelas poucas páginas desta obra.

Apesar dessa condensação de informações, em nenhum momento há pressa na escrita ou nos acontecimentos. Tudo o que acontece é na medida certa, sem amolação, sem esticar uma ação ou a descrição de um local. Mesmo assim, todas as localizadas são descritas com o suficiente de informação para que o leitor consiga construir uma imagem de onde os personagens estão, ou o que eles estão fazendo.

Tom é cativante e não é o herói que enfrenta tudo sem medo. Em certo momento, ele simplesmente abandona tudo e sai correndo de medo. Não há como não rir. E em outros momentos, tremendo, sentindo que vai desmaiar, ele se mantém firme e consegue fazer o que é preciso. Ele também não é aquele personagem inteligente que sabe todas as respostas. Ele segue o que sente no coração, o que aprendeu da mãe, e na sua imaturidade faz bobagens. Por toda essa imperfeição, a identificação com ele é quase imediata, porque ele pensa e se comporta como o leitor na mesma situação.

Gregory, o caça-feitiço, é misterioso, estranho, indecifrável. Em momentos ele é duro. No momento seguinte, sentimos vontade de abraçá-lo. Da mesma forma que Tom, ele não é invencível. Descobrimos seus limites e o quanto custa aquilo que ele faz. Ao fim do livro, sabemos pouco mais do que o que sabíamos no início, mas não nos importamos com isso. Pelo contrário. A incógnita desse personagem é tão bem descrita e seus segredos inseridos de forma tão singela, que apenas queremos acompanhar suas aventuras e deixar que aos poucos ele nos diga o que precisamos saber.

E temos Alice. A bruxinha. Não vou falar muito sobre ela, porque é uma delícia sentir a dualidade que ela apresenta e a inevitável influência e ligação que ela terá com Tom. Falar mais, seria privar você, leitor, do prazer de se indagar sobre se ama ou odeia essa pequena personagem.

“O APRENDIZ” é o primeiro de uma série de livros. No exterior, existem doze volumes publicados. No Brasil, já temos oito. Todos os livros são curtos e seguem o mesmo padrão de adrenalina. Um filme baseado na obra chegará aos cinemas este anos, mas pelo trailer não é nada próximo do que você lerá. Infelizmente.

Desta vez vou fazer diferente e terminar a resenha com o que está escrito na contracapa do livro: CUIDADO, não deve ser lido à noite! Siga esse conselho! 😉

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *