Ainda Estou Aqui: Brasil volta a se destacar no cenário internacional com filme de Walter Salles

O Brasil segue brilhando em LA. O nosso filme “Ainda Estou Aqui”, que é um sucesso absoluto de bilheteria no nosso país, está emocionando Hollywood, como um filme brasileiro não faz desde “Central do Brasil”, dirigido também por Walter Salles.

Eu tive o privilégio de assistir a estreia do filme no AFI Fest, em Los Angeles, e registrei meu encontro com a diva Fernanda Torres e o ícone Selton Mello.

 

 

Mas, para a minha felicidade, os atores, assim como o diretor Walter Salles, seguem fazendo campanha para o filme que foi escolhido para representar o Brasil no Oscar. Com isso, eles tem participado de vários eventos em NY e LA para promover “Ainda Estou Aqui”, o que faz parte da temporada de premiações, especialmente quando um filme tem a chance de uma indicação, como é o caso dessa obra, esse ano.

 

 

O que acho que eles não esperavam é que Sean Penn, que raramente aparece em Hollywood e pouco sai de casa, até para promover seus próprios filmes, se apaixonaria tanto pelo projeto que fez questão de apresentar o filme em uma sessão para membros da Academia e membros de outras organizações, como o Film Independent (que faço parte) que aconteceu na prestigiada agência CAA, na última terça.

Tive a honra de ouvir pessoalmente as palavras de Sean Penn sobre “Ainda Estou Aqui”, seu diretor e o elenco:

 

 

“No dia da eleição (nos EUA) eu votei, desliguei meu telefone e me tranquei na minha garagem, onde fiquei até o fim do dia, trabalhando com madeira. Quando entrei em casa, coloquei esse filme que se passa durante a ditadura militar, no Brasil. E me consolou ver esse filme que é sobre resiliência, o que vamos precisar aqui. Na verdade, o filme é uma aula de cinema do diretor Walter Salles, é belíssimo, e os atores estão brilhantes. Esse é o tipo de filme que eu assisto e que me inspira a continuar fazendo o trabalho que eu faço. Vocês vão ter o privilégio de ver agora, mas eu sei que esse filme vai ficar com vocês, como ficou comigo por um bom tempo. Eu convido o talentoso diretor Walter Salles para falar com vocês.”

Walter entra e no caminho abraça Sean Penn. Logo chama Torres e Selton, que tímidos, ficam ao seu lado, enquanto o diretor diz o quanto esse filme é pessoal pra ele e agradece a presença de todos.

 

 

Walter entra e no caminho abraça Sean Penn. Logo chama Torres e Selton, que tímidos, ficam ao seu lado, enquanto o diretor diz o quanto esse filme é pessoal pra ele e agradece a presença de todos.

 

 

“O que vai acontecer na exibição desse filme agora, não vai acontecer em nenhuma outra exibição do filme, pois são vocês que vão completar essa experiência – que é uma consequência de como cada pessoa na plateia sente o filme – Esse é um filme muito pessoal para mim – e para todos nós – eu conheço a família que protagoniza esse filme. A história dessa família está comigo há 30/40 anos e compartilhar essa história com vocês a agora é muito significativo para mim.”

Eu confesso que me emocionei ainda mais assistindo a obra de Walter pela segunda vez. E sim, fiquei ainda mais impressionada com a performance de todos os atores, com destaque para a atuação de Fernanda Torres que em seus pequenos gestos, expressões e olhares, conta a trajetória de sua personagem Eunice nas suas alegrias, suas tristezas, sua angústias, sua revolução e sua conquistas.

No papo que rolou depois do filme, todos foram muito aplaudidos em vários momentos, especialmente Fernanda.

A atriz comentou as escolhas que fez para interpretar Eunice:

“Desde o início, nas conversas que eu e Walter tivemos sobre o filme, a gente tinha certeza que não queria transformar a jornada da personagem em um melodrama. Então, ela não chora demais, não se desespera demais, a gente queria que todos os sentimentos dela fossem sentidos pelo espectador, nos detalhes. Nada de desespero, o que é comum a gente ver no cinema em alguns casos, mas a Eunice não era assim, ela era discreta, contida, e era muito importante para o Walter, e para mim também, honrarmos a Eunice como ela era de verdade.”

 

 

Walter complementa: “Esse filme é uma homenagem à Eunice e a essa família que me acolheu quando eu voltei para o Brasil de uma temporada vivendo no exterior. Eu cheguei no meio da ditadura militar, um período sombrio na história do Brasil. Mas, na casa dos Paiva, eu encontrei um porto seguro e feliz, como vocês viram no filme, era uma casa muito alegre, muito festeira. Uma casa cheia de amigos, música, dança, e muito clara, eu lembro das cortinas estarem sempre abertas e também lembro de passar em frente, depois que levaram o Rubens, e ver as cortinas fechadas, lembro nitidamente de achar aquilo muito estranho. Me marcou e por isso é um momento que quis registrar no filme. Por conhecer eles tão bem, eu tinha esse comprometimento com a verdade, e por isso nunca quis que a Eunice fosse dramática, porque ela não era dramática. A Fernanda entendeu a minha ideia muito bem, desde o início. Ela captou e interpretou brilhantemente a Eunice que eu conheci. E, no final, a Fernanda Montenegro, fechou com chave de ouro a trajetória da Eunice na tela. Ela viveu com Alzheimer por 14 anos, e quando ela ouviu o nome do Rubens, ela realmente reagiu, ela teve um momento de consciência. Isso de fato aconteceu. Aliás, como tudo no filme, não foi imaginação, mas fatos baseados no livro do Marcelo Rubens Paiva.”

 

 

Selton comenta sobre a emoção de assistir ao filme, compartilha e celebra o sucesso que o filme está fazendo no Brasil.

“Eu só faço parte de uma pequena porção desse filme, o que me orgulho muito. Mas, quando eu assisti o filme, eu me emocionei como um membro comum da audiência. Eu perdi a minha mãe recentemente e ela também conviveu com o Alzheimer por mais de 10 anos, então eu senti o que aquela família sentiu. Esse filme é sobre memória e a falta de memória. É sobre manter viva a memória do Rubens e de todos os afetados pela ditadura, assim como lembrar da ditadura em si. Esse filme é sobre perder a memória para o Alzheimer, mas deixar tudo muito bem registrado em fotos, cartas, como a Eunice fez e, com isso, Marcelo pode registrar no livro. E é um filme sobre essa família brasileira, no cenário político da ditadura brasileira, que tem muitos elementos na história que todo mundo pode se identificar, como eu me identifiquei. Esse é um filme muito humano.

E a gente está muito feliz em saber que o filme é o campeão de bilheteria no Brasil. Isso é lindo e muito importante pra gente, saber que as pessoas estão indo ao cinema para assistir ao filme. E eu acho que o sucesso se deve ao trabalho genial que o Walter fez em contar essa história de forma tão realista.”

 

Fernanda adiciona, “verdade, o Walter veio do documentário, e esse filme usa a linguagem documental. O que faz toda a diferença.”

Walter agradece e celebra o cinema nacional: “eu estou radiante em ver o filme ser tão bem recebido pelo público no Brasil e que as pessoas estão se identificando com a experiência dessa família, com a jornada da Eunice. Era tudo que eu queria. Além disso, o filme mostra a realidade da ditadura que, no Brasil, foi convenientemente esquecida pela maioria. O Brasil sofreu a mais longa ditadura na América Latina e é o único país, diferente da Argentina e do Chile, que os crimes da ditadura não foram julgados e os criminosos não foram condenados. Com o avanço da extrema direita essa situação ficou ainda mais grave e esse filme está mais atual que nunca, então é o momento de falarmos sobre esse assunto, de mostrarmos os horrores do que aconteceu e mostrar para as novas gerações o terror que foi e as consequências para a família do Rubens e para tantas outras famílias. O sucesso de bilheteria do filme e as boas críticas, inclusive o fato de estarmos aqui em Los Angeles, com vocês hoje, é ainda mais significativo e importante pra gente, por isso.”

 

 

Fernanda Torres ressalta: “o mais gratificante é que pessoas da mesma família que tinham parado de se falar ou se afastado por conta de opiniões políticas divergentes, estão conversando agora por conta do filme. Temos recebido muitos depoimentos de gente que foi ver o filme e resolveu conversar com gente próxima que discorda politicamente, porque eles estão sensibilizados com a trajetória da família. Isso é compensador, esse é o melhor papel que o cinema pode fazer, unir, transformar e educar a sociedade.”

Selton corrobora: “sim, e por isso é tão importante pra gente receber esse apoio de vocês aqui também. Obrigada por terem vindo e ao Sean Penn, obrigada pelo suporte. Nos sentimos honrados com todo o carinho.”

O papo foi sério, mas Fernanda Torres, fantástica comediante que é, abraça Vani e conta para a plateia que sim já trabalhou com Selton Mello antes, numa série de TV, onde ela dançava funk pra ele, numa cena que viralizou como meme agora que eles estão fazendo esse filme juntos, “pra vocês verem, ainda bem que Walter não assiste TV, caso contrário, ele não nos chamaria pra fazer esse filme”. Muito risos encerrando com astral o papo para partir pra recepção, onde os atores foram cumprimentados pelo público presente que era mais gringo que brasileiro.

 

 

No coquetel, enquanto degustávamos bebidinhas brasileiras, incluindo a deliciosa espumante “Bom Dia”, para brindar o sucesso de “Ainda Estou Aqui”, ouvi uma senhora, membro da Academia, elogiar o filme para a agente que organiza o evento, “nossa, muito lindo, excelente filme.” Maggie responde, “sim, um dos melhores”.

 

 

Meu coração brasileiro bateu forte de orgulho. Walter Salles sabe fazer cinema. Sean Penn tem razão, foi uma aula e esse filme é mais necessário que nunca.

Eu seguirei acompanhando “Ainda Estou Aqui” nessa que é a minha temporada de premiações favorita, nos mais de 10 anos que cubro os eventos em Hollywood.

Rumo ao Oscar Brasil!

 

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