Quando os créditos do documentário “After Parkland” subiram na sessão de imprensa em que eu estava presente no Tribeca Film Festival, em NY, ninguém se mexeu. Dava para ouvir o silêncio quebrado apenas pelo pranto meu e de alguns colegas jornalistas.
No ataque à escola em Parkland, Florida, 17 pessoas, entre estudantes e funcionários, foram mortas, em fevereiro do ano passado. Foi o massacre do tipo com o maior número de vítimas até hoje nos EUA. Infelizmente não foi o primeiro, e depois dele diversos episódios semelhantes ocorreram não só no país como, também, recentemente, na cidade de Suzano, em São Paulo, no Brasil. (Segundo o site Wikipedia foi o oitavo ataque a uma escola no Brasil e o planejamento durou cerca de um ano. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Massacre_de_Suzano )
O documentário não foca no evento em si, mas acompanha a luta para recomeçar e as atitudes que alguns estudantes sobreviventes, a família e entes queridos, de dois que foram assassinados, tomaram em prol da criação de leis contra a venda de armas e a melhoria do sistema de segurança nas escolas.
A mídia cobriu extensamente o ataque, assim como todas as ações ocorridas nos EUA e pelo mundo afora liderada pelos estudantes de Parkland e seus familiares. O interessante do documentário é que mostra os “bastidores” da vida dos envolvidos, que nenhum veículo de comunicação teve acesso.
David Hogg se tornou um porta-voz de Parkland. Enquanto o jovem era requisitado para dar uma entrevista atrás da outra, sua rotina virava de cabeça para baixo dentro de casa. No documentário temos a chance de ver um lado da historia de David Hogg que não assistimos nos telejornais.
Assim como assistimos todas as entrevistas, de cortar o coração, dadas por Andrew Pollack, pai da estudante Meadow, morta com 8 tiros. Andrew descreve de forma franca e transparente a dor que ele sente por ter perdido de uma forma tão brutal sua princesa adolescente.
Manuel, artista plástico e pai de Joaquin, também morto no ataque, assume o time de basquete onde seu filho era a estrela e, como técnico, vence o campeonato que é dedicado a sua memória. Cercado da esposa, da namorada de Joaquin e de seus melhores amigos, ele presta várias homenagens ao adolescente. Artista plástico, Manuel pinta um painel em Dallas, em frente ao local onde acontecia uma convenção da associação dos portadores de rifle e outras armas pesadas.
Aluno sobrevivente, Sam Zeif cai em prantos ao falar de seu melhor amigo morto no ataque em Parkland, no encontro com Donald Trump na Casa Branca, logo após a tragédia. Enquanto, a mãe de Brooke Harrison se emociona ao falar que a filha milagrosamente sobreviveu ao ataque, sendo que 3 estudantes que a cercavam na sala de aula, um estava na sua frente, o outro ao seu lado e o terceiro, atrás dela, morreram. Ao mesmo tempo, Brooke, aos 15 anos presenciou um massacre acontecer ao seu redor e conta como as cenas daquele acontecimento terrível são uma constante em sua memória.
Tendo em vista todos os tópicos abordados, o documentário “After Parkland” não é fácil de assistir, mas nunca foi tão necessário abordar o assunto e mostrar as consequências de uma sociedade armada e um governo que não investe de forma apropriada e devida na segurança das suas escolas.
Mandar mensagem de condolências nas redes sociais não resolve. Criar leis que controlem a venda de armas sim. Treinar profissionais e investir em equipamentos de segurança nas escolas são os passos que já deveriam ter sido tomados pelas autoridades em prol de reduzir, drasticamente, o risco de novos ataques em colégios pelo país afora. Mas, se os poderosos responsáveis por buscar soluções para resolver os problemas nada fazem, os pais que perderam seus filhos na tragédia e os estudantes que sobreviveram ao massacre estão se movimentando por conta própria.
Nosso papel como parte da sociedade que espera uma solução e quer fazer uma revolução é apoiar as ONGs criadas por eles, e assistir, sim, ao seu sofrimento e a sua trajetória. Não só para chorarmos enquanto vemos o documentário, mas para levantarmos das nossas cadeiras, sairmos da nossa zona de conforto e falarmos sobre o assunto, votarmos de forma consciente. Esse não é um problema só do governo e, muito menos, não pertence só aos que foram diretamente atingidos pela tragédia. Esse é um problema de todos nós. Evitar que estudantes sejam assassinados dentro da sua sala de aula, é um dever de todos os cidadãos e este documentário nos educa e orienta mostrando como podemos ser mais ativos na luta.
Eu e meus colegas jornalistas saímos em silêncio do cinema, depois de assistirmos “After Parkland”. A maioria de nós com o rosto inchado de tanto chorar. Nossa emoção é legítima, mas não resolve.
O que podemos fazer é colocar a nossa boca no trombone e promover o documentário e todas as acoes que ele apresenta. Esse, também, é o nosso primeiro passo rumo à revolução, que deve ser feita nos EUA, no Brasil ou em qualquer canto onde você esteja. Não esmoreça, não se cale. A nossa luta está só começando e você não está sozinho nela. “After Parkland” não é só a história do massacre na escola na Florida, representa a nossa escola em Suzano, São Paulo, e todos os estudantes e familiares que viveram essa terrível experiência em qualquer parte do planeta. Este post é dedicado a eles.
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