Quando vi que “A WAR”, o representante dinamarquês estava na lista dos indicados ao Oscar 2016 na categoria filme estrangeiro, pensei logo, mais um filme de guerra. Mas antes de fazer qualquer comentário, assisti a uma sessão fechada para a imprensa e fiquei boquiaberta com o talento do roteirista e diretor Tobias Lindholm ao apresentar uma história que já foi contada várias vezes, por uma perspectiva completamente diferente.
Em “A WAR” acompanhamos a rotina e a dura realidade do comandante do exército Claus M. Pedersen e seus homens que estão em guerra em uma província do Afeganistão. Mas Tobias inova, mostrando também as consequências da guerra na vida da família de seu protagonista Claus. Vimos a luta de Maria, sua esposa, que está na Dinamarca cuidando sozinha de seus três filhos, que sentem a ausência do pai distante.
A produção usou soldados de verdade, o que contribuiu para dar um tom mais realista a história, juntamente com um elenco fantástico. O diferencial deste roteiro é o núcleo familiar. Na edição, muito bem feita por sinal, os conflitos do homem no campo de batalha são intercalados com as graves consequências que a sua família sofre a milhas de distância, como a esposa e os filhos pequenos se sentem sabendo que seu amado marido e pai está correndo risco de vida. A instabilidade emocional que a guerra causa não é só no soldado, mas nas pessoas próximas. Muitas vezes durante uma guerra, o soldado vira apenas um número, para a mídia e para o governo, este filme nos lembra que cada um deles tem uma história de vida.
E mostra a guerra que um homem pode travar com sua própria consciência quando vemos Claus ser forcado a retornar ao lar. Depois que durante uma missão de rotina no campo de batalha, ele e seus soldados são surpreendidos por um ataque inimigo, que o obriga a tomar uma decisão para salvar um de seus homens, o que traz sérias consequências para o comandante, que vai afetar seriamente também a sua família.
A partir deste momento, passamos a acompanhar a guerra psicológica que Claus sofre ao enfrentar as graves consequências de seus atos. O filme tem um desfecho interessante, a ponto de me fazer sair do cinema refletindo sobre as minhas próprias escolhas. Especialmente, a de ter deixado meu preconceito com filmes de guerra de lado e ter aceito ao convite para ver “A War”, que merece o posto que conquistou na corrida pela estatueta.
É um filme super bacana, especialmente para os jovens cineastas brasileiros assistirem. E uma aula de roteiro, direção e produção, que pode lhes inspirar a escrever e dirigir o próximo filme brasileiro que será finalmente indicado ao Oscar. Afinal, desde de 1999, quando ‘Central do Brasil’ concorreu a melhor filme estrangeiro, não temos um representante na categoria.
“A War” tem os elementos necessários para chegar onde está e nós podemos e devemos usá-lo como objeto de estudo, pois competência e boas histórias temos de sobra, só nos falta acertar na técnica na hora de contá-las e estudar bons exemplos, alem de entreter, colabora. Fica a dica!