A Vida Invisível: Promessa brasileira para o Oscar tem estreia em Los Angeles

Por: Raquel Zambon

É evidente que o cinema brasileiro evoluiu muito desde 1998, quando “Central do Brasil” foi nosso último representante na lista de concorrentes ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Neste ano, parece que o cenário vai mudar: o filme “A Vida Invisível”, do diretor cearense Karim Aïnouz e produtor Rodrigo Teixeira, já recebeu um importante reconhecimento em Cannes e é uma das principais apostas para o Oscar 2020.

Baseado no livro da escritora Martha Batalha, “A Vida Invisível” conta a história da família Gusmão no Rio de Janeiro de 1950. Inseparáveis, as irmãs Eurídice e Guida têm grandes sonhos que são podados pelas restrições do pai: Eurídice quer ser uma pianista internacional, enquanto Guida espera viver um grande amor. Quando Guida foge com um marinheiro grego e retorna grávida e solteira, o pai a expulsa de casa. As irmãs vivem os próximos anos sem saber o paradeiro uma da outra e passando por dificuldades, sempre com a esperança do reencontro.

“A Vida Invisível” virou aposta da Amazon Studios, que comprou os direitos da obra e está realizando diversas exibições nos Estados Unidos. Na última semana, o HEA foi convidado para participar de uma dessas exibições em Los Angeles com a presença de Karim Aïnouz.

O auditório da Creative Artists Agency, escolhido para a screening, estava lotado e aguardando ansiosamente pelo diretor. Ao apresentar o filme, Aïnouz falou sobre as mudanças estabelecidas pelo atual governo do Brasil e os filtros culturais impostos para a indústria cinematográfica. Ele comentou que estava feliz pela libertação de Lula, que aconteceu no mesmo dia do evento. O auditório da CAA aplaudiu fervorosamente o discurso do diretor e a libertação do ex-presidente.

Aïnouz dedicou a exibição de seu filme ao ex-presidente Lula e à atriz Fernanda Montenegro.

Opiniões políticas à parte (porque, como qualquer brasileiro, eu tenho muitas!), vamos focar esta matéria em “A Vida Invisível”, que retrata brilhantemente uma geração de mulheres que sofreu pelos preconceitos de uma sociedade retrógrada.

Apesar de terem tantos sonhos, as irmãs Eurídice e Guida vivem vidas invisíveis, fechadas por suas obrigações sociais e morais. Mesmo sem muita tecnologia ou recursos financeiros, “A Vida Invisível” tem excelência em fotografia e roteiro. Mais do que o possível reencontro de Eurídice e Guida, o filme retrata o usual comportamento de brasileiros que abandonam seus sonhos para viver em prol dos familiares e que deixam de lado sua independência para obedecer às regras impostas pela sociedade.

Obviamente, a presença de Fernanda Montenegro na produção indicada ao Oscar em 1998 e também na possível indicada deste ano não é coincidência: são pouquíssimos minutos da atriz na tela, mas sua presença é o diferencial do filme inteiro. Fernanda emociona, magoa e transparece todas as dores de sua personagem durante a vida. A presença dela na história só pode ser descrita como a presença de Fernanda Montenegro.

Triste, reflexivo e especial, o filme “A Vida Invisível” estreia no Brasil em 21 de novembro e é imperdível para qualquer pessoa que goste de cinema. O anúncio dos filmes estrangeiros indicados ao Oscar acontecerá em 13 de janeiro.

Na CAA, em Los Angeles, a exibição de “A Vida Invisível” terminou com uma recepção luxuosa que contou com comida, bebida à vontade, discussões calorosas sobre o filme e até a presença do ator Wagner Moura. Certamente, tudo digno de um futuro concorrente ao Oscar.

 

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