Só uma coisa me impactaria mais que o filme de terror “A Substância” ficar frente a frente com a sua protagonista Demi Moore.
Demi é uma das maiores divas da minha geração, que cresceu com seus icônicos filmes “Sobre Ontem à Noite”, “O Primeiro Ano do resto de nossas Vidas”, entre outros, nos anos 80/90, e, apesar de trabalhar como jornalista de entretenimento há mais de uma década, em LA, e já ter visto muita gente famosa e conhecido muitos dos meus ídolos, eu nunca tinha cruzado com Demi Moore, até uma recente manhã de domingo, quando fui convidada para uma sessão especial do seu novo sucesso, na CAA.
“A Substância” é uma obra impressionante e importante, um daqueles filmes que quando as luzes acendem ninguém levanta, fica aquele burburinho no cinema. Mas, confesso que estar pertinho do meu ídolo adolescente foi maior que o filme. A minha menina de 14 anos, que era obcecado por “Sobre Ontem à Noite”, sucesso que Moore protagonizou com Rob Lowe, em 1986, estava em polvorosa dentro do meu corpo de 52. Daí, o ensaio fotográfico que fiz de Demi, acompanhada de sua fiel escudeira Pilaf, que muito simpática, divertida e querida, conversou sobre “A Substância”, num papo bem alto astral depois da sessão.
Em “A Substância”, Elisabeth Sparkle (Demi Moore) é uma celebridade em declínio que enfrenta uma reviravolta inesperada ao ser demitida de seu programa fitness na televisão. Desesperada por um novo começo, ela decide experimentar uma droga do mercado clandestino que promete replicar suas células, criando temporariamente uma versão mais jovem e aprimorada de si mesma. Agora, a atriz se vê dividida entre suas duas versões (Margaret Qualley), que devem coexistir enquanto navegam pelos desafios da fama e da identidade. “Já sonhou com uma versão melhor de si mesmo? Você. Só que melhor em todos os sentidos. De verdade. Você precisa experimentar este novo produto, A Substância. MUDOU A MINHA VIDA. Ele gera outro você. Um você novo, mais jovem, mais bonito, mais perfeito. E há apenas uma regra: vocês dividem o tempo. Uma semana para você. Uma semana para o novo você. Sete dias para cada um”. Fonte: AdoroCinema
A atuação de Demi Moore nesse thriller, escrito, dirigido, co-editado e co-produzido por Coralie Fargeat, já recebeu indicações a vários prêmios, incluindo o Golden Globes e o Spirit Awards.
O filme é terror e reflete muito bem a questão da baixa autoestima incentivada pela indústria do entretenimento que tende a colocar na geladeira as mulheres maduras, sem contar o julgamento cruel em relação à aparência física em todas as idades.
Aos 62 anos, Demi Moore continua lindíssima, na tela e pessoalmente, como era aos 22 mas, até por isso, as metáforas do filme, que é uma grande crítica às “Hollywoods” do mundo, são ainda mais significativas, já que refletem no seu exterior, o monstro que ela mesma vê em seu interior.
Enquanto meu coração de fã batia forte, Demi Moore compartilhava detalhes desse projeto que, segundo ela mesma, foi diferente de tudo que já tinha feito e um dos mais relevantes da sua carreira.
O Projeto:
“Eu li o roteiro e tive várias, muitas conversas com Coralie (roteirista/diretora). Tive tempo de absorver o projeto, o roteiro estava muito detalhado, tudo muito bem descrito e explicado. Eu sabia que era um filme baseado em experiências pessoais que ela viveu. E, eu me identifiquei de certa forma, especialmente como eu me tratava quando eu era mais jovem, engraçado, até mais que agora, mas eu percebi logo que era muito realista e que muita gente se identificaria com a trajetória da personagem, porque o filme fala da prisão em que as mulheres se colocam, a auto sabotagem, em um formato muito fora da caixa, o que me interessou bastante.
Além disso, eu nunca tinha feito nada parecido, com tão pouco diálogo, porque na maior parte do filme eu estou sozinha, contracenando comigo mesma. Foi desafiador em vários momentos, mas em um bom sentido. Estamos todos muito orgulhosos do resultado e felizes com a resposta dos críticos e do público.”
A personagem
“Minha personagem busca validação na opinião que os outros têm dela. Ela não tem família, não tem amigos, ela está completamente isolada, ela tem uma vida sem troca. Ela nem tem onde buscar um apoio, e isso leva ela a se maltratar tanto, perder completamente a autoestima. Eu pesquisei e me preparei muito para dar a Elizabeth uma estória que vai além do que vimos no filme.”
Maquiagem
“Foram muitas horas na cadeira para ter o resultado que vocês viram na tela, entre 6 e 9 horas. Algumas cenas levaram mais tempo que outras, mas o time do Pierre-Olivier Persin fez um trabalho fantástico com as próteses, e eu tive que aprender a incorporar as próteses, que são bem frágeis, ao meu corpo. Para vocês terem uma ideia, CGU só foi usado em 1 cena, o restante do filme sou eu mesma. Isso é cinema de verdade. *Aplausos*. E o tempo que passei na cadeira também me ajudou muito a entrar naquele novo corpo e incorporar aquela aparência na alma.”
A cena mais difícil
“A cena mais difícil foi a que estou em frente ao espelho esfregando meu rosto, porque foram 15 takes, foi longa e emotiva porque é uma cena em que ela está questionando a si mesma diante do espelho, mostra toda a sua vulnerabilidade, sua insegurança. Essa personagem fez o que muitas mulheres fazem, ela se trancou dentro dela mesma, vivia em uma prisão interior. A gente queria que essa cena fosse autêntica e mostrasse tudo isso, sem diálogo. Foi bem intenso.”
Margaret Qualley
“Ela é demais. Eu a conheço desde pequena, eu trabalhei com a mãe dela (Andy MacDowell) em um dos meus primeiros filmes (O Primeiro Ano do resto das nossas Vidas). Ela é amiga das minhas filhas, então a gente já tinha intimidade, a química estava ali. O que ajudou tanto na trajetória da minha personagem, como na dela. Só foi uma pena que não interagimos mais, a gente adoraria, mas ela está excelente. Fez um trabalho excepcional. Eu adoro a Maggie!”
Dennis Quaid
“Olha, de todas as cenas que são meio “nojentas” no filme, o Dennis comendo camarão daquela forma, realmente impressionou todo mundo. Vocês acreditam que ele comeu de verdade 2 quilos de camarão e com prazer? Ele gostou mesmo. Gente, eu fiquei impressionada. E trabalhar com ele foi divertido, embora no filme seu um personagem representa o pior da indústria que, infelizmente, é mais real do que gostaríamos.”
Carreira
“Ao longo da minha carreira, eu procurei interpretar personagens que tinham alguma característica que eu ainda não tinha encontrado em mim mesma. Procurei fazer personagens fora da caixa, não por provocação, mas para entender e questionar, por exemplo, porque uma mulher é validada pela sua aparência, como é o caso de Elizabeth, em ‘A Substância’. Eu vivo o presente, não sei o que vou fazer amanhã, mas pretendo seguir a trajetória vivendo experiências que me ensinem mais sobre a vida e sobre mim mesma.”
Não sei vocês, mas quando eu admiro um artista, por mais que tente evitar, sempre crio expectativas. Vou dizer que Demi Moore é ainda mais simpática e mais querida do que eu imaginava. Uma fofa da vida. Esse foi um daqueles dias que a realidade provou que pode ser melhor que o sonho. Há anos, eu assisto “Sobre Ontem à Noite” e “St. Elmo’s Fire” uma vez por ano, depois desse encontro com Demi, provavelmente vou ver os filmes mais vezes, um brinde a minha alma jovem e a todos os sonhos que realizamos juntas, como ficar frente a frente com Demi Moore.
Se você nunca assistiu “Sobre Ontem à Noite”, provavelmente você não é da minha geração, mas corre lá que vale a pena conferir:
Agora, “O Primeiro Ano do resto de nossas Vidas”, o título em português de “St. Elmo’s Fire”, é um clássico de Hollywood, gente. Imperdível na lista de qualquer cinéfilo.